NO CANTO DAQUELA CALÇADA
TEM SEMPRE UM LIXO
LIXO ABANDONADO QUE MECHE
E REMECHE COM O LUXO QUE A OSTENTA
CALÇADA DESCALÇA DE RESPEITO
CALÇADA DE OLHARES CEGOS
QUE NÃO QUEREM VER
O ENTULHO QUE JOGAMOS FORA
FINGINDO NÃO SER NOSSO
LIXO QUE FEDE A ALIENAÇÃO
DE NOSSA PSEUDO CONSCIÊNCIA
QUE PRECISA SER RECICLADA.
O NÓ DA
VIOLÊNCIA
Já atendi inúmeros clientes violentos ou
vítimas da violência, no entanto, a história que vou contar é, com certeza, uma
história bem conhecida – “a nossa história.”
A criança que
rouba a nossa bolsa ...
O adolescente
que atira e mata...
O traficante
que usa o menor para o crime...
O corrupto de
“colarinho branco” que rouba a nossa nação...
O vandalismo
que golpeia a nossa cidade...
As gangues
que ferem toda e qualquer diversão...
A guerra
civil fantasiada de problema social...
As
autoridades que nos ameaçam muito mais do que nos protegem...
As
verdadeiras autoridades desautorizadas e ameaçadas...
As leis que
punem apenas os mais fracos...
A máfia que
dita as leis...
As balas
perdidas...
O terrorismo
que parecia tão distante...
O psicopata
que mora ao lado...
Os pais que
espancam ou abandonam seus filhos...
Os filhos que
agridem seus pais...
Os casais que
se destroem mutuamente...
Os amigos que
nos passam para trás...
Os profissionais
que nos tratam como mercadorias...
O usuário de
droga que finge não colaborar com o tráfico...
O ser humano
tratando a natureza como objeto...
E, muitos de
nós que ainda finge não fazer parte desta história...
Será que não
temos mesmo nada haver com isto?
Quando é que vamos cair na real? Lemos as más notícias
no jornal ou as assistimos nos telejornais como se fossem apenas uma tragédia
do outro. Entretanto, sentimos esta onda de violência cada vez mais perto de
nós. Sentimos desprotegidos, desamparados e ameaçados a todo o instante. O que
faremos para mudar isto?
Deixar de ler e assistir jornais para desconectar-se
desta cruel realidade?
Reclamar com nossos familiares e vizinhos?
Levar este conflito para a terapia?
Votar em branco?
Comprar um carro blindado?
Colocar vidro escuro no carro?
Não reagir ao assalto?
Andar com colete à prova de bala?
Deitar no chão num tiroteio?
Evitar frequentar ou passar por lugares ditos
perigosos?
Desconfiar de todo mundo?
Andar com pouco dinheiro na bolsa?
Colocar alarme e cerca elétrica em casa?
Morar em condomínios ou em ruas protegidas por
seguranças?
Rezar?
Andar armado e fazer justiça com as próprias mãos?
Contratar um segurança?
Fazer um bom seguro?
Não andar sozinho?
Morar num lugar bem tranquilo onde a violência não
tenha chegado ainda?
Mudar para o exterior?
Não sair de casa?
Não participar de festas ou eventos sociais?
Reivindicar das autoridades mais policiamento nas
ruas?
Não demonstrar ostentação?
Comprar um terreno na lua ou em outro planeta?
Será que tudo isto resolve o problema ou apenas
previne alguns incidentes? Prevenir já é um bom passo, mas prevenções inócuas
só tampam o sol com a peneira. Se a
humanidade deseja merecer a paz deverá, primeiro, aprender a se doar um pouco
mais. Todo merecimento tem por trás dele uma doação anteriormente ofertada. O
que a humanidade tem doado ao mundo? Desrespeito,
com certeza.
