domingo, 26 de agosto de 2012

O NÓ DO SEXUALISMO




QUANDO VOCÊ SE ARREBENTA EM MIM

CHEIRANDO MAREZIA

NESTE MAR DE DESEJOS

EU TAMBEM ME ARREBENTO

NUMA ONDA DE PRAZER


QUANDO SOU BANHADA

POR ESTA ÁGUA SALGADA QUE FLUTUA

PELO SEU CORPO ESCORREGADIO

A MARE SOBE, INUNDANDO-ME

E EU ME  MOLHO DE DESEJO POR TI


QUANDO SEUS URRANTES DESEJOS

 SE QUEBRAM EM MIM

ESPARRAMANDO A ESPUMA BRANCA DE SEU PRAZER

NO LEITO DE MEU CORPO

DELEITO-ME


AMACIO E TE ABSORVO

COMO A AREIA DO MAR

TE ACOLHO E TE CONTENHO

COMO SE FOSSE A VALIOSA PÉROLA

NA CONCHA DE MEU CORAÇÃO


O INFINITO PRAZER

QUE MEUS OLHOS NÃO ALCANÇAM

FAZEM VIBRAR MINH’ALMA

COM A EXPLOSÃO

DE TUDO QUE FICOU CONTIDO



O NÓ DO SEXUALISMO


     César era um homem que vivia checando seu poder sexual. Era o famoso garanhão. Por ser um homem bonito, atraente e expert na arte da sedução, todas as mulheres que encontrava se tornavam uma presa sexual fácil. Durante suas relações sexuais, César olhava com orgulho para seu pênis ereto e despejava sobre suas fêmeas porções ilimitadas de seu fértil esperma. Durante anos, César viveu assim, checando seu poder a cada relação e olhando sua própria imagem refletida no espelho que cada mulher apaixonada lhe oferecia. As mulheres se apaixonavam por César, mas nenhuma delas era mais apaixonada por sua imagem do que ele próprio. Ele era um verdadeiro narcisista. Centrado apenas em si, não conseguia enxergar a mulher com a qual copulava. Conferia o seu poder sexual, mas jamais os seus sentimentos, ideias e emoções capazes de construir uma relação afetiva.

César sabia “trepar” como ninguém, só não sabia se relacionar. Em seu círculo machista de amizades, sentia-se o máximo e se comprazia em dizer aos amigos as incontáveis relações que conseguia ter num dia, numa semana ou num mês. Vangloriava-se, inclusive, dos filhos que espalhava pelo mundo em suas incontáveis aventuras sexuais. Fazer filhos era, também, uma forma de poder e de se sentir mais macho. Só não conseguia ser pai, assumir este papel e se sentir como tal. Parecia estar internamente competindo com alguém, só não se dava conta com quem. Quem seria o adversário de César? Com quem César competia? As súditas mulheres com as quais copulava lhe faziam sentir um verdadeiro rei; um rei soberano aparentemente sem conflitos, pois seus conflitos insistiam em ficar escondidos em algum lugar inacessível de seu ser. Mas, um dia, César perdeu a majestade. Como? Umas das mulheres com a qual resolveu copular negou-lhe apresentar seu falso espelho. Diante disto, para onde César iria direcionar seu olhar? Aquela maldita mulher lhe negou a visão de seu pênis ereto e de seu substancial esperma. Naquele dia, a coroa caiu; de rei viveu a posição de miserável. Sua soberania foi substituída pela impotência. E agora? E se todas as mulheres lhe negassem, novamente, o espelho? Da certeza, juntou-se a incerteza e o medo. César preferiu se resguardar, pois jamais poderia experimentar novamente a traumática vivência de não ver seu pênis ereto e despejar seu poder e sua fertilidade no ventre feminino. O feminino antes tão frágil se transformou num espaço ameaçador. Sem ereção, curvou-se para o medo. O medo de enxergar a sua disfunção erétil,  cegou-lhe também para muitas coisas. Não conseguia enxergar o verdadeiro homem que lhe habitava. Sentia estar perdendo o poder em tudo. Produzir, relacionar-se, criar já não era uma tarefa fácil, pelo contrário, parecia praticamente impossível. Com a fantasia do impossível habitando sua mente, tornou-se a cada dia mais impotente e distante de tudo. Afastar-se da realidade era a única forma que conhecia de se preservar. E assim, foi falindo no trabalho, nos relacionamentos, enfim, decretou falência para com a própria vida. Pela primeira vez, experimentou a sensação terrível de não Ter Poder, de não Ser o Poder.

Odiou a mulher que lhe negou o espelho até que teve um sonho. Sonhou que vivia cercado de espelhos. Enxergava apenas a si mesmo. Viveu neste sonho a ilusória satisfação de ser o centro das atenções até que uma criança arremessou sobre seus espelhos uma pedra, estilhaçando-os. César teve ódio daquela criança até olhar bem nos olhos dela, fazendo uma importante descoberta. Aquela criança levada era ele mesmo. Viu que o olhar daquela criança, frágil e carente, pedia algo mais. Quando os espelhos quebraram, César se feriu, mas logo em seguida, olhando ao seu redor, enxergou pela primeira vez um mundo amplo e diversificado. César viu, pela primeira vez, algo mais do que ele próprio e se admirou com sua nova visão de vida. Compreendeu que este novo mundo era, com certeza, um grande desafio; aceitou este desafio sem a intenção de vencer, mas sobretudo, com claras intenções de crescer – Cresceu.

