VIVO
QUASE CHEGOU A MORRER
DENTRO DE MIM.
MORTO
ANDA TÃO VIVO AQUI
DENTRO
QUE CHEGO A
PROCURA-LO FORA.
LÁ FORA ENCONTRO
APENAS
UMA SEPULTURA COM SEU
NOME.
AQUI DENTRO
O MEU AMOR SOBREVIVE
NÃO ACEITA MORRER.
VIVA
MORRO
DEVAGAR
A VAGAR PELO DESEJO
DE ENCONTRAR
O QUE FICOU
PERDIDO.
ENCONTRANDO APENAS
O
NOSSO DESENCONTRO
NÃO CONSIGO MAIS ME
ENCONTRAR.
PERDIDA DE VOCÊ
PERDIDA EM MIM
ANDO TITUBEANDO
ESBARRANDO
NAS ARESTAS DE UMA
HISTÓRIA
QUE NÃO PODE SER MAIS
RESTANDO-ME O
CONTENTAMENTO
DE CONTA-LA, APENAS
VIVÊ-LA...
JAMAIS
VAZIA
PREENCHO-ME
DO QUE NÃO PODE SER
NUTRINDO-ME DE FALTAS
NOCAUTEANDO A ALEGRIA
QUE DESEJA VENCER
O INIMIGO QUE EU
NUTRO
NO MEU SER
QUE NÃO ME DEIXA SER
FELIZ
MEU SER TRISTE
SE ENGRANDECE
COM A SUA FALTA
E COM A FALTA
DAQUILO QUE EU
PODERIA SER.
SEM VOCÊ
SEM MEU PODEROSO EU
PERDIDO
FICO SOZINHA
COM O PSEUDO SER
DAS MINHAS SOMBRAS.
O NÓ DA TRISTEZA PATOLÓGICA
Sônia
tornou-se, ao longo da vida, uma especialista. Há vários tipos de especialistas,
principalmente, na área médica. Há médicos que tratam das mais variadas dores.
Sônia não era médica, mas era especialista em dor; não era especialista no
tratamento de dores, mas no cultivo delas. Parecia sentir certo prazer em
sentir-se triste. A dor da tristeza preenchia seu mundo vazio.
Os olhos de
Sônia sempre procuravam as trevas. Toda luz que incidisse sobre sua vida era
apagada, rapidamente, com seu humor constantemente deprimido. Era especialista
em procurar problemas insolúveis mesmo em circunstâncias onde as soluções eram
evidentes. Procurava a solidão mesmo quando um grande amor procurava o seu
aconchego. Não abria seu coração. Mantinha suas portas sempre bem trancadas
para não ter que dividir seu mundo e seu espaço com mais ninguém que não fosse
ela mesma. Foi diagnosticada como deprimida. Tomou inúmeros antidepressivos,
tratou com os melhores e mais variados
profissionais de saúde, aderiu a vários cultos religiosos, mas nada
conseguiu despertar a felicidade adormecida ou mortificada em seu ser doentio, obcecado pela tristeza.
Sônia tornou-se
uma mulher, eternamente, insatisfeita. Não conseguiu amar e nem mesmo se sentir
amada por ninguém, embora se considerasse uma pessoa amorosa. Confundia
possessividade com amor. “Tinha” seus amores, mas não conseguia “sentir” seus
amores. Não encontrou nenhuma profissão
que a preenchesse de fato. Trabalhava por obrigação e não por prazer. Aliás,
prazer era uma coisa que não sabia vivenciar; só o prazer de ser uma pessoa
doída.
Quem observava
o mundo que envolvia Sônia, chegava a pensar que ela tinha todos os motivos
para ser uma pessoa feliz e bem sucedida. Sempre teve uma boa posição social,
um ótimo emprego e salário, morava num bairro maravilhoso, num ótimo apartamento, tinha muitos bens,
recursos materiais e inúmeras pessoas que lhe amavam ao seu redor; enfim, era
dotada de uma vida farta, relativamente sem dificuldades. Mas, nada do que
tinha seduzia esta mulher viciada em dificuldades, em faltas e em tudo aquilo
que ficou perdido. Sônia matou, lentamente, quase todos os seus amores e suas
conquistas. Nunca valorizou as dádivas ofertadas pela vida, só as perdas.
