terça-feira, 29 de maio de 2012

NÓ DO ESTRESSE


O BARULHO DO MUNDO

SILENCIA MINHA ALMA

SILÊNCIO VAZIO

REPLETO DE ANGÚSTIA

QUE IMPLODE

ESTRAÇALHANDO MEU CORAÇÃO

QUE AINDA BATE FORTE

PULSANDO DESEJOS DE PAZ




O BARULHO DO MUNDO

ENSURDECE AS MINHAS CERTEZAS

PREENCHENDO-ME COM DÚVIDAS

QUE NÃO QUEREM SE CALAR

REPLETA DO QUE DEVO VOMITAR

SINTO NÁUSEA

DESTE MUNDO LOUCO

QUE DESEJO TRANSFORMAR




NO MEU MUNDO SEM BARULHO

RECANTO DE MINHA ALMA

ESCUTO O SUSSURRO DAS ÁGUAS

O CANTO DOS PÁSSAROS

O ASSOVIO DO VENTO

SILÊNCIO GOSTOSO

REPLETO DE SOM

OM!





A MULTIDÃO NO BARULHO DO MUNDO

SE ESBARRA E TORCE O NARIZ

COM A PRÓPRIA SOMBRA SE ASSOMBRA

ATRAVESSA A RUA

OLHANDO PRO CHÃO

TEMENDO TROPEÇAR NA PRESSA

QUE FAZ DO TEMPO

UM CONTRATEMPO SEM FIM




NO MEU MUNDO SEM BARULHO

NÃO ESCUTO O BARULHO DO MUNDO

O BARULHO AQUI É BOM

BARULHO SEM BARULHO

BARULHO SILENCIOSO

QUE NINA MINHAS ÂNSIAS

ADORMECENDO-ME E FAZENDO-ME DESPERTAR

COM O TOQUE TRANQUILO DO MEU CORAÇÃO





LEVO PARA O BARULHO DO MUNDO

O SILÊNCIO DO MEU MUNDO SEM BARULHO

TRANSFORMANDO A DISTÂNCIA ENTRE ELES

NUMA COMPLEMENTARIEDADE

QUE INCITA MEU DESEJO DE BIGAMIA

VIVER LÁ E CÁ

COPULANDO COM OS PRAZERES

QUE SABIAMENTE CADA UM OFERECE.





O NÓ DO ESTRESSSE




Raul procurou-me pela segunda vez, encaminhado pelo psiquiatra, para tratar de uma depressão, consequência de um estresse crônico. Na primeira vez que apareceu ao meu consultório, não retornou para uma segunda sessão acreditando que conseguiria se negligenciar por mais algum tempo. Na segunda, chegou totalmente debilitado acometido por uma depressão, problemas sérios de pressão, disfunção erétil,  disfonia  e convalescente de uma cirurgia de redução do estômago.   Raul  sempre foi um homem batalhador e muito ambicioso. O seu lema era vencer todas as batalhas da vida e conquistar, cada vez mais,  território. A vida de Raul se parecia um pouco com a vida destes países que vivem em guerra. E, como toda guerra é estressante e deixa marcas profundas, Raul acabou se tornando uma vítima de si mesmo. Sempre lutou para ganhar território no mundo dos negócios. Sua munição mais importante eram os incontáveis cursos, transações financeiras, aquisições imobiliárias, enfim, tudo que pudesse transformá-lo num grande homem num mundo capitalista. No entanto, quanto mais adquiria, mais despesa contraía, pois para quem é honesto, tudo que se compra, se paga e tudo que se paga é por intermédio do dinheiro adquirido através de muito trabalho, às vezes,  duro, pesado e competitivo. Raul foi crescendo e quanto maior se tornava, mais vazio se sentia. Para preencher o seu vazio, se dedicava ao trabalho com um afinco obsessivo. Colecionava compromissos, só não tinha compromisso com sua vida pessoal que era um fracasso. A saúde e a família desabaram-se.

Depois do desabamento daquilo que esqueceu de construir e preservar, a vida financeira de Raul também começou a desmoronar. Atolou-se em dívidas e se viu, repentinamente, ameaçado de perder parte de seu patrimônio. Que saída teria agora? Teve que decretar falência a si próprio; falência de seus valores, de seus conceitos, de uma vida que não lhe cabia mais.

Afônico, sem voz para ser ouvido pelos empregados, esposa e até mesmo por mim, teve que reaprender uma nova linguagem. Ouvir primeiro a linguagem de seu corpo para depois resgatar a sua fala foi um grande desafio. Aceitou este e vários outros desafios importantes, como por exemplo, resgatar valores importantes até então desprezados e um saudável estilo de vida. Começou a praticar exercícios físicos, yoga e terapia. Separava tempo para o lazer, família e amigos. O trabalho e os estudos não deixaram de ser importantes, no entanto, tinham o seu lugar definido e não ocupavam mais todo o espaço da sua vida. Estruturando-se de uma maneira diferente, a sua ambição foi diminuindo. Adquirir coisas ou status já não era mais tão importante. Sabia que ter muitas coisas implicava em ter muitas despesas e estresse. O que mais queria agora era tranqüilidade e a prazerosa sensação de sentir profundamente a vida.