Depois deste sonho, César aprendeu a se relacionar com o mundo que cada mulher carregava dentro de si. Relacionando com este mundo, ele aprendeu muito mais com sua parceira e sobre si mesmo. Aprendendo, sentiu-se mais seguro e forte. Sentindo-se mais seguro e forte, o seu pênis se pôs, novamente,  em posição ereta, próprio de quem se sentia digno de estar vivendo um momento sagrado. Finalmente, passou a despejar não só o seu sêmen mas,  principalmente, toda a satisfação de ter vivenciado uma relação plena e profunda. Hoje, ele não precisa de inúmeras mulheres para se sentir homem; aliás, uma só mulher tornou-se capaz de lhe proporcionar a sua maior conquista. Hoje, seu objetivo não é gozar/ejacular, mas vivenciar e usufruir o amplo universo que lhe habita e que habita sua parceira. Gozar é apenas uma consequência disto tudo.


      Quantas pessoas saem à caça de parceiros como se estivessem competindo com alguém. Hoje é muito comum ouvirmos rapazes e moças exibirem a lista de pessoas que conseguiram caçar numa noite. Beijam e transam compulsivamente, sem qualidade e sem respeito pelo parceiro e por si mesmo. Temem compromissos, se sentem modernos e poderosos frente à promiscuidade. Relacionamento é uma palavra ultrapassada e ao mesmo tempo desconhecida para quem teme envolvimento. Descartam pessoas como se estivessem descartando uma lata vazia de cerveja. Depois de usada, que seja catada por quem gosta de produto reciclável. Que venha mais uma lata nova e cheia de cerveja. Vão se enchendo de parceiros para não ter que enfrentar o próprio vazio. Será que são modernos? As doenças, fruto deste comportamento promíscuo, aumentam, dia após dia, e o sentimento de solidão se esconde por detrás da fachada do liberalismo que exibe sempre um falso sorriso de satisfação. Doença e solidão é sinal de progresso e poder? Será que se trata mesmo de evolução ou de uma regressão aos tempos mais remotos de nossa história? A primeira coisa que a doença nos mostra é a nossa fragilidade e a primeira que nos rouba é o nosso poder.  A capacidade de se relacionar foi um dos principais avanços da humanidade. A aquisição desta capacidade permitiu o desenvolvimento de funções importantes que dá ao homem o atributo de ser humano, dentre elas, os sentimentos e a razão. Na esfera dos sentimentos estamos, gradativamente, desenvolvendo a nossa habilidade para amar, ser solidário, paciente, enfim lutamos para vencer toda a negatividade que nos aproxima de um mundo governado pelos impulsos. Na esfera da razão, estamos aprendendo a ser mais éticos, inteligentes, disciplinados, enfim, a pensar com mais sabedoria.

     Nem todos conseguem evoluir, pois são governados por impulsos de morte que geram todos os desequilíbrios que estamos sujeitos hoje. A revolução sexual só é um passo importante no sentido de permitir uma sexualidade livre, responsável e planejada. Uma revolução sem planejamento vira bagunça. No meio da algazarra, a desorganização prolifera e gera o caos. Em meio ao caos, a libertinagem encontrou terreno fértil para se fantasiar de liberdade e iludir os confusos, os perdidos e os imaturos que transformam a vida numa brincadeira de mau gosto. Brincando de fazer sexo, crianças nascem sem serem desejadas e sem nenhuma estrutura financeira e emocional que possa permitir o desenvolvimento das mesmas. A criança é a base de nossa sociedade. Uma criança violentada gera, concomitantemente, uma sociedade violenta – nosso principal cenário hoje.

      Não se deve conter a força da sexualidade e nem mesmo vivê-la de forma desregrada. É fundamental vive-la com prazer, sem culpa e com responsabilidade. Transar não é sinal de poder; só é poderoso aquele que consegue viver a sua sexualidade de maneira saudável, sem se prejudicar e sem lesar o outro e a sociedade. A vivência de uma sexualidade prazerosa só possível se houver uma relação harmoniosa com o parceiro, com o próprio corpo e com a própria vida.

          O ser humano tem muita dificuldade de viver com moderação. Há um grupo de pessoas que querem viver "tudo" e não se dão conta de que o "tudo" não existe. Na busca deste "tudo" acabam perdendo o "essencial". Lidar com a falta e com a restrição é um grande desafio. Embora não aceitemos, somos seres de falta e ao mesmo tempo, por mais paradoxal que possa parecer, somos seres de infinita abundância. A completude que buscamos é uma mera ilusão e desejo de nosso ego. O nosso ego é como uma criança mimada; quer a realização imediata de todos os nossos desejos. Se atendemos apenas as solicitações de nosso ego, reforçamos a imaturidade desta criança impedindo-a de crescer rumo aos desígnios mais elevados de  nossa alma. Há um outro grupo de pessoas que reverenciam as restrições a todo custo. "Nada pode". Para eles, a energia sexual deve ser contida e reprimida. O moralismo, o desafeto, o puritanismo, culpas e muitos traumas sexuais se escondem por trás destas posturas. Se vivermos a nossa abundância, a busca pela completude ou pela restrição perde o sentido. Na abundância podemos viver o prazer de forma saudável e a moderação de forma tranquila  e serena sem a sensação de estarmos sendo furtados.

      Energia sexual não foi feita para ser reprimida, mas com certeza, para ser bem aproveitada como toda fonte poderosa de energia.  Desperdiça-la, pode gerar uma série de problemas.  Para quem deseja utilizar bem sua energia sexual, preste atenção no exemplo do Pássaro Vermelho e do Curió da história abaixo.


