sábado, 21 de julho de 2012

O NÓ DA PADRONIZAÇÃO


ROSA AZUL



Fui a lugar nenhum

Pra encontrar um pouco de mim

Encontrei nada igual

Apenas diferenças

Que marcam minha presença.

Num jardim sem dono

Jardim de luz

Achei a muda do que sou

Rosa Azul.



Impedida de plantar

O que sou em mim

O veredito final me foi concedido

Só se fosse bem escondido

Onde ninguém pudesse ver o que sou.

Aos olhos do mundo

Só é válido mostrar

O projeto de gente

Ou da Rosa do ente



Que mostre ser Rosa

Vermelha, amarela ou cor de Rosa

Jamais Rosa Azul

A Rosa de lugar nenhum.



Muda, com a muda do meu ser

Sem perguntas cujas respostas eu já sabia de cor

Sem aprovação

Só a minha, apenas

Arei o meu ser

Fertilizando a minha alma

Plantei a rosa em mim

Rosa Azul

A Rosa de lugar nenhum.



Mesmo esbarrando em olhares sinistros

De minha Rosa

Não uso os espinhos

Exalo a essência

De um aroma só meu

E quem gosta deste perfume

Goza

Gozo azul

Sentido em lugar nenhum.



Mesmo com minha rosa desabrochada

Ainda ouço como se fosse piada

Que mostre ser Rosa vermelha

Amarela ou Cor de Rosa

Mostro Rosa Azul

A Rosa de lugar nenhum

E no meio dos desencantos

Eu canto

Sou Rosa azul

Rosa Luz que reluz





O NÓ DOS PADRÕES



Sofia nasceu um pouco diferente do projeto arquitetado para ela. Encantadora, porém, às vezes, assustadora. Assustava com seu jeito diferente e original de sentir, pensar e viver a vida. Seguia uma moda criada por si mesma, escolheu uma carreira diferente de todas as carreiras escolhidas e previstas por familiares e pelo seu círculo social. Até seus amores eram diferentes, bem como a sua forma de amar.  Sofia escolheu um homem que não se encaixava dentro dos modelos e padrões idealizados pelo seu meio social. Ser ideal para si mesma era o que importava e amor era o que não lhe faltava. Escolheu ser atriz e cantora, embora soubesse desenhar e pintar muito bem. Suas composições, sua forma de cantar e representar eram também diferentes. Enfim, tinha muita coisa que fazia de Sofia uma pessoa diferente, mas o que a diferenciava mesmo da turma dos iguais era a sua determinada decisão de ser ela mesma. Na verdade, Sofia era uma artista e, quase sempre, quem tem alma de artista tem um jeito meio estranho de ser.

Tem uma história engraçada de Sofia que vale à pena mencionar. Amante da arte, desejava se tatuar com algo original e criado por si mesma. Sempre que manifestava a sua intenção aos familiares e amigos, ouvia sempre o mesmo discurso: Voce pode se arrepender... É pra vida toda... Só se for bem pequenininha... Isso vai lhe prejudicar arranjar um bom emprego... Tatuagem parece sujeira... Gente séria não se tatua... E por aí vai... Sofia nunca foi de bla, bla, bla. Sempre foi de falar pouco, pensar o razoável e agir. Ainda bem que com tantas diferenças, Sofia sempre foi uma pessoa madura e responsável; bem pé no chão, porém no chão que deseja pisar. Sem bla, bla, bla, Sofia submergiu em seu mundo interior e criou a arte que plantou em seu corpo – uma Rosa Azul. Uma rosa que não existe em lugar nenhum; de certa forma uma representação do diferente, do impossível, do inusitado, do inacessível. Com a Rosa Azul implantada, harmoniosamente, em uma das hastes de seu corpo, Sofia se apresentou à família:

- Tenho um surpresa!

A mãe podia imaginar muitas, pois Sofia sempre foi um ser surpreendente. Querendo preparar a mãe para que a surpresa não assustasse tanto, continuou:

- Fiz uma tatuagem.

-Onde? Perguntou, receosa, a mãe, esperando uma pequena tatuagem escondida em algum lugar de seu corpo. Assim como faria, se tivesse algum dia esta coragem.

- Than, than, than, than! Sofia abriu os braços e de um deles surgiu uma gigantesca Rosa Azul de norte a sul do seu braço esquerdo.

- Ãhhhh! A mãe, boquiaberta, ficou olhando paralisada a linda Rosa Azul sem saber se encantava ou desesperava. Sem saber se a filha estava agindo como uma verdadeira artista ou como uma menina arteira, limitou-se a dizer com ternura:

- Voce é louca! É pra sempre! Pro resto da vida!

- Eu já sabia que ia ouvir isto de voce. Tenho muitas coisas que são para o resto da vida e convivo bem com elas. As minhas cicatrizes, enfim, tantas coisas são para o resto da vida e temos que conviver bem com elas.

Admirando sua tatuagem, testou a aprovação da mãe perguntando:

-É linda, não é? Ainda falta terminar.

A mãe olhava a Rosa Azul ainda incompleta e já se encantava por ela. Imagine depois de pronta... Apesar de estar plantada no braço da filha, não dava para negar – era uma linda rosa.  O aroma artístico daquela rosa afastou o ranço de seus preconceitos e padrões mesquinhos num passe de mágica. Talvez, a mãe também tivesse a semente desta rosa dentro de si.  Com uma filha assim, não tinha como essa mãe não ser também um pouco diferente. Talvez, não tanto quanto a filha. Sem ter o que fazer, limitou-se a dizer:

- Agora é aceitar! Não tem nada que possa ser feito. Aceitar! Sua rosa ficou linda!

Agora, faltava a reação do pai, um capricorniano bem capricorniano. Antes que pudessem prever a reação do mesmo, a porta da sala se abriu. Metralhado por olhares, em coro a família pronunciou:

-  Sofia tem uma surpresa para voce!

- Mais uma? Perguntou com ar de gozação, demonstrando não se surpreender muito com as novidades da filha.

-Adivinha? Perguntaram todos em coro novamente.

- Óculos novo?

- Não! Responderam em coro - Quem vai precisar de óculos é voce. Emendou a mãe.

- Cortou um só lado do cabelo pela metade?

- Quem dera! Cabelo pode crescer. Suspirou a mãe.

- É algo assim, parecido com um filho. Que fica pra sempre. Desafiou a filha mais nova.

A cara do pai foi mudando a feição. E antes que pudesse pensar mais sobre o assunto...