Nem sempre está ao nosso lado ou mora debaixo de nosso
teto as pessoas que passam fome, as que não tem acesso a educação, as que morrem
numa guerra sem sentido, a vítima da violência ou de uma bala perdida, a
criança que morre de fome, o indigente, o desempregado, o doente sem
atendimento médico, enfim os oprimidos e desafortunados. Nem sempre o nosso
jardim lembra uma área de desmatamento e a água que a gente bebe e usa fede
esgoto. A gente sabe que tudo isto existe, mas não convivemos e enxergamos, de
fato, esta realidade. Como diz o ditado — “Aquilo que os olhos não veem o
coração não sente”. E, se sentíssemos tudo isto na pele? Será que nossos olhos
ficariam mais abertos? Será que conscientizaríamos que este universo de
problemas e desequilíbrios são criados por todos nós? O que esta infinidade de
pessoas violentadas e sem direito a uma perspectiva digna de vida devem sentir
e desejar? Onde estão firmados os direitos de todas elas? Com certeza, num
livro chamado de Constituição que, no entanto, não constitui o dia a dia delas,
ou o nosso dia a dia, por assim dizer. A revolta é o único direito que nos
sobra, mesmo que internalizada e transformada em doença. Doentes, formamos uma
sociedade doente. A nossa revolta não semeia a paz, a nossa revolta semeia a
violência e é justamente isto que estamos colhendo a todo instante.
Só uma mudança de consciência será capaz de mudar este
cenário. Somos imediatistas, contudo, uma mudança de consciência não ocorre de
um dia para o outro. Inúmeros mestres já pregaram esta mudança a milhares de
anos atrás. Quantos passos conseguimos dar? Alguns, talvez, mas poucos, não o
suficiente para construirmos um mundo equilibrado e saudável.
Violentamos não só o ser humano; violentamos a
natureza, enfim, tudo que nos cerca. Tratamos a natureza como um objeto e não
como sujeito neste universo que abarca infinitas espécies, todas elas
indispensáveis ao equilíbrio do todo. No entanto, o ser humano não se sente
parte; sente-se o Todo Poderoso. Se rebela, a todo momento, contra a lei
universal. A natureza resolveu também se rebelar frente a violência humana e
nem assim grandes nações responsáveis por esta violência se conscientizam da
necessidade de uma mudança. O discurso que ainda prevalece é: “Daqui a dois,
cinco, dez anos a gente conversa melhor sobre este assunto”. E assim, os
grandes líderes vão arrastando o problema para as gerações futuras resolverem.
Ou, bem próximo de todos nós, ouvimos na roda de amigos: “Concordamos que o
problema é sério, mas não podemos fazer nada para mudar a situação”. “Sou um
grão de areia neste universo de problemas. A minha ação não mudaria nada”.
Não podemos ou não queremos agir para
mudar este cenário? Muito dinheiro
deixaria de ser arrecadado por aqueles que agridem o mundo e a vida.
Infelizmente, grande parte da humanidade não possui a mínima consciência
daquilo que está realmente perdendo em prol das migalhas que ganha para
alimentar uma pseudo vida calcada no “ter” a qualquer custo. Queremos dinheiro
e poder, todavia, não percebemos que perdemos a cada dia o direito a vida.
Somos, outrora, comodistas e não atentamos ainda para
o incômodo e mal estar que nos aguarda. Enclausurados pela avareza, pela
inércia e pelo comodismo , roubamos do resto do mundo o direito ao paraíso que
nos foi ofertado. Não adianta culparmos
os asquerosos homens do poder, se a população mundial continuar sendo conivente
com estas posturas insanas. Com atitudes inconsequentes, vamos construindo o
nosso inferno e o das gerações futuras. Há quem diga agora: “Eu não estarei
aqui mesmo para ver!” E, eu fico a pensar: “Estão cegos mesmo”. Vivemos uma
cegueira coletiva. Dói enxergar esta bagunça e toda sujeira que espalhamos em
nossos podres festejos em prol de uma satisfação individualista que não leve em
conta a insatisfação da maioria. Esta festa, ou melhor, esta orgia que nos
embriaga com a perigosa e intoxicante consciência separatista, já vem nos trazendo uma ressaca e um mal
estar significativo. Entretanto, ainda assim, preferimos curar a nossa ressaca
com os nossos recursos paliativos do que preveni-la. Sem prevenção a doença há
de reinar. No reino da doença, o caminho certeiro é a morte da harmonia e do
equilíbrio.