Parecia se sentir nutrida apenas com aquilo que lhe faltava. Nutria-se de dor.
Pode parecer loucura, mas este é único
alimento que saciava a sua fome
de ser uma mulher que se identificava, sobretudo, com a infelicidade.
Tristeza faz parte da vida, mas não precisa ser o
nosso pão do dia a dia. Tristeza deve ser consequência e não o nosso alimento e
meta de vida. É inevitável, natural e saudável expressar tristeza quando a
perda nos atinge. Existe sempre uma perda por detrás da tristeza. Precisamos
enfrenta-la e transforma-la para que a verdadeira alegria possa novamente
habitar o cenário de nossa vida. A negação da tristeza não trás nenhum bem
estar a nenhuma criatura. Fingir alegria não transmuta nenhuma energia
negativa. No entanto, todo problema existe para ser resolvido e transmutado.
Talvez, a melhor definição para o termo saúde seja a “capacidade de sair do problema”. E, a melhor definição para o termo
doença seja “a permanência no problema”.
Elaborar o perdido é um processo difícil e doído, no
entanto, fundamental ao nosso crescimento e amadurecimento psicológico. Há, entretanto, pessoas que se negam elaborar
qualquer perda, mínima que seja. Como Sônia, ao invés de tratarem da dor,
alimentam-na e fortalecem a negatividade. A tristeza deixa de ser uma
consequência de uma perda para se transformar numa fonte que abastece a própria
vida. A convivência com pessoas assim é sempre muito difícil, pois estas
criaturas são, demasiadamente, destrutivas e negativas; fazem sempre questão de
se resvalarem nas arestas de todo relacionamento para infundirem feridas em seu
ser doentio que possam se transformar em motivo de dor e sofrimento. A
felicidade é indesejada e, de certa
forma, um incômodo para os viciados em dor. Pode parecer um paradoxo, mas a
infelicidade passa a ser a “felicidade” almejada. Tem gente assim? Tem muita
gente assim. Aliás, mesmo que não sejamos assim, possuímos uma tendência a
vivenciar, vez ou outra, este padrão de comportamento. Em algumas pessoas, esta
característica passa a ser um padrão de comportamento frequente e definitivo,
em outras, um traço esporádico que aparece de vez em quando. Muitas mulheres, por exemplo, manifestam este
traço de comportamento negativista e deprimido no inconveniente período da TPM.
É importante lembrar que durante este período o corpo da mulher se prepara para
receber um outro ser. É como se houvesse uma abertura para que ela possa
receber e nutrir um outro espírito. Se
ela não engravida de um ser humano, a sintonia da mulher nesta fase, vai fazer
com que ela se engravide de energias
negativas ou positivas. A negatividade que existe dentro de nosso ser pode
tornar este período insuportável.
Personalidades negativas possuem uma forte tendência à depressão, embora a
depressão não seja uma doença causada apenas por este padrão comportamental. Há
inúmeros fatores capazes de gerar uma predisposição
ou desencadear a depressão, dentre eles, fatores genéticos. Há, portanto, pessoas deprimidas que não se encaixam dentro
deste perfil.
Os viciados em dor não desejam nunca curar as próprias
feridas. Cutucam-nas para que possam abri-las um pouco mais e acentuar a dor.
Não conseguem preencher a vida com os habituais prazeres que a grande maioria
se abastece. A tristeza é o grande combustível capaz de mover a vida destas
pessoas; sem ela, não conseguem sentir.
Não adianta querer ajudar este tipo de pessoa a
cultivar prazer na vida ou a curar a tristeza por eles tão vangloriada. Falam
de suas tristezas como se não gostassem dela, no entanto, não abrem mão da
mesma. Estão sempre à procura de problemas e do lado negro da vida e de todas
as pessoas que lhe cercam. São povoados por um vazio capaz de ser preenchido
apenas pela falta. Paradoxal. Como pode a falta preencher um vazio? A falta é
repleta de contextos de vida trágicos, negativos que nos enchem de tristeza e amargura.