- Than, than, than, than! De seus braços desabrochou, como num passe de mágica, a Rosa Azul; nem tão azul assim aos olhos do pai.

O pai, atordoado, não quis checar de perto a arte da filha. Limitou-se a perguntar:

-Por que voce fez isto? Voce não vai conseguir tirar isto do seu braço nunca mais!

- Mas, quem disse que eu quero tirar a minha rosa do meu braço. Ela tem um sentido muito forte para mim.

- Voce sabe o que eu penso sobre tatuagem. Para mim parece sujeira. Parece que voce está com seu braço sujo. Quero só ver se voce precisar de fazer uma peça de teatro. Voce não vai ser escolhida por causa desta tatuagem.  

-Tudo é muito relativo; depende do talento de cada um. Johnny Depp é todo tatuado e bem requisitado. Se algum dia eu precisar esconde-la, existe maquiagens especiais e inúmeras formas de fazer isto. Mas, o que eu quero mesmo é minha Rosa Azul à vista.

O pai balançou a cabeça e calou-se. Precisava de tempo para digerir melhor tudo isto. Se um problema não tem solução, aprende-se a conviver com ele.  Enfim, cada pessoa que se deparava com a Rosa Azul teve um reação diferente. Esta Rosa rendeu muitas histórias engraçadas e muitas reflexões também. A irmã mais nova foi a primeira pessoa que Sofia apresentou a sua Rosa. Alguns dias antes, via Sofia desenhando o próprio braço, mas não podia imaginar que  teria coragem de fazer uma tatuagem tão grande. Acreditava que pudesse fazer algo discreto em algum lugar escondido do corpo. Ao ver mais uma arte da irmã, dentre as inúmeras que sempre curtiu e aprovou, limitou-se, boquiaberta e com seus olhos vivos arregalados, a dizer com seu jeitinho doce:

- Voce é muito corajosa...! Achei que fosse fazer uma pequenininha e mais escondidinha...

-Se for para ficar escondida, melhor não fazer. E, vê se combina comigo coisas pequenininhas, discretas demais...

A Rosa Azul anda por aí mexendo com a cabeça e com as referências de muita gente. Ela representa a diferença e a originalidade que murcha dentro da gente quando não temos coragem de nos assumir como somos, de fato, enfim, ela mostra a importância e a beleza de nossa verdadeira face. .

          

Somos produzidos em série; o mais parecido possível com nossos pais, avós, tataravós, com nossos padrões culturais, sociais, religiosos e por aí vai. Quem sai da linha de produção da família ou de uma sociedade é taxado de maluco ou, no mínimo, de rebelde. Ai de nós se não fosse a rebeldia! Seríamos robotizados por valores e comportamentos que interessam a uma minoria. As grandes revoluções tecnológicas e socioculturais só aconteceram por conta da rebeldia de alguém que ousou fazer diferente. Muitas guerras persistem por conta de alguns grupos insistirem em manter um padrão que não se adequa mais à demanda de um mundo novo em constante transição; não apenas guerras entre nações, mas, sobretudo, entre pessoas de uma mesma família, amigos e até mesmo entre seres que dizem se amar.

O mundo envelhece quando não abrimos espaços para o novo adentrar. O velho adoece, é frágil e sem energia para mover a vida. Uma pessoa idosa pode ser jovem, nova. E, uma pessoa de pouca idade pode ser velha, ultrapassada. Tudo vai depender da abertura para fazer diferente, para abrir espaços para uma nova consciência. Toda crise denuncia a necessidade de uma mudança, seja ela, uma crise social, pessoal, profissional ou nos nossos relacionamentos. Tememos a mudança por estarmos apegados demais a certos padrões. Temos medo de uma nova consciência, preferimos aquela velha conhecida formatizada segundo os moldes de um outro que nem sempre se parece com a gente mesmo. Mas, famintos de aprovação e aceitação nos moldamos segundo os padrões estabelecidos por uma ordem vigente; ordem que, muitas vezes, provoca uma imensa desordem dentro de nós mesmos. Existem muitas fôrmas que formatam o nosso jeito de ser. Para se livrar delas e tornar-se autêntico é indispensável descobrir em qual delas voce está preso. Há fôrmas da mulher e do homem ideal confeccionada por uma sociedade machista. Há fôrmas do profissional ideal confeccionada pelos interesses, muitas vezes podres, de classes profissionais específicas. Há fôrmas de todas as formas que deformam o nosso ser.

Ser você mesmo pressupõe ser diferente, ter uma identidade própria, só sua. Quando voce permite ao seu verdadeiro eu ser enclausurado por padrões comportamentais que ferem a sua autenticidade e originalidade de ser, você deixa de existir. Passa a ser um mero reprodutor, uma máquina copiadora que nada cria, apenas copia. Deixa de ser vida para ser uma fotocópia de algo ou alguém que se julga mais importante que você ou que queira lhe manipular por mero desejo de poder ou por medo de lhe perder. Tememos perder aquilo que sai de nossos padrões de controle. Assim, elegemos e criamos a ilusão no outro e em nós mesmos que existe formas mais corretas de ser e agir. Criamos um molde comportamental para nos sentirmos mais seguros ou para aprisionar o outro na gaiola de nossos desejos. Roubamos através deste molde a verdadeira essência do outro. Não somos mais importantes que ninguém, nem tampouco, menos importantes – “somos”, simplesmente. Temos, pela lei universal, o direito de existir. Existir segundo a nossa essência.

Se quiseres sair da posição de fantoche, talvez, a história abaixo possa lhe mobilizar neste sentido. Basta apenas uma coisa: Coragem para se fazer diferente.



CORAGEM PARA FAZER DIFERENTE



Numa fábrica de brinquedos, a produção de fantoches era feita em série. Todos eram moldados segundo um padrão que favorecesse a compra expressiva do produto. Todos os fantoches eram do mesmo tamanho, cor, usavam as mesmas roupas, possuíam o mesmo penteado e expressão facial. Centenas de fantoches eram produzidos todos os dias e milhares deles estavam presentes no mercado, espalhados por vários cantos do mundo. Nunca ninguém ousou criá-los de uma forma diferente e nem mesmo se questionou a possibilidade de uma mudança aquecer ainda mais a venda do produto. “Se deu certo até agora, melhor não arriscar”! – este era o lema.  No entanto, diante do certo, não existe apenas o errado; existe, também, o mais certo ainda.