Como os grandes problemas poderão ser compreendidos
num mundo carente de empatia? A compreensão de tudo que se passa é o primeiro
passo para uma ação transformadora. Neste mundo capitalista há um grande
entendimento das questões financeiras e pouca compreensão das questões
humanitárias. Se faz muito pelos problemas econômicos e quase nada pelos
problemas sociais e ecológicos. Deixamos de fazer parte de uma sociedade para
sermos apenas mais um produto no mercado. Quando passamos a ter um preço,
deixamos automaticamente de ter valor. No entanto, podemos valorizar mais o
nosso sentido de “Ser”— Ser, sobretudo, um Ser Humano que faz a diferença num
mundo demarcado pela indiferença.
Se estamos condenados pelos mais fortes e pelos inconsequentes
a sofrer, o que eu, frágil e desvalorizado ser humano poderei fazer? A história
abaixo lhe dará esta resposta.
A força dos fracos
Numa linda
floresta habitada por um incontável número de animais e espécies, havia apenas
um leão que comandava e ditava as regras. Pode parecer injusto, mas esta era a
lei que perdurava ali por milhares de
anos. O poder dos leões era repassado de geração para geração e os outros
animais não ousavam desafia-los ou contesta-los, pois se julgavam mais fracos e
impotentes para mudar o rumo daquela história. Bom, nem todos! Em algum lugar e
em algum momento sempre nasce alguém disposto a mudar a história e foi
justamente isto que aconteceu nesta floresta.
Uma frágil
lebre, alimento apreciado pelos leões, resolveu se rebelar. Tem gente que não
acredita numa revolução sem armas. Ela também não acreditava, no entanto, a
arma que utilizava era a sua inteligência. Portadora de sagacidade e sabedoria, resolveu
travar uma revolta inteligente. Sabia que era mais frágil em termos de força
física e ao contrário dos leões, não apreciava, nem um pouco, o derramamento de
sangue. Quantas batalhas sangrentas foram vencidas por eles? Inúmeras, talvez
todas, pois violência era o que eles mais apreciavam. A quantidade de prazer
que ganhavam com estas guerras era proporcional
à quantidade de poder e dinheiro que grandes nações ganham com as suas.
Era necessária uma estratégia inteligente que pudesse mover um exército de
aliados à sua causa. A mais poderosa arma que possuía era a sua consciência e
foi, justamente, com ela que resolveu lutar. Sabia que não seria uma missão
fácil ter que armar uma enorme população com a consciência de que a mudança era
necessária. Não desistiu, apesar do longo tempo necessário para executar o seu
plano e das dificuldades encontradas. Sem imediatismo, atraiu adeptos e
simpatizantes que pudessem ajudá-la a aumentar a força de um exército inicialmente
formado apenas pelo seu desejo de mudança .
Sem que os
leões se dessem conta, este exército foi crescendo e já não suportava mais a
opressão. Mas, ainda assim o trono permanecia inalterado – os leões continuavam
ditando as regras. Contudo, a visão agora era diferente e o lema predominante
para a maioria das espécies era: “Direito e deveres para todos”! Toda vez que
mudamos os nossos paradigmas, ganhamos uma nova chance de conquistarmos mais
respeito. Este novo exército não possuía força física para vencer os leões, mas
já haviam adquirido uma poderosa arma – “O verdadeiro desejo de mudança e o
respeito por si mesmo”. Cada membro, ansioso por uma renovação, se dispunha,
dia após dia, a fazer este trabalho de conscientização, o que agilizava a disseminação
dos novos ideais. Apesar das mudanças não acontecerem no ritmo que a grande
maioria das espécies ansiava, a lebre ficava satisfeita, pois, anteriormente, a
grande maioria era acomodada e resignada a uma realidade injusta ditada pelos
poderosos leões e agora já não concordavam mais com as regras estabelecidas por
estes. Já velha, faleceu sem assistir a derrota dos leões. Entretanto, os seus
ideais eternizaram-se não só no coração das lebres, mas, sobretudo em cada
espécie daquela floresta.