Há paladar para tudo. Há quem goste do sabor da dor e se vicie no desejo de ter
o que nunca poderá ser possuído. Se possuído, perde o encanto e um novo desejo
impossível nasce infundindo novamente uma falta que gera um desprazer,
paradoxalmente, prazeroso para mantê-lo neste ciclo vicioso. Para algumas
pessoas a vida deve ser pesada para ser sentida. A capacidade de sentir
encontra-se bloqueada por certa insensibilidade. É como se o toque da leveza não
pudesse ser sentido, só a dureza e a aspereza. É como se houvesse uma roupagem muito pesada para proteger a sua
pele emocional impedindo que toques leves e suaves possam ser percebidos.
Provavelmente, em algum momento da vida
foram significativamente feridos precisando, como defesa, confeccionar uma
véstia emocional bem grossa para se
proteger de novas feridas. Com uma véstia assim, só situações bem pesadas
conseguem tocar este pele tão protegida. E como precisamos do toque para
sentirmos vivos, só uma “porrada” muito grande despertará sensações
significativas nestas pessoas.
Há cura para este tipo de personalidade? Há cura para
tudo, dependendo da abertura e da sintonia da pessoa envolvida neste processo
de cultivar a dor. O caminho da conscientização é sempre o primeiro passo.
Difícil entender a dinâmica do ser doído. Talvez seja melhor entender tudo isto de uma
forma mais lúdica. Nada melhor do que uma boa história para ajudar nossa
criança interna entender esta complexidade toda.
TRISTIXINHA
Era uma vez uma lagartixa chamada Tristixinha que
nasceu num sobrado abandonado. A história dela começa mais ou menos assim...
Crac, crac. A casca de um pequeno ovo foi,
repentinamente, rompida e de lá saiu uma linda lagartixa. Seus olhos assustados
olharam o mundo procurando algo que nem ela sabia bem o quê. Como todo
recém-nascido, provavelmente, por uma mãe que lhe pudesse dar proteção e
referências neste novo mundo tão amplo e desconhecido. Mas, o que encontrou foi
apenas um sobrado antigo, abandonado e a si mesma no meio disto tudo. O que
fazer agora? Sobreviver! Ecoou dentro de si um eco vindo de seu mundo
instintivo. E, foi neste mundo
instintivo que Tristixinha buscou todas as informações para poder sobreviver,
crescer e se defender de todos os perigos; aprendeu a caçar sozinha seu
alimento, se cuidar e se proteger.
Sobreviveu, cresceu e se tornou uma linda lagartixa. Vivia
sozinha, sem saber bem o que era tristeza ou alegria. Vivia uma vida vazia onde
sobreviver era o grande lema de sua vida. Tinha a adrenalina como companhia quando algum
perigo punha em risco a sua vida. Mas, passado o perigo, a monotonia tomava
conta. Tomada, constantemente, por esta energia, resolveu, certo dia, conversar
com ela:
_ Quem é você que me invade tanto todos os
dias?
_
Sou a Dona Monotonia. Respondeu aquele sentimento incômodo.
_ Mas,
a sua companhia é muito chata! Daria para me deixar em paz? Reclamou a
lagartixinha exibindo uma careta bem feia.
_ Para
isto precisaria chamar a Dona Felicidade. Ela, com certeza, vai preencher a sua
vida com alguma coisa interessante. Ponderou Dona Monotonia sem se sentir
incomodada com o incômodo de Tristixinha.
_E
você?.. Não poderia preencher a minha vida com estas coisas interessantes?
Retrucou a lagartixa.
_Infelizmente,
não. Eu só preencho a vida das pessoas com o nada. Nada mais do que isto.
Respondeu, com firmeza, Dona Monotonia.
_ Nada! Como assim? Perguntou a
lagartixa com uma expressão confusa.
_ Nada
que provoque um sentimento bom ou ruim. Preencho com o vazio. E, pelo que vejo,
meu vazio deve ser cheio de coisas chatas, pois a maioria das pessoas reclamam
que estão cheias do vazio que lhes oferto. Por outro lado, não fazem nada verdadeiramente efetivo para
sair dele. Embora reclamem, acho que acabam gostando dele. Salientou Dona Monotonia.