Os operários da fábrica eram advertidos e orientados, o tempo todo, a seguirem fielmente o padrão estabelecido para a linha de produção. Bem parecidos com os fantoches que produziam, jamais ousavam dar um toque especial em qualquer peça. Entretanto, em meio a todo padrão existe sempre o risco da rebeldia. Um operário rebelde, que se recusava a participar do concurso de operário padrão, optou, secretamente, por modificar a linha de produção. Desejava usar a sua criatividade para se sentir menos fantoche do que os que ajudava a produzir. Responsável pela inspeção final do produto, resolveu modificar o penteado, expressões e vestuário, dando mais força à sua criatividade e, ao fantoche, uma identidade própria. A partir deste dia, o mercado recebeu fantoches tristes e alegres, zangados e tranquilos, arrojados e tradicionais, enfim, com uma série de expressões que dessem a eles mais vida e originalidade.

Dizem que os adultos detestaram, mas as crianças e os adultos que possuem uma criança viva dentro de si adoraram, pois histórias cada vez mais estimulantes e criativas puderam ser criadas a partir destes novos personagens que encarnavam, agora, formas tão diferentes de ser. E o tédio das histórias cansativas que todos já conheciam o final foi substituído pelo mistério. Os fantoches passaram a ser personagens de dramas, aventuras, comédias, romances, suspenses, ficção, enfim, de histórias que falavam um pouco da história que cada ser carregava dentro de si. Por isso, encantavam tanto; não eram mais aqueles fantoches sem vida e sem história que a indústria, no passado,  insistia em produzir.

Apesar destas mudanças radicais, a indústria não faliu, pelo contrário, a sua demanda de produção cresceu vertiginosamente a cada dia. Quando os donos foram questionados sobre o porquê dos padrões rígidos que caracterizavam os fantoches do passado, responderam, publicamente, em  entrevista a uma grande emissora de TV:

─Acho que tínhamos medo. Seguir um padrão não é, na verdade, um atributo à tradições; se buscarmos lá no fundo, encontraremos um grande medo escondido. Este medo nos dita o que devemos fazer para não corrermos riscos. Ele sempre nos fala da ameaça de perdermos o que com tanto esforço conseguimos construir. Seguir um padrão, anos a fio, sem abertura para as mudanças naturais que fazem parte de todo o processo evolutivo da sociedade e do ser, nos sujeita a uma vida morta, sem história, bem parecida com a vida dos primeiros fantoches que produzíamos. 

─E, o que aconteceu com o rebelde operário responsável por todas estas mudanças? Perguntou o jornalista.

─Inicialmente, ele foi demitido, não só pela rebeldia em tentar mudar aquilo que estava padronizado, mas, principalmente, por ser um operário diferente que fugia de todos os padrões que a nossa empresa julgava ideal. Quando nos demos conta da bobagem que estávamos fazendo, além de readmiti-lo, o convidamos para ser um dos nossos sócios.

─Quando é que vocês deram conta de que estavam fazendo uma bobagem? Perguntou, novamente, o jornalista.

─Quando tivemos a humildade de reavaliar os ganhos advindos com aquelas bruscas mudanças no nosso estilo de produção. Ao invés de continuarmos temendo as perdas, tivemos a coragem de aceitar os ganhos que, de certa forma, nos incomodavam.

─Mas como um ganho pode incomodar alguém? Questionou o jornalista.

─Incomoda quando nos mostra os nossos erros. Só nos demos conta de que estávamos caducando quando os lucros daquilo que sempre rejeitamos bateu na nossa porta zombando da nossa ignorância: Seus velhos gagás! “Se um corpo velho e inflexível não vai muito longe, imagine uma alma”...

─Que lucros foram estes?

─Ganhamos muito dinheiro! Respondeu, entusiasticamente, o empresário.

Isto quer dizer que se o dinheiro não tivesse entrado nesta historia, voces estariam cegos e caducos ate hoje ?– cutucou, sarcasticamente, o jornalista

─Talvez...

─Isto me faz ficar tentado a escrever uma importante matéria!...

─Que matéria? Perguntou, curioso, o empresário.

─O brilho de seu operário só não foi ofuscado por ter entrado muito dinheiro nesta historia. Caso contrario, seria subjugado, rotulado de insano, rebelde ou qualquer predicativo que pudesse diminui-lo por ele não ter conseguido aumentar os cifrões em suas contas bancárias. Fico, agora, imaginando quantos artistas ou profissionais talentosos são taxados de malucos e preguiçosos por não conseguirem encher o próprio bolso ou o bolso de alguém com a flanela que dá brilho ao ser humano em nossa sociedade – o dinheiro. Da mesma forma que existe o operário padrão, existe o filho, o cônjuge, o profissional, enfim, o ser humano padrão. A sociedade tenta engessa-los dentro de um molde de vida que nem sempre corresponde ao que a alma deles anseia viver. Se a obra ou a forma de viver deles, por mais maluca que seja, for lustrada com a flanela estampada com cifrões, a sociedade ha de aplaudir e dizer: ─Está tudo certo com eles! Caso contrario,  se não conseguirem este brilho, o discurso muda. Os fiéis seguidores desta sociedade engessada apontarão os dedos, dirão e julgarão, impiedosamente, com um falso moralismo. ─  Ele não quer nada com a vida! É preguiçoso, maluco, enfim,  um rebelde sem causa. O difícil mesmo é entender a causa que cada um carrega dentro de seu mais profundo ser. Mais difícil que entender é compreender, aceitar, incentivar e oferecer oportunidades a quem deseja fazer diferente ou, mais precisamente, fazer a diferença.



ESPAÇO DE REFLEXÃO



Qual o seu grau de flexibilidade na vida? Se estiver muito formatizado, com certeza, não dará conta de pensar ou agir assim:


(  ) Aprecio as diferenças e não me sinto incomodado por elas

(  ) Não acho que as pessoas devam pensar e agir da forma como eu julgo correta

( ) Aceito, tranquilamente, as pessoas que fogem dos padrões que estabeleci como normal ou saudável

(  ) Não sei, exatamente, qual é o padrão de normalidade

(  ) Mudo de ideia facilmente

(  ) Sou capaz de voltar atrás para reavaliar uma posição tomada

(  ) Tenho facilidade para ouvir e aceitar opiniões ou sugestões

( ) Não me incomodo com o desejo do outro de fazer as coisas de uma forma diferente do jeito que estabeleci como ideal

(  ) Venho executando o meu trabalho de uma forma bem diferente daquela que eu executava a 07 anos atrás

(   ) Não sigo regras idiotas que firam ou desrespeitem a minha forma autêntica de ser. Sigo a minha consciência

