sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

QUANDO DEUS SE TORNA UM NÓ



QUE DEUS É ESSE
QUE DESEJA MAIS
QUE O MAIS MISERÁVEL HUMANO.
EGOCÊNTRICO E CONTROLADOR,
POR DEMAIS DESUMANO,
ROUBA DA HUMANIDADE
O DIREITO DE DECIDIR
O SEU PRÓPRIO DESTINO.
PAI CRUEL
DITADOR IMPLACÁVEL
NOS FAZ FANTOCHES
OU MEDÍOCRES E ETERNAS CRIANÇAS AMEDRONTADAS
DITA AS REGRAS
RESTANDO-NOS, APENAS
O DIVERTIDO SABOR DE BURLÁ-LAS.
QUE DEUS É ESSE
QUE NOS ESCRAVIZA
SENHOR DE TUDO
CHIBATA A NOSSA ALMA
COM A SUA PREPOTÊNCIA
PRENDENDO-NOS NO TRONCO
DE SUA ONIPOTÊNCIA
ALGEMANDO NOSSO PODER
COM SUA VAIDADE
DE PODER MAIS
DE PODER TUDO
PODER SOBRETUDO CONFUNDIR
A DÉBIL CABEÇA DO SER
QUE O CRIOU
À SUA IMAGEM E SEMELHANÇA.




Soledade era uma mulher acomodada e medrosa. Vivia lamentando o fracasso de seu relacionamento com o marido que se portava como um verdadeiro carrasco, agredindo-a moral e fisicamente quase todos os dias e traindo-a abertamente. Com a auto-estima ferida e querendo se tornar mártir de uma batalha em vão, procurava dentro de si uma imagem que pudesse satisfazê-la. Ser a vítima dos desejos de Deus era, com certeza, uma causa justa e nobre. Assim, justificava seus medos e comodismo diante da vida com o seguinte discurso:
Sigo a vontade de Deus. Quando Eva pecou, Deus concedeu a todas as mulheres o destino de ter seu desejo impelido ao seu marido e a ele ser dominada. Sigo a minha sina e se Deus quiser darei conta de cumpri-la segundo seu desejo.
E, assim, Soledade viveu apenas a dor de um relacionamento que já nasceu morto, mas, que no entanto, ela velou durante toda a vida até finalmente criar um câncer fatal que pudesse fazer por ela o que jamais deu conta de fazer – separar-se de sua dor.


Ainda existem muitas Soledades neste mundo. Mulheres que não dando conta da própria vida atribuem a Deus esta responsabilidade. Mulheres que não conseguindo se agradar e construir uma imagem que lhes agrade, tratam de construir uma imagem que possa agradar a um suposto Deus que as obseda o tempo todo. Obsedadas por seus homens, inclusive por este Deus homem, manipulador, todo poderoso e senhor de todas elas, escravizam-se, restando-lhes a nobre missão de construir uma imagem de “santa”. E assim, vivem travestidas para auto se afirmarem como mulheres devotas, resignadas e bondosas. Só não conseguem ser devotadas aos seus sonhos e bondosas com elas próprias. Jamais conseguem responder a uma simples pergunta: "O que existe de virtuoso e divino em ser bom para com o outro e terrível para consigo mesmo?"
Mulheres e homens justificam sua impotência, comodismo e temores diante da vida com o famoso discurso do “Se Deus quiser”. Deus, querendo, nos exime de nossos desejos. Podemos assim, representar e assumir a condição de inativo. Para quem não descobriu ou não deseja se comprometer com seu potencial e com as suas limitações é mais fácil agir como um "morto" – aquele que nada decide. O morto perde a responsabilidade, não é obrigado a responder por seus atos. Ter responsabilidade é um fardo pesado demais para os fracos e acomodados. A morte do sujeito, agente e construtor de sua própria história, traz consigo o nascimento da vítima, sujeita aos desejos, mandos e desmandos de um outro ser cruel e manipulador. Tem muita gente que prefere viver o papel de vítima. Para se tornar vítima é preciso transformar o outro num vilão. Para isto, a vítima não acolhe a felicidade, por mais que esta lhe seja oferecida gratuitamente. Assim, só um Deus bem parecido com o vilão que necessita e reverencia terá espaços em sua vida. Só ele é capaz de proteger o seu precioso papel de vítima.