Saiu da guerra com a consciência de que deveria estar sempre vigilante para não ser reconvocado a lutar como soldado fantoche desta devoradora sociedade capitalista.



Nem toda história de estresse tem um final feliz como a de Raul. Já trabalhei histórias com finais trágicos. Nem todo mundo deseja sair da guerra e aceitar os desafios que Raul aceitou. Alguns morrem ou enlouquecem como muitos soldados ao voltarem de uma guerra sangrenta.

Há muitas maneiras de se estressar. Talvez seja necessário definir o que é estresse. O dicionário Aurélio nos dá uma boa definição: “Conjunto de reações do organismo a agressões de ordem física, psíquica, infecciosa, e outras, capazes de perturbar-lhe a homeostase”.

O estresse quebra o nosso equilíbrio e a quebra deste equilíbrio gera uma infinidade de doenças que podem levar, inclusive, à morte. Ninguém tem depressão, síndrome do pânico, infartos ou uma série de outras enfermidades sem motivo. Por trás delas há um estresse nem sempre perceptível, pois muitos insistem em mantê-lo oculto para evitar as mudanças radicais de vida que lhe serão solicitadas para o resgate da saúde. E por trás do estresse, existe alguma coisa? Se o estresse já é omitido por muitos, imaginem esta outra coisa que se esconde por detrás do mesmo. Que coisa é esta? Talvez seja interessante personificar esta coisa com dois personagens – o senhor e o escravo.

O escravo está sempre sendo obrigado a executar tarefas árduas e cansativas nem sempre condizentes com seu real interesse. É explorado ao máximo e seus direitos e limites totalmente desrespeitados. O escravo não consegue se impor ou fazer valer a sua vontade, pois o direito de ter direitos lhe foi negado. Não tem poder de mudar a sua vida, pois o direito à vida lhe foi recusado. A menos que se torne um marginal ou um revolucionário, o escravo não tem como fugir da sina que lhe foi imposta. Basta ao escravo lutar pela sua sobrevivência.

Na nossa sociedade há muitos escravos embora a escravidão já tenha sido abolida a mais de 100 anos. Esta escravidão estressa milhões de brasileiros condenados a uma vida desumana. Só o respeito pela nossa humanidade nos livraria deste estresse. Numa sociedade onde alguns jogam comida fora e muitos a retiram do lixo; onde alguns possuem dezenas de moradias e muitos dormem ao alento; onde alguns não encontram no guarda-roupa espaço para os vestuários e muitos morrem de frio; onde alguns são marajás e muitos não possuem emprego; onde alguns cursam as melhores escolas do exterior e muitos não encontram vagas na escola pública; numa sociedade assim, não há lugar para a tranqüilidade, para o equilíbrio e para a harmonia. Se a tranqüilidade não encontra seu espaço, a violência há de encontrar facilmente. O medo da violência, o medo da falta de tudo aquilo que nos é essencial gera um estresse significativo em todos nós. E, se não sou violentado pela estrutura desigual e desumana de nossa sociedade, temo, no mínimo, ser violentado pelo produto marginal que esta estrutura gera.

Os escravos são a maioria; e o senhor? O senhor é o dono e deseja ser cada vez mais dono de tudo. É dono, inclusive, dos escravos. Não luta pela sobrevivência, mas luta, incessantemente, para manter o seu poder e não vir a se tornar um dia escravo de alguém. A sua ambição lhe permite ampliar as suas posses materiais, mas lhe torna um escravo de um ego faminto por mais poder. Assim ,  o senhor é também escravo  e como todo escravo, se estressa.

Qualquer tipo de escravidão estressa. A nossa sociedade capitalista criou seus escravos pobres e ricos. Todos eles são vítimas certas do estresse que gerará incontáveis doenças, que por sua vez, gerará muito dinheiro para a indústria farmacêutica, para as indústrias terapêuticas, alimentícias, de lazer e por aí vai. A conta da farmácia, do analista, do supermercado, da academia vai ficando tão grande a ponto de gerar um outro estresse: “Como vou pagar tudo isto? Endividei! Socorro!” Contas, dívidas, faturas, passou a ser a grande preocupação de muitos brasileiros. Poder pagar as contas no final do mês tornou-se o mais importante e, até mesmo, o único objetivo de vida para a maioria. “Serei feliz, viverei em paz, serei respeitado e me sentirei realizado se eu puder pagar as minhas contas.” Felicidade, paz, realização tem se vinculado ao dinheiro e poucos sabem como alcançá-las de outra maneira.

O pobre pensa que se ficar rico não terá mais estresse. Se fosse assim, o rico não estressaria. O dinheiro não é a solução, no entanto, corremos atrás dele e quanto mais corremos, mais cansados ficamos. Não quero dizer com isto que o dinheiro não seja importante. Numa sociedade capitalista ele é fundamental. Precisamos, no entanto, aprender a administrá-lo. Já é um grande passo aprender a viver com o que temos, ao invés de viver a incômoda frustração de desejar sempre o que não podemos ter num determinado momento. Aprender a SER feliz ao invés de procurar TER alguma coisa para ser feliz é o grande desafio deste próximo milênio.