_
Mas, eu não estou gostando nem um pouco deste vazio. Você poderia me dizer onde
eu posso encontrar esta Dona Felicidade? Solicitou Tristixinha.
_ Ela
costuma estar em todos os lugares, mas nem sempre conseguimos enxerga-la. Eu,
por exemplo, nunca consegui ver a cara dela. Dizem que é preciso estar atenta.
Abra bem seus olhinhos! Quem sabe assim, você consegue enxerga-la ou mais do
que isto, senti-la. Alertou Dona Monotonia.
_ Enxerga-la
e senti-la? Não entendi. Dá para explicar melhor? Solicitou a lagartixa.
_ Dizem
que tem gente que consegue enxergar Dona Felicidade, mas não consegue senti-la.
Mas, não me pergunte o por que; porque como eu lhe disse, “nada” é quase tudo
que eu sei. Até encontra-la, contente-se com a minha companhia. Uma vida
monótona pode não ser uma vida tão interessante, mas é uma forma de vida,
principalmente para aqueles que não encontram uma forma de viver que valha à
pena. Aconselhou Dona Monotonia.
_ Mas,
o que vale à pena viver? Perguntou a lagartixa colocando suas mãozinhas na
cintura e batendo seus pezinhos no chão como se tivesse ao mesmo tempo fazendo
uma reivindicação.
_ Eu
não sei nada sobre isto, mas ouvi dizer por aí que, o que vale à pena é aquilo
que nos retira a pena que a gente se impõe pagar todos os dias. Confesso que
não entendi... Admitiu Dona Monotonia.
Tristixinha também não entendeu e não gostou muito das
colocações de Dona Monotonia, mas teve que aceitar e se contentar com a marcante presença dela ,
sempre ali, sem faze-la sentir algo que desse um sentido à sua vida. Absorta em
seus pensamentos sobre o sentido da vida e sobre a pena que Dona Monotonia
fizera referência, foi despertada por um barulho estranho vindo da cozinha
daquele sobrado a tantos anos totalmente abandonado. Correu até lá e surpreendeu-se.
Deparou-se com uma família de lagartixas decididas a mudar para aquele local. Os
olhos de Tristixinha se arregalaram. Com seus olhinhos bem arregalados deixou
de sentir Dona Monotonia e foi tomada pelo sentimento de ameaça. Escondeu-se
atrás de um velho armário, também abandonado, e pôs-se a observar o
comportamento daqueles seres tão diferentes dela. Aos olhos de Tristixinha, a
diferença era tão grande que jamais poderia supor que se tratava de seres da
sua espécie. Ao longo do tempo que as fitou atentamente, presenciou atitudes
jamais imaginadas; aquelas lagartixas davam estridentes risadas, se abraçavam,
dançavam, contavam histórias inéditas que Tristixinha não conseguia absorver. Que sentimento era
aquele vivenciado por aqueles seres tão estranhos? Seria a Dona Felicidade comentada por Dona
Monotonia? Tristixinha passou muitos dias escondida, observando aquela forma
estranha de ser que ela desconhecia. Tinha vontade de experimentar aqueles
sentimentos novos e estranhos expressados, naturalmente, por todas elas, mas
não conseguia. Teve vontade de roubar estes sentimentos de uma delas, mas não
sabia como fazer isto. Se soubesse
faria, pois um sentimento novo começou habitar aquela lagartixinha; começou a
sentir falta daquilo que nunca sentiu, mas que assistia
escondida por detrás daquele armário abandonado. Mesmo sem ter um dia
experimentado ou possuído aquilo tudo, sentiu-se invadida pelo sentimento de
falta. Tinha a sensação de que algo lhe foi roubado pela vida e uma sensação
ainda maior de perda tomou conta de seu ser. De posse destas sensações novas,
Dona Monotonia nunca mais apareceu, mas Tristixinha passou a ser preenchida por
um sentimento novo até então desconhecido. Confusa, resolveu travar uma nova
conversa com esta energia nova que tomava conta de seu ser:
_Quem
é você que me preenche com tanta intensidade?