Colocamos desejos em Deus para não termos que desejar o que tememos não dar conta. Deus se torna um ser insaciável para saciar o nosso desejo de não ter que cumprir com o nosso dever de agir e construir um mundo melhor. Chego a ter pena deste Deus, pois com tanta responsabilidade atribuída ao mesmo ele deve estar por demais estressado. Estresse gera irritação e raiva e, consequentemente, um Deus irritado e colérico na vida de quem demanda tais sentimentos.
Este Deus criado à imagem e semelhança do homem representa um verdadeiro nó ao nosso desenvolvimento. Ele rouba do homem a capacidade de buscar alternativas e saídas para os seus problemas. É como se a solução viesse sempre lá de cima e nós, aqui embaixo, cumprimos apenas o papel de espectador.
O Deus de nosso discurso representa sempre os interesses das grandes instituições religiosas, políticas e de indivíduos manipuladores e acomodados. Diante disto, muitos conflitos e problemas que vivemos hoje não são resolvidos por que “Deus quer”. E, se “Deus quer”, eu não preciso querer nada. Melhor deixar ele decidir, por mais injustas e diabólicas que sejam tais decisões. Deus é mais ou menos exigente dependendo do país, da cultura ou da religião que você se insere. Por detrás de um Deus, há sempre grandes interesses. Pessoas alienadas serão incapazes de perceber que certos interesses divinos são construções da mais baixa categoria humana. A aprovação deste perfil divino tem uma íntima relação com os interesses e aceitação de grupos sociais dominantes. Temos muitos exemplos ilustrativos. Em alguns contextos, Deus não aceita o controle de natalidade, impondo ao homem a triste sina de parir indiscriminadamente, aumentando a fome e a miséria num mundo que não possui recursos ilimitados. Assim, o ser humano não precisa aprender a utilizar a sua energia sexual de forma consciente e saudável, pois toda criança que vier ao mundo é porque Deus quis e nunca por ignorância ou irresponsabilidade de um ser inconsequente e alienado que, muitas vezes, não a deseja e não possui condições de assumi-las e educá-las. O problema é que as instituições religiosas que reforçam esta condição, também não as assumem, apenas rezam para que Deus possa com todo seu poder resolver o problema sozinho. Orações são importantes, mas não enchem a barriga de ninguém, nem mesmo educa ou oferece condições dignas de vida. As orações deveriam se converter em ações mais eficientes para resolver os problemas da humanidade. Quando uma criança morre por abandono familiar ou político, para muitos, a sua morte não foi fruto deste abandono, mas, do desejo de Deus de conduzi-la ao seu paraíso onde lhe será concedido tudo que não pôde receber aqui. Delegamos a Deus a responsabilidade de fazer pelas nossas crianças abandonadas aquilo que o nosso egoísmo e avareza não permite oferecer. Sonhamos com o paraíso divino conquistado apenas após a morte pelos bons e vamos perdendo a capacidade de transformar este planeta maravilhoso num local que mesmo não sendo paradisíaco possa ser, no mínimo, digno de ser vivido. Vamos transformando tudo isto aqui num inferninho sem jamais nos responsabilizarmos pelas nossas construções infernais. Preferimos conceder ao diabo a autoria destas obras.
Outro exemplo interessante é o materialismo que concedemos a Deus. Quando este Deus materialista deseja um pedaço de terra, ou o poder das coisas terrenas que enchem os cofres de algumas nações, ele comanda guerras e milhares de pessoas morrem em seu nome. A miséria existe porque Deus quis e não porque há uma má distribuição de renda. Enfim, todas as mazelas humanas são pura e exclusivamente desejo de Deus ou obra do diabo. O que muita gente não consegue perceber é que este Deus e este Diabo são na verdade uma coisa só; uma projeção humana, fruto de uma mente que mente para não encarar as duras verdades.