Não é só a luta pelo dinheiro que estressa; o progresso também. O progresso trouxe coisas boas, mas a nossa incompetência para administrá-lo trouxe a todos nós desequilíbrios marcantes. Somos sufocados pela poluição auditiva, visual e do ar. O excesso de informações facilitadas por esta era da informática tem deixado o nosso cérebro maluco sem saber o que deletar. A facilidade de adquirir um meio de transporte tornou o trânsito nas grandes cidades um caos. Muitos não abrem mão do conforto do próprio veículo, mesmo que para isto tenham que ficar horas congestionados num trânsito infernal. Até o lazer pode se tornar estressante. Quantas pessoas se submetem a engarrafamentos terríveis nas estradas transformando um passeio que deveria ter sido agradável num final de semana irritante. Outros, tornam-se vítimas de sérios acidentes em função do estresse que deixa muitos motoristas irritados, impacientes, intolerantes e consequentemente, imprudentes.

O estresse parece estar por todos os lados, mas se tomarmos consciência dos mecanismos geradores do mesmo ele não poderá estar num lugar muito especial: dentro da gente mesmo. A conquista deste lugar pressupõe uma mudança de consciência. Toda mudança de consciência é um processo que pode durar décadas ou milênios. A consciência social não depende apenas de você, por isso é um pouco mais demorada. Mas, nunca se esqueça que você é parte integrante deste processo. Se você falhar, a transformação se estagna. No entanto, enquanto você estiver operando esta mudança de consciência dentro de si mesmo, muitas coisas boas acontecerão. E, o mais importante — a sua consciência estará tranquila favorecendo seu processo de cura.

Uma vida plena só poderá ser alcançada quando tomarmos  consciência de que não precisamos ter tudo, saber tudo ou estar em todos os lugares. Precisamos apenas ter a nós mesmos, saber o que nos é realmente essencial e estar onde se encontra o nosso coração.

Se você não estendeu como se faz isto, a historinha do Aquário e do Mar talvez lhe ensine os primeiros passos neste sentido.




O Aquário e o Mar



Miúdo, era um peixinho deveras miúdo que morava dentro de um aquário relativamente grande. Omar era um outro peixinho, não tão miúdo, mas não tão grande quanto o mar que habitava. Não se sabe como, talvez por telepatia, os dois travaram, repentinamente, uma interessante conversa.

─Como você suporta viver num lugar tão apertado? Perguntou Omar incomodado com o habitat de Miúdo.

─Eu é que pergunto. Como é que você tem coragem de viver num lugar tão grande e cheio de perigos?

─Perigos existem em toda parte. Rebateu Omar.

─Com certeza, mas o perigo aqui é bem menor ─ Sustentou Miúdo ─ Não há nenhum peixe grande que possa me devorar. Continuou.

─ Mas há gatos, crianças maldosas e até mesmo a chance de seu dono esquecer de lhe alimentar e trocar a sua água. Você já pensou como seria terrível morrer de fome e numa água totalmente poluída e sem oxigênio? Ironizou Omar.

─ Da poluição você não está livre. O homem com seus grandes navios e indústrias poderia também poluir o mar. Você correria o mesmo risco que corro – Apontando para uma televisão de 40 polegadas bem à frente de seu aquário, continuou - Já ouvi dezenas de noticiários relatando poluições de rios e mares que mataram toneladas de peixes. Quando vejo estas notícias agradeço a Deus pelo meu aquário. Suspirou Miúdo

─Posso até morrer numa situação destas, mas tenho mais chances de fugir.

─Fugir? Se vocês não dão conta de fugir nem dos anzóis e das redes... Ironizou Miúdo.

─O fato é todos nós temos que morrer um dia. Pelo menos eu morrerei sabendo o que é liberdade.

─ E cheio de adrenalina no sangue. Interrompeu, Miúdo, ironicamente.

─ E você. O que tem neste sangue? Se é que tem algum. Criticou Omar com severidade.

─ Não precisa apelar! Eu vivo tranquilo sem me preocupar com os tubarões, anzóis e redes. Procuro também não pensar nos gatos e nem mesmo numa possível negligência de meu dono. Meus poucos amigos me bastam, formamos uma bela família e a proteção é tudo que preciso. No meu mundo me sinto protegido. Nunca me assustei com nada. Vivo constantemente relaxado. Medito grande parte do dia. Aliás, me sinto um verdadeiro Buda.

─ Buda. Que piada! Não me faça rir. Irrompeu Omar numa grande gargalhada.

─ Não precisamos de muito para nos sentirmos iluminados. Precisamos apenas de paz. Ressaltou, Miúdo, gesticulando tranquilamente as suas nadadeiras. 

─A iluminação só acontece para quem é livre. Você não é e nem mesmo os seus amigos. Olhe a cara de tristeza e desânimo deles. Tem gente que não quer enxergar a verdade!

─ Muitos são realmente tristes, mas eu me sinto feliz e o mais importante ─ Sou livre! Você também não consegue enxergar uma verdade que fuja dos padrões de felicidade estabelecidos por você. Censurou Miúdo desafiando Omar a pensar mais em seus padrões de vida.