A Fruta do Prazer


     Era uma vez uma árvore carregadinha de cajus deliciosos e hospedeira de um lindo pássaro vermelho, porém, guloso, que jamais se contentava com um caju só, queria todos eles. Pulava de galho em galho bicando um por um sem, no entanto, sentir o verdadeiro sabor de cada um deles. Questionado pelo amigo Curió acerca deste comportamento estranho, respondeu:

−São todos iguais e estão aqui para me satisfazer.  

−Mas, então não seria melhor comer um só? Você estragaria menos os lindos cajus deste pé e permitiria que este alimento fosse compartilhado com outros pássaros que estão também à procura de alimento.

−Quem chega primeiro leva o melhor. Se não são bons caçadores como eu, nada posso fazer. Zombou o Pássaro Vermelho se enchendo de pomba e estufando seu peito.

−Desde quando saber caçar pressupõe acabar com tudo que se vê pela frente? O verdadeiro caçador escolhe a presa certa, aquela que vai decerto sacia-lo. Argumentou o Curió.  

−Pois eu me sacio com todas. Contraverteu o Pássaro Vermelho com ironia.

−Não parece! Questionou o Curió, balançando serenamente a cabecinha de um lado para o outro.

−Por que? Perguntou confuso o Pássaro Vermelho.

−Porque a sua fome parece não ter fim. Você parece, na verdade, um insaciável. Esclareceu o Curió com a firmeza de quem percebe claramente as coisas.

−Acho que você morre de inveja do meu poder. Zombou o Pássaro Vermelho insaciável.
−Poder? Como assim? Perguntou, confuso, o Curió sem conseguir compreende-lo.

−O poder que tenho de caçar os cajus que você não dá conta. Olhe bem para você. Ha quanto tempo está comendo este único caju. Eu já biquei dezenas deles, além das dezenas de goiabas, laranjas, pêssegos e abates que papei só neste dia. Escarneceu o Pássaro Vermelho.

−Qual deles é mais gostoso? Desafiou o amigo Curió com a intenção de conscientiza-lo.

−Como já te disse, é tudo a mesma coisa. Pintou no pedaço, ta no papo! Zombou mais um vez o Pássaro Vermelho fazendo transparecer um certo sentimento de vingança. Parecia querer agredir o mundo com esta postura usurpadora.

−Cuidado para não comer uma fruta estragada. Aliás, é só isto que você sabe fazer com cada uma delas – estraga-las. Coitadas... Se elas, pelo menos, pudessem se defender de você... Vejo que você não possui nenhuma responsabilidade ecológica. Criticou o Curió.

−Responsabilidade ecológica... Que papo mais antigo! O bom mesmo é aproveitar a vida. Completou o Pássaro Vermelho rejeitando claramente as críticas do Curió.

−E desde quando quem tem responsabilidade não aproveita a vida? Parece que seus conceitos estão meio confusos, não acha? Interpelou o Curió.

−Esse papo ta careta demais! Tô fora do pedaço! O Pássaro Vermelho foi saindo, mas antes que levantasse voo o Curió lhe alertou:.

−Dizem que tem um bicho chamado homem que está se comportando assim como você. Dizem, inclusive, que antes dele se tornar a vítima fatal do próprio comportamento inconsequente, nós seremos as primeiras vítimas.

−Então é melhor aproveitar mais ainda a vida. Finalizou com ironia o Pássaro Vermelho.

     O tempo passou e chegou um inverno diferente de todos os invernos anteriores. A escassez era grande e já não havia mais alimento para todos. Milhares de animais morriam, dia após dia, e o desespero tomava conta de todos. A fartura só existia na lembrança, principalmente, daqueles que esbanjaram sem aprender a economizar e valorizar o alimento. Debaixo de uma árvore seca, fincada sobre um solo árido e quebradiço, estava o Pássaro Vermelho, moribundo e irreconhecível, pedindo a todos pássaros que passavam uma migalha de alimento. Passando por ali, o Curió  reconheceu o amigo, mas depois de checar, minuciosamente, se era ele mesmo, se deu conta de que deveria estar enganado. Olhou para suas penas que já não eram as mesmas e para o seu olhar ofuscado, pensando:

−Não!.. Este não pode ser o pássaro vermelho... Este olhar triste e frágil não tem nada haver com aquele olhar arrogante.

Antes que partisse, ouviu uma voz trêmula e abafada suplicando:

−Não conhece mais os amigos? Por favor, me dê um minuto de atenção.

−Amigos? Eu não te conheço. Justificou o Curió.

−Será que fiquei tão irreconhecível assim? Sou o Pássaro Vermelho.

−O que aconteceu com você? Perguntou assustado o Curió.

−Tudo aquilo que você previu um dia e eu não acreditei. Estou morrendo e não consigo caçar uma única fruta para matar a minha fome. Respondeu pesarosamente e com uma verdadeira expressão de arrependimento.

−Mas, você se dizia um excelente caçador. O que fez com que você perdesse a sua habilidade para caçar as dezenas de frutas que caçava anteriormente num único dia? Indagou o Curió.  

−Descobri, tardiamente, que nunca fui um caçador. Não aprendi a procurar meu verdadeiro alimento e valoriza-lo como deveria. Fui, na verdade, um esbanjador daquilo que a natureza me doava com fartura. Será que você poderia me doar, agora, um pequeno pedaço desta fruta preciosa que voce carrega consigo. Perguntou – Hoje, ela vale tanto quanto uma mina de ouro – Lamentou o Pássaro Vermelho, expressando mais do que desejo, uma nítida necessidade de se alimentar para matar a fome que poderia matar o seu corpo.