Enquanto este Deus existir, a humanidade estará fadada ao fracasso e decadência. Só um Deus que nada deseje poderá salvar a humanidade restituindo à mesma a responsabilidade que lhe foi tirada – construir o seu próprio destino trabalhando em prol de seu desenvolvimento.
Se você possui um pouco de Soledade dentro de ti, trate de conceder a Deus um pouco mais de divindade, jamais de humanidade. Não projete seus medos inconscientes, sua covardia, sua avareza e seu comodismo sobre o mesmo travestindo-o com os seus latentes e mesquinhos desejos. Deixe que ele seja a potência máxima daquilo que pode ser alcançado. Permita-se caminhar em direção a ele, ao invés de esperar que ele caminhe em direção a você. Deus deveria ser uma referência de tudo que se pode alcançar, ao invés de ser o inalcançável. Sendo uma força constante em expansão, jamais deveria nos oprimir com seus desmandos arbitrários, mas servir-se de exemplo para a ampliação de nosso potencial.
Sei que é mais fácil, diante do inexplicável dizer: “Foi Deus quem quis assim”. No entanto, acredito que seja mais saudável tentarmos nos aproximar mais de Deus ao invés de aproximarmos dos desejos que concedemos a ele. Se você optar por não dizer mais “Se Deus quiser”, poderá afirmar com toda sua força e poder: “Eu quero”. Quando disser "Se Deus Quiser", esteja consciente que Deus deseja tudo e ao mesmo tempo não deseja nada. Deus parece ser na verdade, um paradoxo. Sei perfeitamente que não somos onipotentes, mas acredito que somos potentes o suficiente para construir uma vida mais digna onde haja espaços para a força divina atuar dentro e fora de todos nós. Sei também que jamais explicaremos tudo, mas acredito que poderemos explicar muito mais se nos propusermos a sair desta condição de ignorância e comodismo. Sei que não somos Deuses, mas acredito que possamos ser, no mínimo, HUMANOS e quem sabe um dia, um pouco mais divinos, pois se Deus existe, ele deve habitar tudo e a todos. É na integração holística de tudo com todos que o equilíbrio poderá ser alcançado. E, é neste equilíbrio que reside a nossa verdadeira divindade.Que possamos ser divinamente humanos ou humanamente divinos.
Nossas projeções faz com que adoeçamos os nossos Deuses com as nossas doenças. Nossos Deuses são sempre muito parecidos com a gente mesmo. Na verdade, uma clonagem de nossos mais profundos sentimentos. Por isso é tão difícil desafiá-lo. Segui-lo cegamente é uma maneira de continuar sempre o mesmo.
Talvez seja muito difícil separar-se da concepção deste Deus obsessor que tanto lhe comanda e escraviza, em virtude de idéias e pensamentos obsessivos que comandam e escravizam a sua mente. No entanto, separar-se deste Deus seria a única forma de unir-se a um outro - um Deus libertador que lhe presentearia gratuitamente com a divina sensação de ser livre; livre, sobretudo, para escolher o seu próprio destino, sua própria identidade e expressão perante a vida que você próprio escolheu para si em conjunção com o equilíbrio cósmico.
Orar é uma ótima ferramenta para sentir a força divina atuando dentro e fora de si mesmo. Para você que não conhece ainda o verdadeiro valor da oração e a melhor maneira de efetuá-la, leia atentamente a história abaixo. Será que você faz parte desta mazela humana que deixa Deus maluco com seus compulsivos pedidos e com seu doentio comodismo? Eu lhe sugiro viver mais as suas orações ao invés de transformá-las num discurso leborréico. Pare para se ouvir melhor. A sua escuta "esculta" os ouvidos de Deus. Aceite o desafio de confiar a Deus apenas aquilo que realmente voce dá conta de receber. Às vezes, desejamos receber o que, na verdade, não damos conta de nos comprometer. Desejar algo não é suficiente. É necessário se comprometer com os custos daquilo que voce demanda. Um grande mestre, certa vez, disse: "Não atire pérolas aos porcos". Por mais valioso que seja o seu pedido, acho improvável que Deus o conceda caso você não se comprometa de corpo e alma com ele. Preste atenção nisto; as suas descobertas serão, com certeza, surpreendentes; talvez mais surpreendentes que a loucura do Deus desta história.