Omar parou pensativo e de certa forma surpreso com a colocação daquele peixinho, até aquele momento, menosprezado por ele. Nunca parara para pensar neste assunto. Percebeu que faltava mobilidade em sua mente para pensar diferente, apesar do amplo espaço que habitava. Era um toque interessante. Pensou consigo mesmo – Como este peixe que nunca saíra do aquário podia ter tanta sabedoria? Mas, mesmo admirado, preferiu continuar desafiando-o.

 ─Como pode ser livre preso dentro de um aquário?

 ─Me sinto livre no meu mundo. Não me sinto obrigado a estar aqui. Nasci aqui e este é o meu lar. Amo-o acima de tudo. No seu mundo eu me sentiria aprisionado. Estaria sempre ansioso à espera de um tubarão ou peixe grande que pudesse me devorar. Nadaria sempre desconfiado olhando para os lados. Liberdade sem tranquilidade não existe, pois me sentiria um escravo dos perigos que me rondariam a todo o momento.

─ Mas eu não me sinto um escravo dos perigos. Deve haver algo errado com você. Nado tranquilamente sem temer os tubarões. Aprendi a me defender nos momentos em que as situações exigirem e não antes delas acontecerem. Talvez aí, neste mundinho apertado, onde eu não tivesse para onde fugir ou me esconder, talvez aí, eu pudesse me sentir inseguro, ansioso e preocupado. Temeria os gatos e até mesmo a possibilidade de meu aquário se espatifar.

─Eu também aprendi a agir assim como você, porém aqui no meu mundo. Não temo gatos e nem mesmo a remota possibilidade do meu aquário explodir.

─Acho então, que tudo é uma questão de opção de vida. Vivemos bem em mundos totalmente diferentes. Talvez não tenha um mundo melhor ou pior do que o outro. Acho que a grande sabedoria é saber viver bem, seja lá onde for; gostar de onde vivemos sem o incômodo desejo ou obrigação de viver em outro lugar que não seja o nosso ─ Ou melhor ainda, onde o nosso coração não esteja. Concluiu Omar.

─Pode ser. Concordou Miúdo

─Então, estamos quites. Ninguém é mais ou menos feliz do que o outro. Estamos satisfeitos e é isto que importa. Tenho que admitir que muitos peixes neste mundo maravilhoso que vivo parecem não enxergar a beleza. Vivem reclamando e buscando um padrão de vida que não existe aqui e talvez em lugar nenhum.

─Isto acontece aqui também. Como você mesmo pôde observar, a maioria dos peixes que vivem dentro deste aquário está triste. Se a possibilidade do mar não existe para eles, o melhor é aprender a viver bem com aquilo que o aquário oferece. No entanto, eles parecem não perceber isto.

─Mas, ás vezes me pergunto se eles não estão certos. Talvez, conseguissem chegar ao mar se desejassem ardentemente e lutassem para isto.

─A luta aqui seria improdutiva. Só levaria ao estresse.

─Estresse? O que é isto?

─Outro dia assisti um noticiário muito interessante sobre o assunto. Dizem que o estresse é um distúrbio que nos provoca exaustão e falta e energia.

─Como isto acontece? Perguntou Omar cheio de curiosidade, pois apesar de nunca ter ouvido falar deste assunto, já observara muitos peixes em seu mundo com estes sintomas.

─Deve ser por insatisfação. Estão sempre buscando, buscando, buscando... Quando encontram aquilo que buscam, nasce uma outra insatisfação para fazê-los buscar mais. E assim, viver vai se tornado uma tarefa muito difícil.

─Mas, viver não é uma tarefa, é uma dádiva. Questionou Omar.

─É uma dádiva somente para aqueles que conseguem enxergar a fartura que a vida nos oferece. A maioria só enxerga a falta e vivem buscando algo que possa preenchê-la. Salientou Miúdo.

─Talvez por isso consigamos ser felizes em nosso mundo. Estamos satisfeitos com a fartura que o nosso mundo oferece, apesar de serem dois mundos completamente diferentes.

─Acho que não teremos esta doença. Suspirou Miúdo sentindo-se bem aliviado.

─Então é melhor pararmos a nossa conversa por aqui antes que passemos a desejar o mundo do outro. Desejo demais estressa! Prefiro me deixar levar pela corrente do mar, pois nadar contra a maré deixa a gente com uma cara muito feia. Tem um amigo meu que entortou todo.

─E, não sou eu que irei criar corrente onde não tem. Nesse meu mundo sem corrente, o gostoso é se entregar e relaxar nos braços da mãe água. Por isso, estou sempre de cara boa.

─Agora eu entendo... Lutar para chegar a lugar nenhum só faria os peixinhos daí agitar a mãe água. O máximo que conseguiriam seria este tal estresse que você falou.

─È isto aí. Lembre-se de uma coisa muito importante. O melhor lugar é aqui e agora.

Repentinamente, a conversa acabou e eu me vi aqui confusa sem entender como pude presenciar este bate papo tão proveitoso. Fazendo um grande mergulho nas profundezas de meu ser, descobri o aquário e o mar dentro de mim. Por alguns minutos fiquei a pensar qual deles eu habito, mas descobri que eles é que habitam a minha alma. Por outro lado, descobri também que eles não poderiam estar vazios, assim, observando um pouco mais, pude encontrar neles, imersos, o meu dia a dia.