−Esta fruta vale mais que uma mina de ouro. Vale a minha vida e pode valer a sua, caso eu faça por você aquilo que faltou você fazer por todas as frutas que desperdiçava. Corrigiu o Curió.

−Acho que desperdicei também a minha vida deixando apodrecer dentro de mim o que eu possuía de mais valioso. Emendou o Pássaro Vermelho.

−O que você possuía de mais valioso? Perguntou curioso o sábio Curió.

−A minha capacidade de relacionar com respeito com o outro e comigo mesmo. Respondeu o Pássaro Vermelho denotando profundo discernimento.

−Parece que você aprendeu muita coisa importante... Conjecturou o Curió.

−Espero que não seja tarde demais! Lastimou-se o Pássaro Vermelho.

−Nunca é tarde quando temos coragem de abrir mão de nossa vaidade e usar a nossa humildade como veículo para nos conduzir rumo ao  novo caminho que nos aguarda. Não vou lhe dar um pedaço de minha fruta, mas vou lhe dar algo mais precioso. Vou lhe ensinar a encontrar a fruta preciosa que matará a sua fome trazendo a sua vida de volta. Proferiu o Curió com sabedoria querendo oferecer o máximo de sua generosidade.  

−Eu lhe agradeço, mas estou muito fraco, não consigo mais voar. Justificou o Pássaro Vermelho com pesar.

−Nem sempre a melhor fruta está no topo da árvore. Algumas estão no chão; são arrancadas pelo vento para que possam nutrir aqueles que não podem voar alto. No topo das árvores existem também frutas podres. Você sabe bem disto! Esclareceu o Curió.

−Você tem razão! Eu já ajudei a estragar muitas delas. Admitiu o Pássaro Vermelho com ar de arrependimento.

−Você já se arrependeu e isto já basta! Alimentar a culpa só vai ajudar a estragar  ainda mais o resto de vida que você possui. Vá, levante-se. Viva! Vá à busca de sua fruta. Tenho que ir, pois tenho uma linda família para alimentar. Incentivou o Curió.

−Família? Deve ser bom ter uma família. Refletiu o Pássaro Vermelho demonstrando total falta de conhecimento acerca desta realidade que lhe faltava.  

−Você pode ter uma também. Vá à luta e lembre-se. “A família é como uma fruta. Só será saudável se a semente escolhida for sadia, e por último, se tivermos com ela uma relação saudável. Família é uma só, não dá para ficar descartando como se fosse um lixo. É necessário recicla-la a cada dia com bons exemplos e sentimentos saudáveis”. Alertou o Curió.

−Vá! Não se atrase por minha causa. Obrigado pelo alimento que me deste hoje. Esta conversa me nutriu com o desejo de seguir em frente. O velho Pássaro Vermelho precisava mesmo morrer. Agora poderei renascer e sentir, finalmente, o sabor de cada fruta que eu encontrar em meu caminho. Eu nunca soube distinguir o sabor de uma fruta. Maçãs, laranjas, cajus, ameixas, enfim, todas elas possuíam para mim o mesmo sabor. Perdido no desejo de nada perder, eu perdi a capacidade de apurar meu paladar e sentir o verdadeiro sabor da vida e da fruta do prazer. Mas, não se preocupe, eu aceito o desafio de encontrar o que jamais valorizei no passado. Vou usar, sabiamente, o restinho de energia que me resta para realizar esta nova conquista. Não desperdiçarei este valioso restinho de energia.  Ainda me resta uma esperança. Só tenho a agradecer! Obrigado por tudo! Agradeceu o Pássaro Vermelho se sentindo mais forte para seguir em frente sem carregar em sua nova bagagem as véstias de vítima ou vilão. Com uma bagagem mais leve, conseguiu abrir suas asas e tocar carinhosamente nas asas do amigo lhe dando um afetuoso abraço. .

−Boa sorte! Finalizou o Curió denotando uma grande alegria frente as mudanças do Pássaro Vermelho.

     Os dois se despediram e seguiram em frente; cada qual com  a sua missão e certos de que a sorte alcança quem a busca.


ESPAÇO DE REFLEXAO


     Tem certos ingredientes que somados à nossa sexualidade, além de enriquecê-la, poderão se transformar em um fator decisivo para a nossa saúde bio-psíquica, evolução pessoal e social. Dentre eles, quais fazem parte de sua receita sexual?

(  ) Respeito

(  ) Responsabilidade

(  ) Entrega

(  ) Desejo

(  ) Prazer

(  ) Afetividade

(  )Amor

(  ) Compromisso

(  ) Criatividade

(  )Carinho

(  )Tranquilidade

(  ) Informação

(  ) Auto-conhecimento

(  ) Conhecimento do parceiro

(  )Liberdade

(  )Flexibilidade







segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O NÓ DO PRECONCEITO





QUE IDÉIA É ESTA
QUE NÃO SENDO MINHA
TORNOU-SE A MINHA
MAIS LOUCA OBSESSÃO.

QUE IDÉIA É ESTA
QUE DRIBLA MINHA SABEDORIA
CONDUZINDO MINHA IGNORÂNCIA
RUMO AOS MEUS SÓRDIDOS PRAZERES.

IDÉIA QUE TORNA VERDADEIRO
O QUE É FALSO
TÃO FALSO
QUE FANTASIADO DE CORRETO
ME FAZ ACREDITAR
SER LEI.