Dezenas de anos depois, uma lebrezinha
perguntou ao avô:
—É verdade que esta floresta já foi
comandada apenas pelos leões?
—Sim, é verdade. Respondeu o avô.
—Como foi possível uma só espécie reinar
num habitat que é de todos? Perguntou a lebrezinha sem entender.
—Faltava consciência à maioria.
Respondeu o avô relembrando as histórias que ouvira também do seu avô no
passado.
—Vovô, como alguém pode viver sem
consciência? Viver sem consciência é como viver sem água e sem comida. Aliás, a
falta dela pode ser uma perigosa ameaça à nossa sobrevivência. Já ouvi contar
várias histórias que tanto a água quanto o alimento acabaram em certas
florestas pela falta de consciência da população que nela residia.
—Levamos muitos anos para formar lebres
como você. No passado, a maioria se contentava com muito pouco. Dotados de uma
pseudo consciência, acreditavam que os leões eram os únicos donos do poder.
—Quer dizer que o poder não era
compartilhado? Perguntou a lebrezinha perplexa.
—Além de não ser compartilhado, tinha um
sentido completamente diferente do que damos a ele hoje. Poder não era esta
força comum a todos e compartilhada visando transformar o mundo num lugar
melhor para todos. Poder era uma força egocêntrica visando apenas proveito
próprio, no sentido de transformar o mundo num lugar bom apenas para si mesmo.
Explicou o avô.
—Não consigo entender como um mundo
assim pode ter dado certo.
—Mas, ele nunca deu certo. As gerações
passadas assistiram com sofrimento a falência gradativa deste mundo que dotava
de poder apenas os mais fortes fisicamente.
—Mas, como é que a ordem deste mundo
mudou e chegou naquilo que vivemos hoje? Perguntou o neto repleto de
curiosidade.
—Dizem que houve um momento que nasceu
uma lebre assim como você. Uma lebre que pensava diferente de todas as espécies
daquela época. Ela acreditou que suas ideias renovadoras pudessem transformar o
mundo. Era paciente, sabia que tanto ela quanto seus filhos de sangue não
poderiam usufruir das mudanças pelas quais tanto lutou, no entanto, tinha plena
convicção que seus filhos de ideais seriam beneficiados no futuro.
—Filhos de ideais ?... Não entendi.
—Meus pais, eu, você e muitos outros
somos filhos de ideais desta lebre. Não temos o mesmo sangue dela, mas temos os
mesmos ideais, os mesmos sonhos, o mesmo compromisso e responsabilidade perante
o mundo. O corpo daquela lebre faleceu a dezenas de anos atrás, mas ela
continua viva dentro de todos nós. Explicou o avô.
—É como se ela tivesse se eternizado?
Perguntou o neto.
—Exatamente. A eternidade só existe para
quem se permite transcender o momento presente. É por isso que os egocêntricos
temem tanto a morte. Só vivem para eles próprios, usufruindo apenas o agora, o
que os impedem de deixar a centelha de vida deles dentro dos outros. Agindo
assim, quando morrem, desaparecem, nada que seja deles permanece. Antigamente, havia
muitos seres egocêntricos. Os leões foram os mais conhecidos. Avantajados pela
força física que possuíam, usaram este poder para destruir e não para construir
um mundo melhor. Todo reinado injusto tem um fim. Sempre foi assim e sempre
será. Esta lei não falha.
—Que lei? Perguntou o neto confuso.
—A lei da justiça divina. Respondeu o avô com convicção.
—Pois eu não acredito nesta lei. Como
Deus pode deixar tantos seres sofrerem por dezenas, às vezes, milhares de anos,
sem mover uma palha para mudar o cenário? Questionou o neto.