ESPAÇO DE REFLEXÃO


Talvez, você precise fazer muita coisa para prevenir ou se livrar do estresse. Marque abaixo tudo aquilo que precisa ser cultivado para que você possa colher uma vida saudável. Perceba cada atitude abaixo como uma valiosa semente que, se germinada, faz brotar a saúde e o bem estar. Se não souber como cultivar estas sementes, busque ajuda. Só não continue assumindo uma postura de negligência para consigo mesmo capaz de transformar sua vida num terreno árido e improdutivo.



(   ) Preciso ter mais compromisso comigo mesmo

(   ) Preciso identificar melhor os meus conflitos ou aquilo que me incomoda

(   ) Preciso aprender a expressar meus sentimentos

(   ) Preciso aprender a lidar de forma positiva com meus sentimentos negativos

(   ) Preciso me concentrar no presente

(   ) Preciso reconhecer e respeitar os meus limites

(   ) Preciso desenvolver a capacidade de priorizar

(   ) Preciso ser mais flexível

(   ) Preciso investir  na qualidade de vida, valorizando mais minhas férias e lazer

(   ) Preciso fazer exercícios físicos

(   ) Preciso exercitar técnicas de relaxamento, energização e meditação

(   ) Preciso fazer exercícios respiratórios diariamente

(   ) Preciso me alongar

(   ) Preciso valorizar a minha liberdade

(   ) Preciso viver mais a minha afetividade

(   ) Preciso viver com mais prazer e qualidade a minha sexualidade

(   ) Preciso estar mais junto de minha família para melhorar o nosso relacionamento

(   ) Preciso conviver mais com meus amigos

(   ) Preciso desenvolver algum hobby

(   ) Preciso participar de encontros ou reuniões com grupos de crescimento e diversão

(   ) Preciso ser menos ambicioso(a)

(   ) Preciso traçar metas de vida mais realistas e menos estressantes

(   ) Preciso perceber e valorizar mais os meus ganhos e progressos

(   ) Preciso aprender a lidar com as minhas perdas, com meus erros e fracassos

(   ) Preciso desenvolver alguma atividade que eu julgue construtiva

(   ) Preciso evitar o excesso de informações negativas

(   ) Preciso dormir o suficiente

(   ) Preciso de uma alimentação saudável

(   ) Preciso me alimentar sem pressa, sentindo o prazer e o sabor dos alimentos

(   ) Preciso frequentemente usar folhas verdes em minhas refeições

(   ) Preciso respeitar os meus hábitos fisiológicos

(   ) Preciso evitar muita exposição a ambientes artificiais

(   ) Preciso me expor ao sol no início da manhã ou final da tarde

(   ) Preciso não ser tão perfeccionista

(   ) Preciso evitar aquelas pessoas e ambientes negativos que me fazem mal

(   ) Preciso me desintoxicar (fumo, drogas, bebidas, medicamentos, cafeína, refrigerante...)

(   ) Preciso beber mais água (pelo menos dois litros por dia)

(   ) Preciso dominar a minha ansiedade aprendendo esperar e desacelerar

(   ) Preciso ser mais otimista

(   ) Preciso diminuir o ritmo e a intensidade de meus pensamentos

(   ) Preciso melhorar o meu humor, não levar tudo tão a sério

(   ) Preciso parar de reclamar e procurar soluções construtivas para os problemas

(   ) Preciso me sintonizar mais com a minha espiritualidade e poder superior

(   ) Preciso ser menos consumista e desejar menos

(   ) Preciso simplificar a vida e não ser tão exigente

(   ) Preciso dizer “NÃO” quando for preciso. Não querer agradar a todos

(   ) Preciso necessitar menos da aprovação do outro

(   ) Preciso valorizar mais o meu trabalho, a mim e a tudo que faço

(   ) Preciso valorizar a vida e as pequenas coisas que desprezo ou passam desapercebidas

(   ) Preciso, sobretudo, agradecer, ao invés de lamentar

(   ) Preciso entender que “preciso” e pedir ajuda quando for necessário

(   ) Preciso começar. Menos cobrança e mais ação.




DESAFIO



Para cada alternativa acima marcada, escolha uma semente. Plante cada semente num vaso e se dedique a ela da mesma forma que voce irá se dedicar a cada atitude selecionada. Ao cuidar da semente plantada, pense no que ela representa e cuide também, da representação dela em sua vida. Por exemplo, caso marque – “Preciso me alongar”- todas as  vezes que cuidar da semente que representa esta atitude, alongue-se.  Se alguma semente selecionada por voce não germinar, provavelmente  é porque anda se esquecendo não só dela, mas sobretudo de si mesmo.






































segunda-feira, 21 de maio de 2012

O NÓ DO PERFECCIONISMO


QUERIA QUE AO INVÉS DE RUGAS
ENXERGASSE MINHA EXPRESSÃO
AO INVÉS DAS MANCHAS
MEU BRILHO
MAS MESMO NÃO VENDO
MINHA INCONFORTÁVEL FALÊNCIA
O FAREI VER APENAS E SEMPRE
AQUILO QUE VEJO.