LEI ABUTRE
QUE CHEIRA O MAL
DOS MAUS DOMÍNIOS
TORNANDO-ME DOMINADOR
DONO DA FALSIDADE ENGANOSA


FALSIFICADOR DA REALIDADE
DEIXO DE SER
TENDO APENAS IDÉIAS PEQUENAS
PRECONCEBIDAS
QUE CONCEBEM
MEU MEDÍOCRE SER



O NÓ DO PRECONCEITO

Normalina, portadora de todas as qualidades que uma mulher sonha conquistar, tinha um defeito que não era seu, mas dos olhos de quem a observava de maneira preconceituosa e persecutória. A sua bondade, beleza, sensibilidade, inteligência, feminilidade, sensualidade, profissionalismo, espiritualidade e doçura de nada valiam para os cegos de alma que só conseguiam enxergar a cor da sua pele e a sua orientação sexual. Normalina, além de ser negra possuía uma orientação sexual diferente do padrão heterossexual privilegiado por nossa cultura. Apesar de viver discretamente e respeitosamente a sua homossexualidade, nunca fez questão de esconde-la.
Era uma mulher maternal que sonhava ter filhos e educá-los para o amor e respeito ao próximo. Sua família que se fingia de cega para não deparar  e ter que aceitar a orientação sexual da mesma, cobrava insistente: “Você nunca traz seu namorado aqui. Já passou da hora de se casar e ter filhos”.
Normalina sentia-se angustiada por ser forçada a seguir uma norma estabelecida pelo outro, que determinava a hora e a forma como as coisas deveriam ser. A sua norma de nada valia para quem não conseguia respeitar as diferenças. Queria realmente se casar e ter filhos, mas com a pessoa amada e escolhida por si mesma e não pelas pessoas que se julgavam donas da verdade absoluta. Pensava consigo própria: “Como tudo seria bem mais fácil se as pessoas respeitassem a lei da relatividade”. Vítima de regras sociais impostas e injustas, sentia-se impotente para realizar o seu sonho, pois a realização do mesmo não dependia de sua vontade, do seu esforço e de sua busca, mas única e exclusivamente de leis estabelecidas por grupos que se beneficiam das mesmas.
Apesar de ser extremamente espiritualizada, nunca encontrou uma religião que a  aceitasse, de fato. Para se preservar, afastou-se de sua religião de origem e nunca encontrou uma que lhe aceitasse de braços abertos sem questionar a sua orientação sexual. Queria viver a sua espiritualidade livremente sem ter que passar uma vida inteira justificando sua escolha, reparando uma culpa ou uma sujeira que só existia na cabeça do outro. Buscou uma religião livre de preconceito e não a encontrou. No entanto, encontrou dentro de si, um Deus muito parecido consigo mesma – capaz de amar e respeitar incondicionalmente. Passou a acreditar fielmente na lei da ação e reação. Tinha consciência de que não estava fazendo mal a ninguém vivendo a sua homossexualidade e, de que faria muito mal a si mesma vivendo uma heterossexualidade que não lhe pertencia. Sabia que uma das leis divinas para ser feliz é  não se apropriar daquilo que não lhe pertence, e ser, sobretudo, verdadeiro. Desta forma, optou por viver a sua verdade sem roubar de si a sua verdadeira identidade. Jamais usaria um parceiro para comungar uma mentira. Queria estar inteira numa relação, comungando prazeres, verdade e respeito pelo mais profundo ser que nos habita e ao outro. Pagou um alto preço por isto, pois recebeu à partir daí um outro rótulo: “A ateia que não tem Deus no coração”.
E a sua cor? Apesar de viver num país onde a maioria é mestiça ou negra, Normalina se indignava ao deparar-se com olhares que não conseguiam enxergar o negro que corre dentro das veias de nosso corpo social. Doía ouvir frases do tipo: “Negro quando não suja na entrada, suja na saída.” Sabia do esforço que sua família teve que empreender para adquirir status e poder econômico numa sociedade medíocre que prega igualdade negando e desrespeitando as diferenças. Passou uma vida inteira ouvindo preposições a seu respeito ─ É uma linda menina “mas,” é negra. Formou-se, fez cursos de pós-graduação, mestrados, doutorado “e” é negra. São negros, “no entanto”, são ricos. E por aí, vai...─ Aprisionada pelas preposições, desejava mesmo é se libertar delas. Sempre desejou ouvir o que o preconceito silenciou: “É uma menina linda”. “Formou-se, fez cursos de pós-graduação, mestrados e doutorado”. “São ricos”. Apesar de saber que estes últimos denominativos muito valem numa sociedade presa às aparências e muito pouco ao seu espírito libertador,  Normalina os valorizava, não como forma de competição, mas como uma maneira concreta de mostrar àqueles que não conseguem abstrair da realidade o significado  da garra, da capacidade, do dinamismo e da beleza de todos aqueles que lutam nem tanto pela igualdade, mas sobretudo, pelo respeito.
Viver tudo isto nunca foi fácil. Normalina teve que ser muito forte para criar suas próprias normas de conduta. Numa sociedade que prega e reforça o desrespeito, teve que aprender a respeitar quem a desrespeitava, ajudar quem muitas vezes lhe deu as costas, encarar de frente uma maioria cega que jamais conseguiu lhe enxergar de fato, continuar falando mesmo sabendo que nem sempre seria ouvida e, sobretudo, dar conta de “ser” apesar de  viver no seio de uma sociedade que movimenta seus fantoches culturais.