_ Sou
Dona Tristeza. Respondeu aquele sentimento novo.
_ Dói
muito sentir você. Reclamou Tristixinha.
_ Então,
está tudo certo, pois é justamente esta a minha função; faze-la sentir dor. Esclareceu
Dona Tristeza.
_ Mas,
eu não quero sentir dor. Retrucou Tristixinha.
_ Então,
me retire de seu ser. Eu não tenho o poder de permanecer dentro de você, caso
não me permita residir aqui. Informou Dona Tristeza.
_ E,
como é que posso tirar você de dentro de mim? Perguntou Tristixinha.
_ Abrindo
espaços para a alegria, por exemplo. Se ela entrar, eu saio. Temos frequências
energéticas opostas e não suportamos coexistirmos juntas. Salientou Dona
Tristeza.
_ Você
deseja ficar ou sair de dentro de mim? Indagou Tristixinha.
_ Eu
não desejo nada. Apenas, realizo o seu desejo de me manter aqui dentro ou de
sair em busca de outro ser. Sendo mais clara...Você deseja! Esclareceu Dona
Tristeza.
Apontando para as Lagartixas que conversavam,
alegremente, numa farta mesa de lanche, à base de mosquitinhos de inúmeras
espécies, Tristixinha perguntou:
_Você
as habita também?
_ Às
vezes, mas não consigo permanecer dentro delas por muito tempo. Elas
possuem uma energia poderosa dentro
delas que me acolhe por certo tempo, mas acaba me expulsando, em algum momento,
e cedendo espaço para a alegria entrar.
_ Que
energia é esta? Perguntou Tristixinha exalando muita curiosidade.
_ Dona Felicidade. Poderosíssima! Exclamou
Dona Tristeza expressando certo respeito e admiração por aquela energia .
_ Não entendi muito bem! Por que ela deixa
você entrar e depois te expulsa de lá. Perguntou Tristixinha franzindo sua
testa.
_ Ela, inclusive, sempre me agradece quando eu vou
embora. Sempre diz ser necessária minha presença, porém equilibrada, na vida das
pessoas. Ponderou Dona Tristeza.
_ Presença
equilibrada desta dor que você nos oferta? Como assim? Perguntou confusa a
lagartixinha tristonha.
_ Não
sei lhe explicar muito bem. Você teria que acolher a Felicidade dentro de você
para entender tudo isto na prática. A única coisa que ela sempre diz é que o
equilíbrio oferta saúde, maturidade e iluminação para todos os seres. Alertou Dona Tristeza.
_
Eu quero estas coisas. Parece serem boas! Se eu te mandar embora agora, você
vai, Dona Tristeza? Demandou Tristixinha.
_ É
claro que vou! Mas, você quer isto mesmo? Afirmou Dona Tristeza indagando, ao
mesmo tempo, o verdadeiro desejo de Tristixinha.
_ Tem, por acaso, alguém que não quer?
Perguntou a lagartixinha movimentando sua calda.
_ Tem
muita gente que só me quer passageira. São aquelas pessoas dotadas de
Felicidade. Outras, entretanto, me querem definitiva. Colocam a minha energia
em tudo que pensam e fazem. Estão semmmpre tristonhas! Chegam, algumas vezes, a
contrair uma doença chamada depressão que lhes rendem uma nova identidade. Explicou
Dona Tristeza.
_ Identidade?
O que é isto?
_ Identidade
é como se fosse o seu rótulo, a sua marca. Estas pessoas passam a ter o rótulo de depressivas e parecem ganhar
algumas coisas com isto. Conjecturou Dona Tristeza.
_ O
que elas ganham?
_ Muitas
coisas! Cuidados médicos, atenção ou até mesmo a falta de atenção do outro que
passa a não suporta-las. Mas, vítimas da falta de atenção ou de qualquer outra
falta, elas ganham um álibi poderoso para me manter dentro delas. Acho que sou,
de certa forma, viciante. Completou Dona Tristeza dando uma risadinha
sarcástica.