(  )  Convivo com pessoas de grupo social, cultural, religioso e racial diferente do meu

(  ) Não fico preso a regras

(  ) Não sei exatamente, em todas as situações, o que é certo e o que é errado

( ) Não fico irritado quando as pessoas não seguem aquilo que estabeleci como certo e saudável

( ) Não acredito que as pessoas sejam menos saudáveis e evoluídas por se comportarem diferente da forma estabelecida por mim como ideal

(  ) Procuro sempre flexibilizar as minhas convicções para não complicar a minha vida

(  ) Procuro ouvir mais e pregar menos

(  ) Ao invés de julgar quem faz diferente, procuro, antes de mais nada, compreender



DESAFIO



Faça aquilo que voce sempre sonhou e desejou fazer, mas que nunca teve coragem; aquilo que tem tudo haver com a sua forma mais autêntica de ser. Mas, antes de agir neste sentido, avalie se dá conta de pagar os custos. Ser voce mesmo tem um preço. Só quem vive em abundância conseguem pagar. Se este exercício não lhe proporcionar o delicioso prazer da sua autenticidade, irá, no mínimo, lhe mostrar o grau de sua riqueza ou miséria interior.
















segunda-feira, 9 de julho de 2012

O NÓ DO CIÚME E DA INVEJA


QUERO SUPORTAR A SUA AUSÊNCIA

FICAR FELIZ COM A SUA FELICIDADE

DESAPROPRIANDO A POSSE QUE TENHO DE TI.

 A ILUSÃO DE SER SEU DONO

TORNOU-ME, MISERAVELMENTE, SEU ESCRAVO.

ACORRENTADO AO MEDO DE PERDÊ-LO

PERDI A MIM;

ENCONTRO-ME, NA LIBERDADE

DE PODER CONCEDER A TI

O QUE DEVO A MIM.

INTEIRO,

NÃO ROUBAREI DE TI

O QUE A FONTE DE MINHAS CARÊNCIAS

ME FEZ PENSAR FALTAR EM MIM.

QUERO TER TUDO QUE TENHO,

TER EM MIM O SENTIDO DE SER;

SER ABUNDANTE

PARA NÃO PRECISAR JAMAIS

SER UM DÉSPOTA DE SEU SER.



O NÓ DO CIÚME E DA INVEJA


O que Azélia mais queria é não sentir ciúmes, no entanto, foi criada para reproduzir o comportamento possessivo de pais ciumentos, manipuladores e controladores. Com isso, aprendeu a ser também uma mãe possessiva e ciumenta. Procurou-me numa tentativa de ajudar a filha, que também estava sendo educada para ser como ela, possessiva e controladora. Não é à toa que a filha também se chamava  Azélia, carinhosamente apelidada de Azelinha. Azelinha aprendeu a somatizar, recurso comum a toda pessoa que necessita expressar via corpo o que a alma não pode exprimir. Experimentava vários tipos de sintomas, dentre eles, dores, desmaios, queda de pressão, problemas digestivos dos mais variados, alergias, dentre outros. O corpo de Azelinha era bem criativo para produzir sintomas, mas faltava a esta adolescente criatividade para ser feliz. A mãe não tinha muito tempo para criar sintomas, pois tinha que se dedicar ao trabalho para satisfazer as necessidades da família e se sentir uma mulher de valor. Com a exceção de uma fissura anal que precisou ser tratada via cirurgia, a personalidade controladora de Azélia conseguia bloquear algumas doenças.

Inicialmente, preocupada com os sintomas da filha, Azélia se fez forte e totalmente comprometida a fazer de tudo para ajudá-la a se livrar dos mesmos. No entanto, quando começou a compreender o significado dos mesmos, a mesma Azélia, forte e comprometida, transformou-se numa mulher frágil, carente e sem forças. Lentamente, o cenário foi mudando; os sintomas da filha já não tinham tanta importância, o risco maior era o namorado da mesma que incomodava muito esta mãe.

Azélia era uma mulher que separou-se muito cedo do marido, tendo que incumbir-se da difícil tarefa de educar três filhos. Azelinha, a filha mais nova, foi desde bebê  criada pelos avós para que a mãe pudesse trabalhar e satisfazer as necessidades do lar. Apesar de receber carinho e mimo em excesso dos mesmos, sofria de uma significativa carência afetiva. Sua carência não se baseava numa falta de afeto, mas numa necessidade compulsiva de atenção. Achava-se menos amada e injustiçada pela vida por ter sido abandonada pelo pai. Aprendeu desde cedo a comparar-se com outras crianças que tinham pais, mesmo que estes não fossem bons e tão presentes quanto seus avós e sua mãe. Sabia que não possuía algo que as outras crianças tinham e cresceu acreditando na sua suposta inferioridade. Só não pensava naquilo que tinha e as outras crianças não. Azélia tinha muita raiva do marido por este tê-la abandonado e Azelinha aprendeu a ter a mesma raiva. Recusava-se a receber o afeto do pai quando este tentava se aproximar. Agindo assim, se sentia cada vez mais carente e com fortes motivos para reforçar a sua posição de vítima perante o mesmo e mantê-lo na posição de vilão. Azélia, Azelinha e os outros filhos foram, no passado, trocados por uma outra mulher que conquistou o coração do pai tornando-o chefe  de uma outra família. Assim, a chefe de família passou a ser a mãe, o que a deixava satisfeita, mesmo sem saber conscientemente disto, pois, ser chefe de alguma coisa era mais um reforço para a sua auto-estima. Aliás, com seu trabalho compulsivo, Azélia conseguiu também tornar-se  chefe do setor onde trabalhava. Como poderia trabalhar menos e correr o risco de perder a posição de chefia? Com isso, tinha cada vez menos tempo para os filhos; ainda assim, se desdobrava para estar sempre presente na vida dos mesmos. No entanto, Azelinha se sentia cada vez mais carente e necessitada de afeto. Ela só prestava atenção nos horários que a mãe não estava em casa, nunca nos horários que a mãe tinha disponibilidade para ela. Aliás, só percebia as críticas que recebia, jamais os elogios. Estava sempre focada em suas faltas. Consequentemente, sentia-se cada vez menos amada por todos. Era insaciável por afeto.  Conseguiu arranjar um namorado controlador que necessitava de uma personalidade dependente para exercer a sua manipulação. Formou-se aí o par perfeito; a dependência mútua necessária para a infelicidade desejada. Infelicidade era o que mais precisava para se manter vítima e continuar chamando a atenção de todos. A relação era demarcada por muitas brigas, mas satisfazia as necessidades inconscientes de ambos. Azélia, preocupada com a relação dependente da filha, levava o assunto do namorado a quase todas as sessões. Tinha muito medo que a filha reproduzisse a sua história de vida com o marido. Esquecera, entretanto, que dera a filha o mesmo nome e que desejava, inconscientemente, que esta fosse a sua obra mais parecida consigo mesma. Queria que a filha adotasse uma posição que não dera conta de tomar frente o marido no passado. Mas, Azelinha não fora educada para ser ativa, independente e segura. Cada passo que dava era monitorado pelos avós e pela mãe. A mãe se sentia, inclusive, na obrigação de dar satisfações de cada passo da filha aos avós quando estes não pudessem estar por perto para vigia-la. A mãe não possuía um estilo próprio de educar. Seguia as regras dos pais. Era mais seguro, pois se alguma coisa desse errado com a filha, como deu consigo própria, a responsabilidade não seria sua.