De que maneira você trata as Normalinas da vida? Impondo as suas próprias normas de conduta para que pessoas totalmente diferentes de você tenham obrigatoriedade de segui-las, ou respeitando as diferenças?
Precisamos parar de pregar a igualdade e passar a pregar o respeito. Se nem os dedos de uma mão são iguais aos dedos da outra, como pode um ser humano ser igual ao outro? Até mesmo a igualdade de direitos é relativa. Como pode, por exemplo, um cego competir em pé de igualdade com um indivíduo que possui a visão perfeita? Se ao invés da igualdade, investirmos no respeito às particularidades de cada ser, conseguiremos construir uma sociedade mais justa.
Ser homossexual é certo ou errado? Quantas pessoas buscam esta resposta... Nunca as terão, pois homossexualidade não é uma questão de certo ou errado, é simplesmente uma forma de ser. Muitos diriam: Mas, esta forma de ser não é correta. Merece ser coibida e punida. Eu, no entanto, diria: A quem esta forma de ser ameaça? E a quem a heterossexualidade interessa?  Não estou com isto fazendo nenhuma apologia à homossexualidade; estou apenas defendendo uma forma de ser natural que jamais poderá trazer prejuízos a ninguém, caso seja realmente respeitada.
Ser negro é certo ou errado? Ser negro é também, simplesmente, mais uma forma de ser. Uma forma que chegou a custar o preço da escravidão. A quem o negro ameaçava e a quem a escravidão interessava? Não estou aqui querendo também fazer apologia ao negro, estou apenas, defendendo uma raça que merece o nosso mais profundo respeito. É terrível ter que dizer que o negro merece o nosso respeito, pois isto já deveria ser óbvio e lógico. No entanto, foi necessário criar leis contra o racismo para que o negro pudesse realmente ser respeitado em nosso país e em muitas outras nações, consideradas, inclusive, desenvolvidas. Infelizmente, na ausência de consciência, é necessária a criação de leis para impor limites. Se não vivemos ainda um momento histórico onde o respeito possa brotar naturalmente no coração das pessoas, que ele seja então imposto para preservar a identidade racial, cultural e a moral de alguns grupos étnicos que até então foram expostos à humilhação e a todo  tipo de exploração. A imposição legal não dissipa o preconceito, mas limita o desrespeito disseminado por ele. O ideal não é manter a sujeira que o preconceito representa dentro da própria pessoa que o possui, mas na ausência de outros recursos é bem melhor do que permitir ao preconceituoso infectar o resto da sociedade com seus conceitos medíocres de vida.
Quando se fala em preconceito é comum lembrarmos  do negro e do homossexual, no entanto, o preconceito existe para qualquer pessoa que saia do padrão eleito como ideal em nossa sociedade ou para pessoas que diferem de um determinado grupo . Numa sociedade que possui padrões de beleza calcados na magreza, ser um pouco mais gordo passa a ser um problema. O nosso olhar também passa a ser diferente para pessoas de grupos étnicos, religiosos, sociais, culturais diferentes do nosso. Há uma tendência em acharmos melhor aquilo que se parece conosco e incomodarmos com as diferenças. Diante da diferença, criamos um conceito numa tentativa de compreendê-la. Nem sempre este conceito é bom e correto. Na maioria das vezes, é baseado em referências imaturas e irreais calcadas em experiências negativas com aquele grupo ou em comentários ouvidos sobre o mesmo. Diante disto, corremos o sério risco de desenvolvermos não só um conceito errado do grupo como um todo, como também de manifestarmos a discriminação. O preconceito já é um problema sério que nos afasta de pessoas que poderiam trazer grandes contribuições para a nossa vida; quando acompanhado da discriminação, torna-se um problema ainda maior que dissemina o desrespeito.
Será que você anda sujando o lindo cenário da vida com seu imundo preconceito? Quantas formas de ser ou de vida são vítimas dele? Se quiseres deixar de ser preconceituoso, nunca pergunte se algo é certo ou errado, pergunte apenas  a si mesmo: A quem ameaça e a quem interessa? Não lhe darei esta resposta, pois a sua procura no sentido de alcançá-la determinará a ampliação de sua consciência. Só lhe reservo o direito de saber, que nesta procura irá se deparar com crenças, dogmas, valores e instituições poderosas. Se desejas enxergar o que a sujeira tamponou, siga em frente e interprete a máxima de um grande mestre chamado Jesus que considera o olho a lâmpada do corpo:
“ A lâmpada do corpo é o olho. Portanto, se o teu olho estiver são, todo o teu corpo ficará iluminado; mas se teu olho estiver doente, todo o teu corpo ficará escuro. Pois se a luz que há em ti são trevas, quão grandes serão as trevas!”
Um ser preconceituoso jamais se iluminará, pois a sujeira que obscurece a sua visão não lhe permitirá enxergar a luz no outro onde projeta as suas próprias trevas.
Fomos, desde criança, treinados a enxergar algumas coisas e a cegarmos para outras. Fomos treinados a achar algumas coisas belas e outras feias. Fomos educados para sermos preconceituosos.  E neste condicionamento velado nos afastamos de pessoas e situações que poderiam contribuir muito para o nossos crescimento pessoal e espiritual. Quantas pessoas não conseguem ter atração sexual por um negro ou por um pião de obra? Mas, se o pião de obra e o negro se tornarem poderosos, a visão e o desejo logo mudam e a atração se manifesta. Aprendemos a desejar. Aprendemos a achar feio aquilo que a nossa classe social ou étnica não aprecia. Romper com este aprendizado que se tornou um hábito na vida de muitos não é uma tarefa fácil, exige uma consciência vigilante.
Ser preconceituoso é certo ou errado? A consciência moral e ética de muitas pessoas que se esforçam para destruir o preconceito fora e dentro de si mesmo diria, com certeza, que é errado e, sobretudo, nojento.  No entanto, para quem tem a sua consciência amputada, dificilmente transitará pelo saber que confere a todos o direito de ser respeitado. Não dá para exigir que um cego enxergue e um amputado caminhe. O preconceituoso é, de certa forma, cego e amputado em sua consciência. Cabe a todos nós respeita-los e ajuda-los a transcender esta deficiência. Sendo assim, a história abaixo talvez possa elucidar um pouco mais esta questão para quem insiste em ser cego. E como diz o sábio ditado: “O pior cego é aquele que não quer enxergar”.