_ Viciante?
O que é isto? Perguntou, novamente, Tristixinha querendo compreender este mundo
complexo relatado por Dona Tristeza.
_ É
o que me mantem dentro de você. Se não estivesse viciada em mim, já me teria
mandado embora a muito tempo. Não
ficaria me perguntando se eu iria embora. Você me colocaria para fora de você e
pronto. Já faz muito tempo que estou dentro de ti. Já teve tempo suficiente
para viver a minha dor e aprender com
ela algumas coisas. Se me mantem aí dentro é porque está viciada em mim. Você
deseja ser uma lagartixa triste. De hoje em diante, lhe darei uma identidade
nova. Seu nome passa a ser Tristixinha – a lagartixinha triste. Ironizou Dona
Tristeza criando esta identidade para
Tristixinha.
_ Mas,
eu quero ser uma lagartixinha alegre. Afirmou Tristixinha se opondo à Dona
Tristeza.
_ Alegrixinha
são as lagartixas que você fica assistindo todos os dias sem, no entanto, ter
coragem de se aproximar delas. Sem perceber, se seduz a ter a vida delas ao invés de construir a sua.
Começou a ser habitada por Dona Inveja que precisa da minha mãozinha para se
manter atuante na sua vida. Se tiver coragem de construir uma vida diferente,
provavelmente, teremos que abandonar você. Por outro lado... Antes que Dona
Tristeza continuasse falando, foi interrompida pela lagartixinha que se
expressou apavorada:
_ Mas,
eu não quero ser abandonada! Fui vítima do abandono desde o meu nascimento. Não
tenho nada daquilo que as alegrixinhas possuem.
_ Você
quer dizer que não possui um pai, uma mãe, enfim ,uma família e amigos ? Acho que tem medo de ser abandonada
até mesmo por mim. Foi por isso que lhe perguntei se desejava mesmo ser
abandonada pela dor que lhe proporciono. Parece que te preencho de alguma
forma. Mas, há outras maneiras de se preencher. Assegurou Dona Tristeza.
_ Como?
Me ensine, por favor! Implorou Tristixinha.
_ Eu
não tenho como lhe ensinar isto. Só posso lhe proporcionar o saber da dor. Mais
nada além disto. Afirmou Dona Tristeza.
Tristixinha caiu em prantos pela primeira vez. Nunca
havia chorado na vida. Sentiu que aquele choro era bom; aliviava um pouco a
presença da dor e lhe fazia se sentir mais leve. A tristeza pesa; pesa tanto
que, nos últimos tempos, Tristixinha não
conseguia nem se mover mais com facilidade. Cada movimento solicitava um
esforço fenomenal. E, sem movimento, fica difícil ir em busca de coisas novas.
Um pouco mais aliviada e relaxada, caiu no sono e dormiu profundamente. Foi
acordada por uma alegrixinha que bateu, carinhosamente, em suas costas,
despertando-a:
_ Ei,
quem é você? Você está bem? Precisa de ajuda?
Tristixinha arregalou seus olhinhos assustados e
congelou-se. Não conseguia movimentar-se para fugir e nem mesmo para dizer
alguma coisa.
A
alegrixinha assustada com a reação de Tristixinha chamou, apavorada, toda a
família:
_ Socorro!
Venham aqui atrás do armário. Temos um grande problema aqui.
A família, unida, correu até aquela parte da casa, até
então desconhecida para todos e se depararam com Tristixinha congelada. Naquela
momento, aquela lagartixinha triste deixou de ter qualquer sentimento.
Anestesiou-se. Não sentia tristeza, medo, monotonia nem mesmo a alegria tão
desejada. Parecia uma pedra de gelo. Cada membro da família das alegrixinhas
tecia um comentário:
_ Ela
parece uma estátua.
_ Mas,
ela não é estátua não. È uma lagartixa como todos nós. Está gelada. _ Parece
uma pedra de gelo.
_ O
que podemos fazer por ela, mamãe?