—Deus não muda nada. Ele não é um ser
único que toma uma decisão e sai exterminando as espécies mais frágeis num
momento e as mais injustas em outro. Deus é onipresente. Está em tudo e em
todos. Quem muda somos nós ou a própria natureza. A justiça divina existe
dentro de todos nós. Às vezes, nos acomodamos e não exercemos esta justiça em
prol de nós mesmos e dos outros. Às vezes, a própria natureza se cansa dos
desequilíbrios que causamos e traz a sua ordem de volta. Quantas catástrofes
aconteceram numa tentativa da natureza romper com a injustiça que vinha
sofrendo. Nestas situações, o aparente desequilíbrio é uma forma de trazer o
equilíbrio e a harmonia de volta... Refletiu o avô.
—Vovô, você falou que todo reinado
injusto tem um fim, e os reinados justos? Eles também possuem um fim?
—Os justos não reinam. Os justos
compartilham e administram o poder que pertence a todos. Um justo nunca está
sozinho, está sempre com todos. Um justo nunca quer ser o único, quer
parcerias. Um justo não quer dominar, quer apenas doar a sua sabedoria e estará
sempre junto de outros justos que possuem o mesmo fim. Agindo assim, o
equilíbrio se opera e dificilmente alguém desejará rompe-lo, pois todos estão
sendo beneficiados. Esclareceu o avô.
—Pelo que entendi, o mundo já foi
totalmente diferente daquilo que vivemos hoje. Me parece ter sido muito injusto
e dominado pelos leões que hoje são tão sábios e amigos. É difícil acreditar
que no passado eles foram tão medíocres. Eles reinaram no mundo e a ignorância
reinou sobre eles. Como eles perderam este poder anódino e esta ignorância?
O avô já
estava cansado, mas gostava de contar esta história. Sabia que a compreensão da
história é fundamental em todo processo de mudança e que a evolução da
consciência se dá à partir de uma releitura constante de nosso processo
histórico. Foi assim com ele e, decerto, seria com o neto. Nunca as gerações
passadas abriram mão de repassar informações importantes para as gerações
futuras. Os mais velhos possuíam uma sabedoria que deveria ser repassada,
jamais contida. De posse desta responsabilidade, continuou:
—Depois de muita luta daquela lebrezinha
que lhe falei, o desejo de mudança começou a operar em todos. Já firmado e
garantido, o segundo passo deveria ser dado, pois não se muda a história apenas
com desejos, mas com ações transformadoras.
Antes que o
avô prosseguisse, o neto perguntou ansioso:
—Que ações foram estas?
—Assim que cada ser passou a reconhecer
a autoridade dentro de si mesmo, ninguém mais reconheceu o autoritarismo dos
leões como uma ordem a ser seguida. Desta forma, os leões perderam o comando.
Inicialmente as espécies de considerável força física como os leões se
propuseram a proteger fisicamente os mais fracos. Posteriormente, isto não foi
mais necessário, pois todos descobriram que os leões jamais foram respeitados,
apenas temidos. Sem admirá-los, eles perderam a auto-estima. Mal amados, foram
se sentindo fracos e derrotados. Lentamente, alguns leões foram compreendendo
que só seriam admirados e ouvidos se seguissem a nova lei da floresta:
“Respeito, direito e deveres para todos”.
—Para quem foi transferido o reinado dos
leões? Perguntou o neto.
—Para ninguém e para nenhuma espécie
especificamente. Nenhum ato de fanatismo era permitido na nova ordem que se estabeleceu
na floresta. Todas as espécies eram percebidas como portadoras de qualidades e
defeitos, e o mais importante, como seres em processo de evolução. Ninguém era
glorificado como um Deus ou eleito como o mais importante. Todos sabiam que
esta atitude implicaria num retrocesso na história. Não era massacrando os
leões ou transferindo o poder deles para outro ser glorificado como o mais
forte e poderoso, que conseguiriam transformar aquela sociedade.
—É difícil acreditar que evoluímos
tanto. Mensurou o neto.
—Não foi fácil chegar onde chegamos.