 VEJO OS SEUS OLHOS
IMPLANTADOS EM MINHA VISÃO DISTORCIDA
DISTORCIDA DA ALMA
RETORCIDA PELO CORPO QUE ENVELHECE
NO ESPELHO DE MINHA VISÃO MÍOPE
QUE DESEJA QUE VEJA
O QUE EU MESMA NÃO ENXERGO.



QUERO SER O SEU FOCO
MAS COMO POSSO SER
                                    SE DESFOCO A MINHA BELEZA
ATRAVÉS DO DESEJO INALCANÇÁVEL
DE SER A MUSA
DE SEUS INATINGÍVEIS DESEJOS.




O NÓ DO PERFECCIONISMO



Na infância, Aurora pensava que se casaria com um homem que amasse e que lhe amasse muito. Casaria virgem, teria uma lua de mel maravilhosa que duraria alguns anos e teria 5 filhos. Seria dona de casa, como a mãe, e o marido o grande provedor da família, assim como o pai sempre fora.

Aurora imaginava uma vida perfeita dentro dos moldes de perfeição construídos por ela até aquele precoce momento de sua vida. O tempo passou... Já na adolescência algo mudou. Já não queria mais casar virgem e nem mesmo ser dona de casa, mas ainda desejava ter 5 filhos. Desejava seguir uma profissão onde pudesse ganhar também o próprio sustento. Descobriu que a independência financeira era algo muito importante e que poderia se sentir mais útil participando das despesas da casa. Ainda desejava ter apenas um único homem em sua vida – o grande amor de sua vida. O tempo passou... Viveu várias desilusões amorosas. Passou a não desejar mais ter apenas um homem, e nem poderia, pois até aquele momento já tivera passado por inúmeros relacionamentos. Um dia, finalmente, encontrou o seu grande príncipe encantado - Um homem que a amava plenamente e que fazia todas as suas vontades. Casaram antes de Aurora se formar, pois se engravidou sem planejamento. Teve que abrir mão da cerimônia e da festa de casamento sempre sonhada, pois além de frustrar toda  família, não contava com recursos financeiros disponíveis para bancar a tão sonhada festa. Teve, simultaneamente, que  desistir da lua de mel tão sonhada – aquela em que o casal não tem ainda a responsabilidade com  filhos. Mas, estava certa que este filho e os próximos lhe trariam muitas alegrias. O estresse foi enorme com o primeiro filho. Muito trabalho com a criança, além das preocupações financeiras. O marido não tinha tempo para  ajuda-la. Por questões financeiras teve que trabalhar durante a semana numa cidade próxima. Só se viam no final da semana. De 5 filhos, Aurora decidiu ter  apenas dois. Um menino e na próxima gravidez uma menina. Daria um espaço bem grande de uma gravidez para a outra para que pudesse se preparar melhor para a segunda. No entanto, a camisinha rasgou e lá estava ela de novo – grávida de seu 2º filho, quando o primeiro possuía ainda 9 meses. Nasceu um outro garoto. O sonho de ter uma menina teve que ser abandonado. O marido, sempre tão presente anteriormente, repentinamente, foi ficando distante. O sonho do casamento eterno foi esfacelado quando descobriu que estava sendo traída. Separou-se. No meio disto tudo, Aurora ainda se sentia feliz. Teve todos os motivos para se sentir uma fracassada, para se deprimir, no entanto, a cada experiência nova se tornava uma mulher cada vez mais forte e dinâmica. Um dia, olhando para trás, percebeu que sua vida fora totalmente diferente de tudo que havia previsto ou desejado inicialmente. No entanto, ainda assim, sentia que a sua vida era maravilhosa, nem melhor e nem pior do que pudera ter sido de uma outra maneira. Era a sua vida; a vida que sua alma precisava, com experiências que pudessem faze-la sentir que era apenas um ser humano e não uma deusa que possuísse o controle de tudo e de todos. Aprendera, estes anos todos,  a ter o maior controle de todos – controle sobre a sua total falta de controle sobre a vida.

Não era mais a criança imatura, a adolescente sonhadora e nem mesmo o adulto controlador. Era apenas uma mulher vivendo a experiência de ser ela mesma, aceitando todas as experiências que atraía para si mesma. Jamais se sentiu vítima de alguém ou do destino. Tinha muito orgulho de dizer para si mesma: “Eu construo o meu destino aceitando que a matéria prima me seja oferecida pela vida. Não tenho controle sobre o material que me será oferecido, mas tenho o poder de maneja-lo da melhor maneira possível”.