Azélia não era uma mulher madura capaz de assumir a própria vida. Dentro de si morava ainda uma criança assustada que os pais não deixaram crescer. Fazia o mesmo com a filha. Presa e vigiada, sem movimentação própria, Azelinha se sentia muito infeliz. O que resta para uma pessoa aprisionada? Para Azelinha restava o namorado e este lhe bastava, pois não conhecia outros prazeres na vida. Como Azélia não conseguiu crescer e se tornar uma mulher de fato, nunca arranjava um namorado. O pai de Azélia não aceitava rivais. Queria um arem só para ele. A mulher, a filha e a neta faziam parte deste arem. Certamente, o avô ganhou a disputa com o marido da filha e agora a filha Azélia queria ganhar a disputa com o namorado de Azelinha. Morria de ciúmes dele, mas não admitia este sentimento. Dizia que desejava apenas livrar a filha desta dependência perigosa, como de fato era. Mas, todo sentimento acaba falando mais alto; nada fica encoberto para sempre por melhores que sejam as nossas estratégias. Assim, numa de suas sessões terapêuticas, Azélia soltou seu lamento infantil: “Como ela pode gostar mais do namorado do que de mim?”A criança que habitava Azélia não entendia que a filha Azelinha tinha crescido e desejava no fundo de sua alma se tornar uma mulher. Não entendia  que os sentimentos que uma filha possui por um namorado não são nem maiores e nem menores do que os sentimentos que se tem pela mãe, são apenas diferentes. Não entendia também, que a necessidade de Azelinha por sua companhia diminuiria naturalmente com a idade, já que não é saudável um filho ser dependente dos pais para sempre. Dificultar o relacionamento da filha com o namorado era uma forma de prejudicar a relação dos mesmos e quem sabe, trazer a filha de volta provocando, indiretamente, um rompimento. Assim, a mãe dificilmente permitia a filha se encontrar com o namorado e ficar a sós com o mesmo. Existia sempre um terceiro por perto para vigiar. Azelinha ficava muito brava com isto, e a relação dela com a mãe  se deteriorava cada vez mais. Cumpria-se, dia após dia, o famoso ditado — “o feitiço virou contra o feiticeiro”.

E os outros filhos de Azélia, não existem nesta história? Existem, no entanto, não faziam parte deste jogo. Estavam salvos, vivendo uma vida independente por fora e repleta de alegrias. Não se importavam com os padrões dos avós e da mãe. Não conseguiam ser controlados ficando fora do jogo. Eram muito invejados por Azelinha que se julgava menos amada do que eles pela mãe, embora esta lhe dirigisse o olhar a maior parte de seu tempo. Invejava a independência, a alegria dos irmãos, pois isto era uma coisa distante, desconhecida, porém lá no fundo, demasiadamente, desejada pela sua alma.

Hoje, Azélia tomou consciência de toda trama acima mencionada. Está de namorado novo e permitiu-se, aos 45 anos, não namorar mais escondido dos pais. Tem buscado sua independência emocional e maneirou bastante no trabalho. Não é tão importante mais ser a chefe de um setor; está mais preocupada em chefiar a própria vida. Não manipula mais a filha; optou por orienta-la. Sabe que jamais conseguirá evitar que a filha dê suas cabeçadas pela vida tratando-a como uma eterna criança. Sabe que até os adultos dão as suas cabeçadas. Consegue, hoje, ser  mãe de uma adolescente e curte este novo jeito de ser mãe. Sabe que tem muito trabalho pela frente e tem se dedicado muito. Quanto a Azelinha, só as mudanças da mãe foram suficientes para que começasse a operar as suas próprias.



Ter ciúme e inveja é humano, mas alimentar a frequência destes sentimentos é burrice ou, no mínimo, uma atitude sadomasoquista. O invejoso e o ciumento além de sofrer acabam provocando sofrimento no outro e se compraz com isto. O desejo de manipular os sentimentos e a vida do outro caracteriza o jogo mais apreciado por eles. O compromisso com o crescimento pessoal perde a força todas as vezes que se sente ameaçado de perder o objeto de seu desejo. Aprisionado por um comportamento infantil caracterizado por um egocentrismo acentuado, faz do outro seu brinquedo favorito. Nem sempre possui a consciência de estar usando este outro ao seu bel prazer. A sua imaturidade afetiva encontra razões para aniquilar a individualidade do outro. O principal papel deste, na perspectiva egocêntrica do ciumento e invejoso, é satisfazer os seus próprios desejos. Assim, a felicidade do outro só é legitimada por ele se puder estar junto e usufruí-la. Caso contrário, o prazer é proibido ao outro. Temos aí, o exemplo típico de um adulto que não cresceu. É comum vermos crianças dando acesso de birras para fazer valer o seu desejo. É tão comum, por incrível que pareça, vermos adultos fazendo o mesmo.