QUANDO DEUS ENLOUQUECEU




Ninguém jamais pensou na possibilidade de Deus enlouquecer um dia, mas existe um relato, não sei se de um maluco, ou de um indivíduo são, que descreve a loucura de um Deus que ele jura crer. Assim como muitos de vocês, ele afirma ter ouvido o seu Deus, ou mais precisamente os lamentos do mesmo. Certo de que seu Deus não mente, ele acreditou piamente na história contata por seu Deus nem tanto poderoso. A história era mais ou menos assim.
Repentinamente Deus se estafou, perdeu sua força e foi pedir ajuda ao diabo. Chegando ao inferno foi recebido cordialmente pelo mesmo que perguntou surpreso:
—O que fazes aqui?
—A loucura me trouxe aqui. Os humanos me enlouquecem. Não dou conta de ouvir tantas lamentações, desejar tanto para eles e ser responsabilizado por situações que não provoquei.
—Como assim?
—Tudo agora é “se Deus quiser”, “Deus que quis assim”e por aí vai. Ninguém se responsabiliza por mais nada. Respondeu o Divino com uma expressão que denotava perplexidade.
—Você me parece depressivo... Evocou o diabo querendo diagnostica-lo.
—Também pudera! Ando me relacionando com gente que cultua a desgraça em meu nome. Vivem lamentando, chorando e esperando o dia em que os trarei ao paraíso. Que paraíso poderá existir não dá conta de ser feliz?
—Acho que eles já estão, de fato, te confundindo. Parece até que andas preocupado em criar um paraíso para quem ama o inferno. Deste jeito você acaba assumindo o meu lugar e não estou disposto a concedê-lo a ti. Ponderou o diabo coçando o seu chifre denotando preocupação em ser traído.
—Você tem razão. Estou deveras confuso. Olhe onde vim parar! Mas com tantos pedidos, com tantas responsabilidades em minhas costas, estou realmente muito estressado. Desabafou Deus com uma expressão que revelava uma total escassez de energia.
—Sabe que estresse é também uma responsabilidade minha. Deixe isto por minha conta. Não se intrometa onde não é chamado. Quando um ser humano se estressa é por mim que ele está chamando, mesmo que não queira conscientemente admitir.
—E eu que nada desejava, passei a desejar tudo. Tornei-me um ser voraz e avarento. Criaram um Deus insatisfeito, que jamais se satisfaz. Um Deus pedinte que impõe egoisticamente os seus desejos sem levar em conta as necessidades do outro. Já construí o paraíso e coloquei ao alcance de todos eles. Mas eles nunca estão satisfeitos, querem sempre mais e mais e mais e mais...Nunca conseguem ver o que possuem. Só sintonizam com a falta que você sabiamente lhes oferece. Acomodados, nunca se dirigem em direção ao céu. Querem que eu caminhe por eles e os carreguem no colo como se eu os tivesse criado deficientes. Que comodismo!Que insatisfação!
—Sabes também que voracidade é uma tarefa minha. Acho que estou cumprindo bem a minha parte atendendo satisfatoriamente a voracidade da humanidade que se torna cada vez mais faminta e perdida.O ser humano se perdeu e há pouca gente habitando este paraíso que você criou. Se queres saber, eu acho que o que te enlouquece não é tanto o excesso de serviço, mas a falta dele. Ironizou o diabo.
—Como assim? Inquiriu Deus à sagacidade do diabo.