Construímos quadros perfeitos de experiências de vida que ficam, no entanto, pendurados na parede de nossa mente, apenas para serem visualizados, pois nem sempre é possível vivencia-los plenamente. A vida nem sempre segue o trajeto perfeito que a gente estabelece. Quem não possui flexibilidade para mudar a direção e encontrar o encanto numa outra via acaba se frustrando. Quem não dá conta de lidar com a imperfeição, aceita-la para poder, posteriormente, transforma-la, vai viver de ilusão − Ilusão de que pode ser, ter ou fazer o impossível. Assim,  jamais se contenta com o possível e quase nada realiza. Ter a flexibilidade de aceitar uma outra vida, nem sempre apreciada pelo nosso ego, nos liberta de uma vida doentia ou morta. Viver em função de expectativas irreais só nos traz frustrações. O maior erro é perseguir a perfeição ou uma vida certinha que só existe apenas nossa cabeça. A mulher deseja ser a musa, quando pode ser uma mulher maravilhosa. O homem deseja ser o super-herói quando pode ser um homem de verdade. Desejamos ser o único foco  quando podemos ser mais um estímulo interessante na vida do outro. Desejamos ter tudo quando podemos ter muito ou extrair tudo e o muito do pouco. Desejamos não errar nunca quando podemos vibrar com nossos acertos, Desejamos ser  o irreal quando podemos ser a realidade. Desejamos ser o inatingível quando precisamos ser, a todo o momento, atingidos para nos sentirmos mais vivos.

O perfeccionista nunca consegue chegar a lugar algum, pois sua meta está sempre além – além daquilo que pode ser alcançado naquele momento. Desenvolve, assim, um olhar negativo sobre si mesmo, sobre o outro e sobre tudo ao seu redor. Está sempre insatisfeito à espera de algo mais. Há sempre uma falta a ser preenchida. Nada é suficiente. Projeta sobre o outro as suas insatisfações. Enxerga apenas o limite do outro e acredita que este o vê com os mesmos olhos. Cria, com isso, inúmeros conflitos e problemas de relacionamento, pois cobra de si e do outro mais do que este tem a oferecer. A sua visão distorcida faz tudo ficar distorcido e carente de ser aprimorado. No entanto, não deseja aprimorar, quer a coisa perfeita, pronta, sem arestas a ser lapidadas.

É saudável querermos fazer as coisas bem feitas, dentro dos limites normais de perfeição. Todavia, é doentio desvalorizar o bem feito por desejar o inatingível. Vivemos um processo de evolução. O nosso empenho em aprimorar a nossa natureza é sempre uma virtude que deve ser perseguida. No entanto, é necessário respeitar o processo evolutivo de cada ser e de tudo que nos rodeia. O perfeito e acabado jamais existirá. Haverá sempre algo mais a ser aprimorado, porém no seu tempo. O perfeccionista é ansioso. Quer para agora o que pode colher no amanhã. Não respeita o amadurecimento natural das coisas. Quer que tudo já esteja perfeitamente amadurecido desrespeitado as regras naturais de evolução.

A Aurora de nossa história, mesmo sonhando com uma vida, aparentemente, perfeita para ela, soube valorizar as mudanças e redirecionar a vida todas as vezes que as circunstâncias assim exigiram. Procurou extrair o melhor de cada experiência, por mais distante dos moldes de perfeição que tenha construído no passado. Soube viver uma vida “perfeita”.  O Yoga possui alguns preceitos básicos para quem deseja alcançar a iluminação. Um deles se chama Santoucha, a arte do contentamento. Aurora soube extrair deste preceito, uma importante diretriz para a sua vida. Aprender a se contentar com o que pode ser, ao invés de lamentar o que não pode é uma atitude iluminada de grande sabedoria. (Clique abaixo para ler um pouco mais sobre este princípio)
http://claudialuizacouto.blogspot.com.br/2012/05/pratica-do-contentamento-santoucha.html
O perfeccionista deveria mudar o seu lema de vida para realmente alcançar a “perfeição”, levando-se em consideração o vislumbre real que esta palavra pode alcançar. Ao invés de “viver da melhor maneira impossível” deveria “viver da melhor maneira possível.”

Para voce que não tolera a imperfeição, Guma e Xambu  talvez possam ensina-lo alguma coisa.



UM MUNDO PERFEITO



Vou lhes contar a história de dois mundos bem diferentes um do outro. O primeiro era o mundo de Xambu, um nobre guerreiro. Para Xambu , o seu mundo era perfeito e instigante.

O segundo era o mundo de Gumã, um cientista que se dedicava à   pesquisa dos nobres sentimentos . Para Gumã, o seu mundo era imperfeito e insuportável.

O mundo de Xambu vivia em guerra e no mundo de Gumã reinava a paz e o amor. Xambu tinha tudo que um guerreiro precisa para viver sua  energia bélica. As desigualdades, a miséria, as injustiças e a crueldade faziam do mundo de Xambu o lugar perfeito para ele exercitar a sua missão de vida e  sentir-se útil e valorizado por aqueles pelos quais lutava. Xambu nunca questionava a ordem  de seu mundo. Sabia, apenas, que deveria lutar contra a desordem. Mesmo sem ter consciência, apreciava a desordem que ordenava, de certa forma, a sua razão de viver.

         Certo dia, Xambu foi convidado a conhecer o mundo de Gumã. Passaria lá uma boa temporada para que pudesse aprender algo novo e inusitado, capacitando-o a levar para o seu mundo as lições de paz, justiça e igualdade de direitos que ali reinavam. Xambu achou uma grande chatice aquele mundo tão organizado e sem problemas, sentia-se ocioso e pouco valorizado, pois não tinha com quem e por quem guerrear. Aproximando-se de Gumã, questionou-o de maneira tosca:

−Seu mundo é muito chato!