A festa galáctica


 À muitos anos à frente, aconteceu uma festa no universo num planeta chamado Evolução. Todos os planetas foram convidados para esta festa que foi organizada pelo grande mestre universal. O intuito deste encontro era favorecer a troca de experiências e conhecimentos que permitiria um grande salto evolutivo aos habitantes de todos os planetas. O grande mestre universal sabia que o relacionamento interplanetário era de suma importância para a expansão da consciência de todos os seres, por isso, organizou esta festa para promover a interação e confraternização entre os povos.
Evolução era um planeta com fama de evoluído. Diante disto, foi escolhido para sediar a festa. Um clima de grande entusiasmo e orgulho tomou conta de todos os habitantes de Evolução, que passaram a se sentir superiores em todos os sentidos. Sentiam-se os mais importantes por terem sido eles os escolhidos, convencendo-se de que poderiam com isso ditar as regras que imperariam sobre a festa. Determinaram uma seleção rigorosa baseada em seus preceitos de superioridade.
O povo de um planeta chamado Terra foi um dos primeiros a serem barrados. Sentindo-se humilhados travaram uma discussão interessante que vale à pena registrar. Talvez ela sirva de exemplo para o passado deste povo. A vida dá muitas voltas e tem uma coisa que não falha – a lei da ação e reação. Toda ação tem uma reação igual e contrária, nem que seja a milhares de anos depois.
—Por que não podemos entrar? Perguntaram os terráqueos.
—Tem um espelho ali na entrada. Responderam os evolutivos com toda ironia.
—Não precisamos de espelhos. Sabemos muito bem quem somos. Somos seres tão dignos de frequentar esta festa quanto vocês. Não há nada em nós que nos desabone.
—A aparência de vocês já é um desabono. Completaram com sarcasmo.
—Somos realmente diferentes de vocês, ou o contrário, tanto faz. Mas isto não é um motivo para nos separar, pelo contrário, deveria ser um motivo a mais para nos unir. As diferenças só acrescentam, jamais subtraem. Desta união poderão nascer novos conhecimentos. As nossas experiências acrescentariam muitas coisas boas à vida de todos vocês e vice versa, acreditamos nós.
—Pois nós não acreditamos em nada que esteja abaixo de nós.
—E desde quando estamos abaixo de vocês? Perguntaram perplexos os terráqueos.
—Desde sempre! Caso contrário, seriam vocês os escolhidos para sediar esta festa e não nós.
—Se foram escolhidos, deveriam ser bons anfitriões ─ Questionou os terráqueos.
—Somos para quem merece e tem cacife para estar ao nosso lado. Arrogou-se  os Evolutivos.
—Acho que não merecemos mesmo estar ao lado de vocês. Merecemos muito mais! Finalizaram os terráqueos.
Os terráqueos saíram humilhados daquele planeta e sem entender como o grande mestre pôde fazer uma escolha tão insensata. Como um planeta tão preconceituoso poderia sediar uma festa tão importante? Sendo o preconceito a maior barreira para a confraternização, esta festa seria, na verdade, uma grande mentira. Revoltados, resolveram, sem nem mesmo marcar uma audiência, ter uma séria conversa com o grande mestre, a mais sábia e respeitável criatura do universo.
—Sejam bem vindos! Já esperava por vocês ─ Exclamou o mestre em tom de acolhimento.
—Como poderia estar nos esperando se nem mesmo marcamos uma audiência com o senhor? Perguntou um dos terráqueos escolhido para presidir o encontro.
—Esqueceu que estás diante de um grande vidente?  Interferiu, um outro terráqueo escolhido para acompanhar todo o processo da discussão.
—Não precisamos ser videntes para prever resultados. Eles estão muito claros, só não vê quem não quer. Fomos barrados na grande festa de confraternização que está acontecendo em Evolução .O que o senhor nos diria a este respeito?
—E qual o problema disto para a vida de vocês. Perguntou o mestre.
—Ora! Fomos humilhados! Eles nos fizeram nos sentir diferentes.
—Mas, vocês são, de fato, diferentes. Pontuou o mestre com firmeza.
—Só nos faltava esta! O nosso grande mestre ter preconceito contra nós. Exclamou com indignação o terráqueo mais revoltado.
—Perceber as diferenças não é sinal de preconceito. Vocês já evoluíram o suficiente para perceber que as diferenças são necessárias para mover o mundo e tornar a vida mais interessante. Justificou o mestre
—Mas eles nos disseram que as nossas diferenças nos fazem seres piores e menos evoluídos do que eles.
—Onde é que está escrito isto? Perguntou o grande mestre.
—Em lugar nenhum, Respondeu o terráqueo convencido.
—Engano seu! Está escrito sim. Interpelou o mestre.
—Se está escrito é porque eles estão certos. Temos então que aceitar a inferioridade que nos foi imposta? Indagou o terráqueo.
—Calma! Nem tudo que está escrito é verdadeiro, ético ou correto. Quem tem sede de poder será sempre o primeiro a escrever ou ditar as regras de um jogo. Entendeu agora?
—Verdade! Quantas leis e teorias escritas por uma minoria perversa serviram apenas para explorar e enfraquecer a humanidade. Refletiu o terráqueo pensando na longa história de evolução da consciência do homem.
—E hoje, vocês não se permitem mais serem ludibriados. Como podem permitir isto logo agora? E, por causa de uma provocação sem sentido? Desafiou o mestre.
—Não posso entender como pudemos cair nesta armadilha novamente. Consentiram os terráqueos.
—Por causa do registro da crença de inferioridade que ainda existe dentro de vocês e que precisa ainda ser limpado. Esclareceu o mestre
—Mas, tem outra coisa que não entendo...Interrompeu um dos terráqueos.
—Diga! Proferiu  o mestre.
—Por que escolheste um planeta tão preconceituoso, portanto, sem condições de ser um bom anfitrião para sediar esta festa?
—Por dois motivos. O primeiro é que eles precisam muito receber a experiência de outros planetas para evoluírem mais. E, o segundo é que só se aprende a ser anfitrião vivendo a experiência de sê-lo. Respondeu sabiamente o mestre.
—Então, eles estão fazendo tudo errado!
—Mas,  a oportunidade de evoluir não lhes foi negada. No passado longínquo, vocês também passaram por esta experiência. O pior é que vocês tinham preconceitos contra vocês mesmos. Relembrou o mestre.
—Ainda bem que superamos tudo isto, pois pude sentir na pele o que muitos terráqueos sentiram a milhares de anos atrás. A sensação de querer fazer parte de um grupo e ser rejeitado é terrível.
—Pior ainda é ter que digerir o desrespeito! Completou o outro amigo terráqueo.
—Infelizmente, eu tenho um outro compromisso e não posso continuar mais aqui com vocês. Mas, só para terminar a nossa conversa, coloquem uma coisa muito importante na cabeça de voces. Tanto o inferno quanto o paraíso tem a sua clientela própria. Se você mora num paraíso, com certeza será barrado no inferno.
—Ainda bem que é assim! Respirou, aliviado, o terráqueo.
E, assim termina mais uma história nossa, porém futura, prestes a acontecer se a gente tiver consciência suficiente para escreve-la.