_ Vamos
cuidar dela. Respondeu a mamãe alegrixinha se aproximando ainda mais daquela
lagartixa congelada, colocando as mãozinhas sobre o seu rostinho, acariciando-a.
_ Com
certeza, precisamos cuidar dela. Mas, por onde devemos começar? Perguntou o pai
de todas as alegrixinhas.
_ Que
tal uma massagem daquelas bem gostosas que a senhora faz na gente, mamãe.
Ficamos tão relaxadas com seu toque. Talvez, ela possa relaxar também. Sugeriu
a alegrixinha mais velha.
_
Mais do que isto... Precisamos aquecer com o nosso toque este corpinho que
parece nunca ter sido tocado. Completou a mãe.
_ Olha
como a pele dela está ressecada e pálida. É pele de quem vive uma vida árida e
de quem está seca por dentro. Precisamos hidrata-la com o nosso amor. Emendou o
pai dando sequencia às observações da esposa.
A família inteira carregou Tristixinha até um dos
cantinhos preferidos do sobrado, eleitos por elas, como a sala de massagem. Puxaram-na
pelas perninhas e foram arrastando-a, com todo cuidado, para não causarem
nenhuma dor física ao corpinho da mesma.
_Cuidado
para não machuca-la! Carreguem com cuidado para ela não ficar com o corpo todo
doendo amanhã.
Mamãe alegrixinha colocou suas mãos preciosas sobre
aquele gélido corpinho e iniciou uma
massagem que durou mais de uma hora. À medida que massageava, o sangue de Tristixinha
corria por todas as partes de seu corpo levando uma informação nova. Seu
corpinho parecia dizer:
_ Mudança
à vista!
Lentamente, seu corpo foi se esquentando e alguns
tímidos movimentos começaram a brotar de suas mãozinhas. Tristixinha sentiu uma sensação tão nova e tão
prazerosa que não se permitia abrir seus olhinhos. A única coisa que queria,
naquele momento mágico, era experimentar aquele toque. Entregou o seu corpinho,
totalmente, para mamãe alegrixinha que doava muito mais do que um toque físico;
doava um toque que Tristixinha jamais houvera experimentado antes – o toque do
amor.
Terminada a massagem, Tristixinha abriu seus olhinhos.
Seu olhar foi recebido por um outro olhar muito afetuoso. Mamãe alegrixinha lhe
ofertou um sorriso, expressando um
convite jamais realizado por nenhum outro ser àquela lagartixa:
_ Seja
benvinda! Estamos aqui para cuidar de você. Não precisa ter medo. Não lhe
faremos mal algum. Só queremos lhe proteger.
_ Quem
são vocês? Perguntou Tristixinha.
_ Somos
uma família de lagartixas. Onde está a sua família? Perguntou a mamãe alegrixinha.
_ Eu
nunca tive uma família, moro sozinha neste sobrado desde o dia em que nasci.
_ Como
conseguiu sobreviver? Perguntaram todas as alegrixinhas em coro.
_ Você deve ser muito esperta. Se desejar, pode
fazer parte de nossa família agora. Teremos o maior prazer em tê-la ao nosso
lado. Afirmou o pai com uma autoridade afetuosa.
_ Mas
eu não sei como fazer parte de uma família. Sou muito diferente de vocês. Pode
ser que vocês não consigam gostar de mim. Lamentou Tristixinha.
_ Nós
já estamos gostando de você. Como você se chama? Perguntou a mãe alegrixinha.
_ Fui
rotulada de Tristixinha por Dona Tristeza que me habitou por muito tempo. Respondeu
a lagartixinha, naquele momento, sem a tristeza dentro dela.
_ E
agora, ela não lhe habita mais? Perguntou a alegrixinha mais nova.
_ Depois
que fui massageada por vocês, não consigo senti-la mais aqui dentro. Acho que
ela me abandonou. Tenho medo de me sentir sozinha e vazia sem a companhia dela.
Salientou Tristixinha exalando certa preocupação.
_ Você
está se sentindo vazia e sozinha? Perguntou o pai.