Inicialmente, foi muito difícil criar uma ordem que pudesse contribuir para o
bem estar de todos. Para fazer isso, alguns tiveram que abrir mão de certos
privilégios. Só o processo de evolução da consciência pelo qual todos passaram
permitiu isto. Encontraram conflitos, dificuldades, mas estas jamais serviram
de entrave para seguir em frente. Seguiram e chegamos onde estamos hoje.
Finalizou o avô abraçando seu neto com a nítida satisfação de ter sido também
parte integrante desta história. Ganhou um largo sorriso do neto que parecia
dizer a mesma coisa.
Talvez não
tenha ficado claro e você esteja agora se perguntando como era exatamente a
nova ordem que se estabeleceu naquela comunidade. Deixo a cargo da sua imaginação
construí-la. Precisamos mudar a ordem deste mundo confuso e injusto que estamos
vivendo. A sua imaginação, as suas ideias, os seus sonhos e ideais podem ser o
primeiro passo. Juntando o seu, com o meu e com o nosso, com certeza haveremos
de construir algo diferente de tudo que estamos vendo e nos oprimindo tanto.
O vovô da
história já falou e eu sou vou repetir para você não esquecer: “ A justiça
divina está dentro de você, portanto, só poderá ser exercida se você permitir”.
ESPAÇO DE
REFLEXÃO
Somos todos agredidos, mas não precisamos ser os
agressores. Deixar de adotar as atitudes abaixo, já é um grande passo para quem
deseja fazer alguma coisa em prol de si mesmo e da humanidade.
( ) Nunca
participei ou colaborei com nenhum movimento em prol da paz
( ) Nunca
participei ou colaborei com nenhum movimento em prol da preservação da natureza
( ) Voto por
interesse próprio sem pensar nos interesses da comunidade
( ) Quando ajo
ilegalmente, adoto o famoso discurso: “Todo mundo age assim!”.
( ) Poluo o
ambiente
( ) Contribuo
com o contrabando de mercadorias ilegais
( ) Sou
traficante ou usuário de drogas
( ) Não me
sensibilizo mais ao ver tanta miséria
( ) Sou
extremamente consumista
( ) Adquiro
produtos fabricados à partir da matança de animais
( ) Mato
animais ou contribuo para a morte deles
( ) Agrido
verbal ou fisicamente as pessoas
( ) Não sou
solidário
( ) Só penso em
meus interesses e desejos pessoais
( ) Não gasto
nenhuma parte do meu dinheiro ou do meu tempo em obras a favor da humanidade
(
) Não recolho o meu lixo quando usufruo de atividades ou passeios em
contato com a natureza
( ) Já me
acostumei com os noticiários de guerra, violência, tragédias e fome. Eles não me sensibilizam mais.
( ) Não
contribuo com a reciclagem de nenhum produto.
( ) Roubo ou
desvio dinheiro que deveria ser dirigido à comunidade para fins pessoais
( ) Adoto
sempre aquele discurso fatídico: “Não tem jeito”!
( ) Desperdiço
( ) Acho que os
grandes problemas que a humanidade atravessa não são meus também
( ) Compro
armas ou contribuo com o comércio das mesmas
( ) Me julgo
superior e com isso, digno de privilégios
( ) Banco
sempre o espertinho
( ) Tenho o
hábito de subornar para não sair perdendo
( ) Não me dou
ao trabalho de conscientizar ninguém sobre as ações que poderiam contribuir para resolver ou, no mínimo,
reduzir os problemas da humanidade.
( ) Não sei
quais são os meus deveres como cidadão.
( ) Não
reivindico os meus direitos enquanto cidadão.
( ) Não cumpro
os meus deveres enquanto cidadão.
( ) Sou
preconceituoso
( ) Não tenho o
costume de me colocar no lugar do outro para compreender o seu sofrimento ou
suas ações. Sou mais de julgar do que de compreender.
“PARA QUE O MAL
TRIUNFE, BASTA APENAS QUE OS HOMENS DE BEM CONTINUEM INATIVOS”
(Movimento
contra a violência na praia de Copacabana em abril/2007)
DESAFIO
AJA!