Não precisamos, necessariamente, de más companhias para aprendermos o mal comportamento. O local mais comum para aprendermos o que deveríamos desaprender é dentro da própria família. Há pais maduros que colocam limites aos filhos com a consciente intenção de educá-los. Os limites dão a estes a consciência do território delimitado que pertence ao outro e que precisa ser respeitado. No entanto, há também, crianças educando crianças. Há inúmeros exemplos de pais infantis. Pais que ensinam a seus filhos serem ciumentos, invejosos e manipuladores, pois vibram nestes sentimentos. O filho irá expressar a energia que absorveu. Pais que não conseguem exercer a sua autoridade sem autoritarismo, ensinando os filhos a enxergarem apenas o próprio umbigo. Pais que comparam um filho com o outro ou com colegas, fazendo nascer aí sentimentos de menos valia que criarão terreno fértil para o ciúme e inveja. Pais que depreciam o sucesso e as conquistas do próximo, deseducando a criança a admirar. Sem admiração, restará a inveja. Pais que alimentam a dependência do filho por medo da solidão, pois um filho dependente estará sempre próximo. Pais que não sabem dividir e brigam entre si competindo o afeto do filho. A criança acaba por se sentir culpada por desejar a companhia de um ou outro, ou por manifestar uma identificação maior por um dos genitores. Aprende que deve amar apenas um deles e à partir daí começa a construir um conceito errado do que vem ser o amor.  Este amor que lhe foi ensinado passa a vir sempre acompanhado de muita dor. Pais que não possuem limites  e que jamais conseguirão repassar aos filhos a noção destes. Sem limites, a criança estará sempre invadindo o território do outro, querendo tirar deste tudo aquilo que não encontra no seu próprio território; atitude típica de pessoas invejosas. E, assim, um padrão doentio de comportamento vai sendo repassado de geração a geração, como por exemplo, na história de Azélia. Neta, filha e avós compadeciam da mesma doença, pois compartilhavam o mesmo padrão comportamental. Como o sábio mestre Jesus disse: “Os filhos pagarão pelos pecados dos pais”. Pecado não é nada mais, nada menos do que aquilo que perverte a nossa alma, ou seja, as doenças e todo mal que nos impedem de sermos criaturas plenas. No entanto, os padrões doentios de relacionamento não se restringem à família, mas também ao grupo de amigos, colegas de trabalho ou qualquer tipo de relacionamento afetivo que tivermos ao longo de nossa vida. Brigas e conflitos é o saldo final de todo relacionamento contaminado por sentimentos doentios. 

A quem diga que quem ama sente ciúmes. Na verdade, quem sente ciúme não está amando. No momento que o ciúme entra em cena, o amor sai. Ambos não conseguem contracenar juntos. O amor exige respeito às necessidades do outro e o ciúme exige a obediência do outro aos nossos desejos mais infantis. O ciumento e invejoso são extremamente possessivos. A eles não basta a própria vida, pois desta conhecem muito pouco. Conhecendo pouco de si, querem roubar do outro o que ele tem de melhor, pois as suas próprias riquezas não foram ainda descobertas. Seu olhar está sempre voltado para aquilo que o outro tem e não para aquilo que ele próprio tem de melhor. O ciumento quer a atenção só para si. Precisa da apreciação total do outro para que se sinta valorizado, pois, não aprendeu a se valorizar. Pode ter sido na infância uma criança que sofreu comparações ou rejeições significativas. Desenvolveu uma personalidade dependente, seja ele, a vítima ou o vilão do relacionamento. O vilão, por mais poderoso que possa parecer, depende de uma vítima que aceite seus desmandos e vice versa.

Uma pessoa saudável, por mais que viva momentos em que seja tomada pelo ciúme ou pela inveja, conscientizará de seu sofrimento e do sofrimento que, por ventura, estiver causando ao outro. Possui uma inteligência emocional que não lhe permite persistir na doença. Estará travando, bravamente, uma luta no sentido de dominar e vencer a si mesma e não ao outro. Caso você não tenha ainda desenvolvido uma inteligência que lhe permita ser uma pessoa saudável, vale à pena investir no seu crescimento e amadurecimento pessoal. Procure ajuda!

Quando você aprecia uma rosa, o que você vê nela? Provavelmente, muita beleza e harmonia. Quando você se aprecia, o que vê em si mesmo? Aliás, você se aprecia ou gasta seu tempo depreciando quem lhe incomoda? Será que existem muitas margaridas em sua vida? Preste atenção na história da Rosa, pois ela pode lhe dizer e ensinar muita coisa a respeito.





A DOENÇA DA ROSA





Dizem que, num lindo jardim sempre habitado pela harmonia, a rosa adoeceu repentinamente. Nenhuma flor entendia o jeito novo e estranho da mesma. Sempre viçosa, aberta e vibrante passou a ficar,  dia a dia, cada vez mais murcha, fechada e sem vida. “Que doença era aquela que acometera a rosa repentinamente”? Até então, nenhuma flor jamais ouvira falar de uma doença tão grave. Como curar a rosa se ninguém entendia o motivo de sua doença? Preocupados, resolveram marcar uma consulta com o Dr Sol, o iluminado curador de todas as flores. Ele possuía uma sabedoria infinita capaz de curar todos os males. Tocando, graciosamente, a rosa com seus raios luminosos, o sol perguntou:

—O que aconteceu, linda rosa?

—Nada não – respondeu, rispidamente, a rosa.

O sol achou muito esquisito aquele jeito novo da rosa. A sua doçura foi transformada, sem motivo aparente, em uma rispidez acentuada. Tentando envolve-la carinhosamente, questionou a sua indelicada resposta.

—Se não tens nada, porque estás tão brava?

—Eu tenho o meus motivos...

—Que tal  falarmos deles? Talvez, eu possa ajuda-la.

—Tudo bem! Respondeu grosseiramente. O meu problema são as Margaridas.

—Engraçado, nunca nenhuma flor aqui representou um problema para a outra. Vocês sempre viveram tão felizes.

Antes que o sol pudesse continuar foi interrompido, ironicamente, pela rosa.

—Disse bem! Vi-ve-ram. Mas, não vivemos mais.

—Não é bem assim. Todos continuam vivendo bem, só você não consegue mais viver feliz. Se mudar este sentimento ruim dentro de você, com certeza recuperará a sua felicidade.

—Só se as Margaridas morressem, eu conseguiria me sentir bem.

Apesar de estarrecido, o Sol entendeu rapidamente o sentimento da Rosa, mas, decerto, ela não compreendia o que estava se passando consigo mesma. O grande astro sabia que tinha um grande trabalho pela frente. Só à partir do momento que a Rosa se tornasse capaz de compreender o real motivo deste ódio que a dominava, seria capaz de se salvar e se curar definitivamente. Sem censurá-la continuou indagando-a:

—Por que motivo as Margaridas deveriam morrer?

—Porque elas atrapalham a minha vida. Respondeu, egocentricamente, a Rosa.

—Engraçado, nunca reparei o quanto as Margaridas atrapalham a sua vida. Sempre as vejo no canto delas, juntas, felizes da vida, sem se preocuparem com nada.