−Concordo plenamente – confirmou Gumã.

−Como é que voce consegue viver aqui? Não há o que fazer. Tudo que deve ser feito parece já estar concluído.

−Estou em busca de um sentimento que seja o mais elevado de todos. É necessário ultrapassar a paz e o amor a fim de se conquistar um sentimento ainda mais sublime e perfeito.

−Paz, amor... Esta busca te alimenta? Perguntou Xambu confuso sem entender muito bem o que Gumã realmente pretendia. A busca daquele cientista lhe parecia vaga e sem sentido.

−Só me sinto, a cada dia, mais frustrado. Dá vontade de desistir de tudo! Tem sido muito difícil viver aqui. Eu preferiria estar lá.

−Lá? Onde? Perguntou Xambu confuso sem saber que lugar Gumã se referia.

−Lá; um lugar perfeito onde existe o que eu busco. É horrível ter que conviver aqui com este problema tão grande.

−Mas, o que eu vejo em seu mundo é justamente o contrário. Vejo  falta de problemas. Aqui reina alguma coisa que  deixa seu mundo muito parado, devagar. Se voces tivessem os problemas de meu mundo, talvez, estivessem mais satisfeitos.

−Mas, os problemas geram insatisfação. Pontuou Gumã.

−Não! Os problemas movem o nosso mundo. Se não existissem problemas, solucionada estaria a vida e nada haveria por se fazer. E, eu sou um guerreiro, preciso lutar por um ideal que jamais será alcançado.

−Como assim? Não faz sentido lutar por algo se voce sabe que não se alcançará nunca. Retrucou Gumã.

−O grande sentido é perseguir. Depois de alcançado perde a graça. Por isso, criamos sempre novos problemas para, a partir daí, criarmos novos ideais a serem perseguidos, justificando a nossa permanência nesta vida. Justificou Xambu.

−É muita maluquice o que voce esta falando! Preciso conhecer seu mundo e os seus problemas para entender a lógica de seu raciocínio.

−Será um grande prazer! O meu mundo não é muito longe daqui. Fica do outro lado do seu. Se quiser, posso levar voce agora mesmo.

Xambu levou Gumã  ao seu mundo. Assim que cruzaram a fronteira, entraram na zona de conflito mais perigosa de todo o território. O silêncio do mundo de Gumã foi substituído pelo barulho de explosivos e tiros  que ecoavam por todos os lados. A paisagem verdejante e serena foi substituída por um cinza  árido e sangrento. O olhar tranquilo e brilhante de seu povo foi substituído por um olhar colérico, opaco e desolador. Naquele mundo não havia espaços para a paz e o amor. Onde estariam estes sentimentos num mundo atordoado pelo instinto de morte e destruição? Por que, ao invés de investir na busca de sentimentos nobres, já triviais em seu mundo, aquele povo se limitava a viver valores e sentimentos tão destrutivos? A imperfeição que Gumã  atribuía ao seu mundo era uma perfeição jamais sonhada por aquele povo. A vivência da paz e do amor exigia uma evolução que eles ainda não possuíam. Como esta evolução fazia falta para aquele mundo em guerra! Se eles tivessem consciência dos ganhos que teriam com esta evolução, talvez se comprometeriam mais com a mesma. No entanto, a ignorância não permitia. Diante de tanta precariedade, Gumã passou a valorizar mais a evolução de seu povo. O amor e a paz deixou de ser um sentimento que precisava ser transcendido. Mesmo que houvesse, no cerne deste universo, sentimentos e virtudes mais poderosas, a compreensão de que a paz e o amor não perdem o seu valor e a sua importância por isto, deixou Gumã mais tranquilo. Ele estava perdendo a paz por desejar tanto e por desejar algo maior do que ela. Ele estava deixando de amar por desejar algo maior que o amor. A perda gradativa destes dois sentimentos, gerou, concomitantemente, um conflito interno e uma guerra consigo mesmo. O seu mundo interior já estava ficando bem parecido com o mundo de Xambu. Só depois desta compreensão, Gumã pode alcançar uma paz e um amor maior ainda do que a paz e o amor que ele conhecia . Percebeu, finalmente, que mais importante que transcender estes dois sentimentos, era transcender a si próprio. Que era, sobretudo, mais sábio aperfeiçoar-se do que buscar a perfeição.





ESPAÇO DE REFLEXAO



Selecione 5 situações imperfeitas em sua vida



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Selecione a atitude mais importante que voce deverá tomar para aprimorar estas situações



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Apresente uma justificativa positiva para voce ter que viver, neste momento, esta situação imperfeita



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Selecione o lado bom de cada situação imperfeita que voce esta vivendo



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Se voce alcançasse a perfeição em cada situação, selecione, para cada uma, um aspecto negativo que seria, inevitavelmente, vivenciado



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Depois desta reflexão, talvez voce consiga reconsiderar algumas coisas. Reconsidere-as, pois algumas situações consideradas imperfeitas, depois de resignificadas, poderão se tornar mais amenas, nem tão imperfeitas como, anteriormente, voce julgava.