ESPAÇO DE REFLEXÃO

Há muitas formas de expressarmos o nosso preconceito, algumas vezes de forma direta, discriminatória e agressiva e outras de forma sutil, velada e sem discriminação. É fácil identificarmos o preconceito quando ele é expresso claramente com discriminações desrespeitosas do tipo: “Não me misturo com este tipo de gente”. No entanto, quando ele é velado ou expresso sem desrespeito fica difícil identificarmos a sua presença. Para facilitar esta identificação, basta perceber o nosso constrangimento diante de pessoas vítimas do mesmo ou atentarmos para colocações do tipo:
OBS: as reticências abaixo designam as vítimas do preconceito (negro, gordo, gay, lésbica, pobre, pessoas portadoras de deficiências, inculta, etc)

(  ) Ele é ...,mas é gente boa
(  ) Ele é..., mas é inteligente e competente
(  ) É um... que se deu bem na vida
(  ) Ela se casou com um...
(  ) Não tenho preconceito, mas não sinto atração por...
(  ) ....é um ser humano também
(  ) É um ... bonito
(  ) Eu me casaria com um ..., sim.
(  ) Cuidado, você pode nascer ... na próxima encarnação!
(  ) Todo ... é complicado!
(  ) Ele é tratado com todo respeito, como se não fosse...
(  ) Se eu fosse preconceituoso, eu não teria tantos amigos ...



DESAFIO


Exercício e alongamento para a alma


É necessário muita abertura e flexibilidade para vencer o preconceito:

1)      Identificar o preconceito em voce. Talvez, este seja o exercício mais difícil, pois pressupõe alongar a sua consciência sem medo de distender os seus rígidos padrões, percepções, valores e conceitos da vida
2)      Abrir-se para se relacionar com grupos ou pessoas que rejeita por puro preconceito. Se estiver muito encurtado, esta abertura pode ser dolorosa.
3)      Conviver com estes grupos. Começa aqui a grande malhação. Pode dar uma canseira significativa se voce não estiver ainda em forma – uma forma acolhedora que lhe permita vestir o que não lhe cabia antes.
4)      Perceber as diferenças e as semelhanças. Só o espelho da alma pode lhe mostrar isto sem distorções. O espelho do ego cria uma distorção preconceituosa.
5)      Aprender com as diferenças e valoriza-las, ao invés de cair na armadilha de querer provar quem é melhor ou pior; certo ou errado. Quem chega nesta fase além de conquistar uma aparência mais bonita, conquista algo mais importante – FORÇA.
6)      ConVIVER  ou VIVER com,  passa à partir desta fase ser a atividade preferida e indispensável  para se sentir em forma


BOA DICA


Assista o filme "Orações para Bobby" que retrata o drama enfrentado por uma família tomada pelo fanatismo religioso diante da homossexualidade de um dos filhos. Infelizmente, o amor nem sempre vence a ignorância e o preconceito. Vale à pena assistir! Clique no link abaixo.