—Você é quem pensa! Elas andam bem preocupadas em seduzir o meu amor. Outro dia o peguei irradiante, admirando-as.

—Que mal existe em admirar e ser admirado? Você sempre foi tão admirada e nunca se ressentiu disto.

—Uma coisa é ser admirada, outra coisa é ser menos amada por seu amor por ele ter descoberto outra flor mais bela.

—Ele te disse que passou a te amar menos por ter descoberto a beleza das Margaridas?

—Não, mas é um risco. Você não acha?

—Você deixaria de amá-lo caso passasse a admirar as Margaridas?

—Eu, admirar Margaridas? Era só o que faltava! Muitas flores podem até achá-las bonitinhas, mas aquelas pétalas finas... Que mal gosto! Fique sabendo que eu jamais vou admirar as Margaridas.

—Isso é muito sério. Disse o Sol com firmeza. Isso pode ser o seu fim. Continuou, olhando no fundo dos olhos da Rosa.

—O meu fim? Como assim ? Perguntou a Rosa preocupada.

—Se você não conseguir admirar as Margaridas, passará a se sentir cada vez mais feia e sem vida.

—Se o remédio é admiração, admirar a mim mesma não basta? Saiba que me acho muito mais linda. Minhas pétalas são mais largas, minha haste mais firme. Não tem comparação!

—Comparação. Preste bem atenção nesta palavra. A sua doença se chama com-pa-ra-ção. Você está doente de comparação.

—Eu, doente? Eu estou muito bem.

—Mas você acabou, agora pouco, de falar que só ficaria bem se as Margaridas morressem?

—Decerto, seria menos um peso para mim. Admitiu a Rosa.

—Atente-se ao que vou lhe falar. A noite está chegando e eu tenho que repousar. O Horizonte me espera, não dá para ficar mais tempo com você, embora eu saiba que você precisará de algum tempo para digerir e vivenciar tudo que irei lhe explicar. Qualquer dúvida, peça ajuda para a lua, hoje ela estará linda. Aliás, poderei usá-la como exemplo para que você compreenda melhor esta importante lição de vida.

—Que lição? Perguntou a Rosa mesclando dúvida com ansiedade.

—Eu ilumino o dia e a lua ilumina a noite. Temos o nosso valor e a nossa beleza. Temos o nosso lugar e a importância certa mediante o lugar que ocupamos. Sei que todas as flores deste jardim admiram as noites de luar.

—São lindas mesmo!

—Nem por isso eu desejo que a lua morra para que eu me sinta melhor do que sou. Tenho a minha própria importância. Sei o quanto sou importante para cada um de vocês.
Indispensável, eu diria.

—E daí? Ironizou a Rosa.— O que tudo isto tem haver com a minha doença?

—Ter certeza da nossa importância e valorizar a importância de todos que nos cercam é o passo mais importante na conquista da nossa felicidade e na eliminação do ciúme e da inveja que nascem assim que começamos a gestar as desagradáveis comparações dentro da gente.

—Ciúme, inveja... Que sentimentos são estes? Nunca ouvi falar deles.

—Mas está começando a sentir. Ciúme é esta necessidade maluca de ser o centro das atenções na vida do outro, querendo assim que este só tenha olhos para você. Se não tivéssemos que admirar a beleza do mundo e dos outros, nasceríamos cegos. Alguns até fingem não enxergar para não despertar este sentimento naqueles que se sentem inferiores, evitando assim, desagradáveis conflitos. Os que possuem visão e não enxergam são os piores cegos.

—Você quer dizer com isso que o meu amor é um ser agraciado por Deus com a dádiva de enxergar a beleza do mundo e não alguém que está traindo o amor que sinto por ele?

—Isto mesmo, Rosa! A nossa felicidade sempre dependerá do nosso ponto de vista. Procure enxergar as coisas do jeito que elas são de fato, e não da forma como a sua parte doente gostaria que fosse.

—E como a parte doente que está em mim gostaria que as coisas fossem? Perguntou, humildemente, a Rosa mudando sua feição frente a abertura aos novos aprendizados.

—A parte que adoeceu em você está exalando ciúme e inveja. Esta parte gostaria que o mundo girasse em torno de você e que, dentre todas as rosas e flores do mundo, você fosse a mais bela e a única a ser apreciada por todos.

A Rosa foi ficando mais vermelha do que era, exalando muita vergonha. Aquele sentimento novo que tomou conta de seu ser, sem que se apercebesse, era um sentimento ruim; gostaria de se livrar dele rapidamente. Mas de posse dele, parecia estar aprisionada e sem saída para o mundo encantado que vivia antes. Impotente, começou a chorar.

—Me diga, por favor! O que devo fazer para livrar-me desta doença?

—Admitir que é vítima dela já é o primeiro passo. No entanto, não poderá continuar como vítima. Deverá se responsabilizar por sua vida sabendo que possui dentro de si todos os recursos para se livrar dela. Basta usa-los. Lembre-se que você era uma rosa saudável e procure seguir o seu próprio exemplo de vida anterior, livre de comparações e deste sentimento de menos valia que se apoderou de você.

—Sinto vergonha de ter invejado as Margaridas e, com isto, desejado tanto mal a elas. Lamentou a Rosa.

—Quem inveja jamais deseja o bem para o ser invejado, pois deseja para si os atributos daquele ser que não possui. É como se o ser invejoso quisesse reter em si mesmo toda a beleza e todo o poder do mundo. Ilusoriamente, desejam ser um Deus.

A Rosa abaixou o olhar reprovando-se internamente. Queria se esconder de tanta vergonha, mas na impossibilidade de esconder de si mesma e de todos, limitou-se a ficar com seu olhar cabisbaixo por um longo tempo. Quando levantou seu olhar, o sol já não estava lá, a noite a envolvia com uma linda lua cheia a brilhar iluminando todo o jardim. Olhava para todas as flores e percebia a felicidade em cada uma delas. Sentia-se mal com a felicidade delas e agora, não só as Margaridas, mas todas as flores a incomodavam. Entretanto, o novo incômodo era diferente; já não desejava mal a elas, mas não conseguia ainda admirar aquela beleza que reinava no jardim que fazia parte. Sentia que nenhuma flor dali se importava com ela, estavam todas felizes e ela ali, triste e doente. Desanimada, pensou alto olhando para a lua que iluminava tudo e a todos:

—Agora, não tenho nem mesmo a companhia do sol...

—Mas tem a minha companhia. Interviu a lua irradiante.— A minha companhia não serve?  