_
Não, nem um pouco! Sinto um sentimento muito bom dentro de mim, mas não sei
ainda do que se trata. Ele parece estar tomando conta de meu ser devagarinho. A
cada minuto que passo com vocês, sinto cada vez mais forte a presença deste
novo sentimento. Explicou Tristixinha começando a cultivar a alegria dentro
dela.
_
Você quer deixa-lo entrar e habitar o seu coração ou deseja chamar Dona
Tristeza de volta para lhe fazer companhia? Perguntou o pai.
_ Embora
eu não conheça este sentimento novo e já conheça bem Dona Tristeza, prefiro
arriscar. Vou deixar ele entrar e me habitar. Se eu não gostar dele, mando ele
embora. Na verdade, talvez nem precise fazer isto, pois Dona Tristeza me abandonou sem que eu tivesse
que expulsa-la de dentro de mim. Deduziu a lagartixinha, agora, com outros
sentimentos dentro dela.
_ Basta
deixar entrar um sentimento para que outros saiam ou entre outros junto com
ele. Todos os sentimentos que possuem a mesma frequência de energia andam
juntos. Quando deixou o amor que sinto por você entrar, parece que a alegria
começou a habitar você também. Vejo uma série de outros sentimentos na porta de
seu coração pedindo para entrar também. Vejo a paz, a esperança, enfim uma
infinidade de sentimentos bons querendo habita-la. Alertou a mãe alegrixinha.
_ Pois
eu vou deixa-los entrar! Exclamou Tristixinha com uma convicção jamais
vivenciada antes.
_ E
eu vou, de hoje em diante, lhe dar um outro nome. Daqui para frente, chamaremos
você de Felixinha. Determinou a mãe das alegrixinhas dando um largo sorriso que
além de acolher a nova lagartixinha, lhe proporcionava muita segurança.
Tristixinha foi abrindo seu coração devagarinho e a
felicidade foi entrando, também, devagarinho. Quando se deu conta, era só
felicidade! Ao longo de sua vida, pôde encontrar, de vez em quando, com Dona
Tristeza. Só que depois que se tornou uma Felixinha, a tristeza entrava e saia rapidamente. Ela
nunca mais foi a única moradora de seu coração. Até o sobrado se alegrou com a
chegada das alegrixinhas e com a importante mudança daquela lagartixinha que de
tristonha se transformou para sempre em uma lagartixa feliz. Hoje, depois de
muitos e muitos anos, a Tristixinha só
existe na lembrança de uma família de lagartixas felixinhas. E, quando alguma
lagartixa é tomada por uma tristeza duradoura, todas as outras lagartixas
recomendam: Se deseja a cura, abra seu coração e siga o exemplo de nossa
antepassada e sábia Felixinha.
ESPAÇO DE REFLEXÃO
1)Quando
a tristeza chega em sua vida, é ela quem comanda o espaço que vai habitar ou é
você quem comanda o espaço e o tempo que
dará a ela ?
2)Você
cala sua tristeza fingindo que ela não existe, ou escuta o que ela tem a lhe
dizer?
3)
Quando chega a hora da tristeza partir, você deixa ela ir embora ou você se
apega a ela, aprisionando-a dentro de ti?
DESAFIO
TRANSMUTAÇÃO!
Este é o grande desafio para quem deseja se
livrar da tristeza. Não basta manda-la embora. É necessário transforma-la.
Antes dela se transformar em alegria ou qualquer outro sentimento, é necessário
transforma-la em sabedoria. Para isto, você precisa fazer uma importante
descoberta. Precisa descobrir que a tristeza veio a serviço de alguma coisa que
você precisa vivenciar para amadurecer . Ela deseja desperta-lo para qual
aprendizado?
Depois
de vivê-la dentro do tempo necessário para este aprendizado, converse consigo
mesmo:
A minha tristeza me ensinou que...
Descobrindo
o que aprendeu com esta tristeza, é chegada a hora de mudar de sentimento. Você não precisa mandar
a tristeza embora, ela vai sozinha. Você precisa apenas mudar a sua vida. Para
isto responda para si mesmo:
O que precisa ser mudado na minha vida
daqui para frente?
De
posse desta resposta...
MUDE!
E
a tristeza partirá.