—Serviria, mas você desconhece o meu problema e não tem como me ajudar.

—Mas posso conhecê-lo se você permitir. Estou disponível a ajudá-la, caso queira, é claro. Disponibilizou-se a Lua.

—Até quero, mas me dá uma preguiça ter que falar tudo de novo.

—Você não precisa falar tudo, comece por onde você terminou.

—E você entenderia se eu começasse do final?

—Que bom! Se você já está no final é porque seu problema já está resolvido.

—Quem me dera! Apenas entendi o que sinto, mas não consegui ainda mudar o sentimento dentro de mim. É como se eu tivesse mudado na cabeça e não o tivesse ainda arrancado do coração.

—Talvez seja o contrário. Certamente, você já o tirou do coração, mas  mantêm o problema vivo na sua mente.

—Sei lá, só sei que o sentimento de ciúme e inveja ainda estão dentro de mim.

—Quer dizer que você sente ciúme e inveja?

—Acho que não sinto mais nada. Olho para tudo e para todos e não vejo mais a beleza; sinto apenas um incômodo, que nem sei bem como explicar.

—Este incômodo é certamente o vazio que tomou conta de você.

—Acho que é isto mesmo! Me sinto vazia. Como você pôde descobrir se nem conhece todo meu problema?

—Os sentimentos são governados por algumas leis. O ciumento e o invejoso está sempre vazio e deseja, inicialmente, preencher este vazio com aquilo que o outro tem. Sentem muita raiva enquanto lutam para tomar do outro o que não lhes pertence e o que jamais conseguirão roubar. Quando se dão conta da impotência para mudar o que não pode ser mudado, são acometidos por uma grande tristeza e desânimo. Tomados pela depressão, se afundam, dia após dia, cada vez mais,  neste vazio sem fundo.

—Preciso de ajuda! Você tem como me tirar deste buraco fundo que caí? Suplicou a rosa desesperada e com muito medo de permanece,r infinitamente, neste inferno que a aprisionava.

—Infelizmente não posso fazer por você o que só você pode fazer por si mesma. Comece por olhar para si. Admire-se! Veja primeiro quanta beleza existe dentro de você para que depois possa, finalmente, admirar a beleza que existe no outro. No entanto, muito cuidado! Admire-se sem comparações.

Lembrando-se das últimas palavras do Sol a Rosa confabulou:

—O Sol me disse que talvez eu quisesse ser um Deus, habitar apenas em mim toda a beleza do mundo. Acho que ele tem razão. A minha própria beleza tem que me satisfazer. Estou sendo insaciável.

—Decerto! Nem Deus quis a beleza do mundo só para ele. Por isso se dividiu em todos os seres do mundo e deu para cada um deles parte de sua beleza. E há quem queira ser mais que Deus, ao invés de ser Uno; ser individualista e garantir a beleza só para si.

—Acho que o que sinto é coisa do diabo! Inferiu a Rosa com seus miolos já quentes de tanto pensar numa saída para seus problemas.

—A escolha é sua. Se desejar ser mais divina, deverá descobrir a divindade dentro de si mesma. Feita esta descoberta, você exalará o sentimento divino de querer também se dividir, se multiplicar. Estará aberta a dar e receber, pois verá riqueza em tudo que lhe rodeia.

—Temo não ter muito tempo para isto mais. Depois desta conversa, já consigo sentir a mudança operando dentro de mim, só não sei se terei tempo para vivenciá-la.

—O tempo é muito relativo. Não poderei viver mais esta noite, mas por certo, muitas outras virão. Talvez eu não possa mais encontrar com você tal qual se encontra hoje, pois o mundo gira, minha cara. Mas, encontrarei uma outra flor; diferente, mas com a tua alma.

A Rosa entendeu o recado da lua deixando duas gotas de orvalho caíram de suas pétalas. A lua me contou que nunca mais encontrou aquela Rosa invejosa e cimenta naquela roseira, mas a encontrou linda, feliz e viçosa em vários pontos daquele mesmo jardim e em centenas de outros. Fiquei, por algum tempo, sem entender como ela pôde se dividir e multiplicar ao mesmo tempo, mas, outro dia, lembrando-me de uma frase divina que diz mais ou menos assim – “Sede fecundos, multiplicai-vos” – deduzi, finalmente, o final desta história. Espero que você seja capaz de deduzir também.





ESPAÇO DE REFLEXÃO





Se você anda apresentando um dos sintomas abaixo, cuidado, pois o ciúme e a inveja podem estar começando a tomar conta de você.



(  ) Fico me comparando com os outros

(  ) As pessoas me comparam e me sinto mal com isto

(  ) Fico incomodado com aquilo que o outro tem e eu não

(  ) Sempre procuro um defeito no outro

(  ) O fracasso do outro me provoca um certo alívio e prazer

(  ) O sucesso do outro me incomoda

(  ) O amor me faz sofrer

(  ) Quero ser o centro das atenções

(  ) Sempre acho que ganho menos que o outro

(  ) Acho que gostam mais do outro do que de mim

(  ) Não gosto que o meu parceiro(a) admire outra pessoa

(  )Acho que sou um injustiçado

(  ) Fico bravo quando não fazem o que quero

(  ) Me acho pior que todo mundo ou que alguém especificamente

(  ) Quando não sou bajulado, me sinto ofendido

(  ) Sou viciado em elogio

(  ) Quero estar à frente de todos

(  ) Estou sempre avaliando todo mundo

       (  ) Me sinto avaliado o tempo todo

(  ) Acho que o outro não dá valor para aquilo que faço

(  ) Sou dependente de afeto, sofro diante da mínima falta do mesmo.

       (  ) Só suporto a felicidade do outro se eu estiver por perto para usufruí-la também

       (  ) Controlo ou desejo controlar cada passo do outro

       (  ) Quero para mim o que é do outro

(  ) Não consigo admirar ninguém, nem a mim mesmo

(  ) Fico incomodado com tudo aquilo que não é perfeito em mim

(  ) Sou possessivo

(  ) As minhas carências tornam severas as minhas exigências para com o outro

(  ) O meu olhar sempre se dirige para a mesma direção; especialmente para as minhas faltas

(  ) Dou muita importância às aparências

(  ) Quero mostrar mais do que sou e que tenho de fato





DESAFIO





Procure 5 qualidades em alguém que voce inveja ou possui muito ciúme. Procure identificar se lhe falta estas virtudes ou se voce se sente ameaçado e diminuído diante delas.