—Serviço em excesso quem tem tido sou eu. Mas sabes que o estresse é um valioso alimento para a minha alma. Jamais me enlouquecerei por conta disto. Pelo contrário, me sinto cada vez mais forte e energizado. O meu rebanho tem ficado cada vez maior. Às vezes fico um pouco chateado com algumas coisas, mas tudo bem, no fundo é por uma boa causa.
—Com que? Perguntou confuso a sábia divindade.
—Construo obras fantásticas, extremamente devassas e fraudulentas, porém quem recebe o título de autoria acaba sendo quase sempre você. Cheguei até a invejá-lo numa certa ocasião, mas depois acabei foi ficando muito feliz com tudo isto.
—Mas, por que?
—Por que descobri que mudar o autor era apenas mais uma forma de ludibriar os bobos.
—Parece que tem tido fortes motivos para ficar bem satisfeito...
—Estou muito satisfeito. Meu inferno não é mais habitado somente por pessoas perversas e más. Tenho conquistado uma clientela bem diversificada. A ala dos coitados, por exemplo, é a que mais tem crescido. Eles adoram serem maltratados, manipulados e escravizados. Chegam aqui me idolatrando e passam a eternidade pensando que sou aquele Deus arbitrário que lhes foi apresentado um dia. Não desmistifico a crença dos mesmos, pois de certa forma sou um Deus diabólico. Eu os alimento com meus desejos sádicos e eles me alimentam com seus desejos masoquistas. Criamos assim uma relação sadomasoquista perfeita. A única coisa que não me satisfaz é a sua presença aqui. Você bem que podia sair rápido do meu território, pois a sua energia desarmoniza o inferno. E, sabes que trato é trato. Você lá e eu cá. Cada um em sua jurisdição. Ninguém se intromete na comarca do outro.
Naquele momento Deus deu uma grande risada. O diabo até se assustou. A expressão daquele Deus até poucos minutos atrás insano não denotava agora nenhuma loucura. O diabo não entendeu como uma transformação tão rápida fosse possível. Acreditou até que pudesse ser um jogo de Deus para conseguir alguma coisa, no entanto, sabia que Deus jamais faz jogos com ninguém. Compreendeu que ao pensar que aquela divindade estivesse agindo de má fé era, na verdade, apenas uma projeção sua, assim como os humanos fazem o tempo todo com a mesma. Só não conseguiu compreender aquela presença misteriosa ali, naquele lugar, naquele momento e com aquele estranho discurso que em nada parecia com a sua verdadeira essência. Mas, como Deus sempre foi um grande mistério, não perdeu seu tempo tentando quebrar sua cabeça a solucionar este enigma. Se tem uma coisa que diabo não gosta é de se esforçar, não possui força de vontade para isto.
Eu, como humana e portadora da divindade em mim, acredito que foi apenas mais uma forma de Deus se concretizar numa simples historinha, ajudando uma terapeuta e uma escritora bem intencionada a passar mais uma mensagem a quem deseja, de fato, crescer, desenvolver-se e tornar-se mais divino. Esta história pode parecer meio torta para quem conhece Deus, mas, se tem um ditado que diz: "Deus escreve certo por linhas tortas" ... Como boa mineira que sou, posso concluir:"Então, tá tudo explicado pra mim, procê e pro diabo, uai".




LINHA DE REFLEXÃO




Se você deseja compreender porque muitas coisas não acontecem na sua vida ou não saem da forma como você gostaria, escolha abaixo qual a forma de pensar  se encaixa na concepção de seu Deus - a concepção em negrito ou a concepção em itálico? Há muitas formas de pensar. Uma linha de pensamento diferente daquela que voce está acostumado pode evitar muitos nós que embolam a sua vida. Se estiver insatisfeito, pense que uma pequena mudança em seu Deus pode desfazer vários nós e proporcionar grandes mudanças em sua vida. Pense como quiser, criando o Deus que você precisa. Mas, se desejar um Deus desembolado que faça a linha da vida fluir livremente, permita-se refletir sempre um pouco mais. Deus só se torna um nó quando usamos o seu nome em vão, ou mais precisamente, quando usamos o seu nome para satisfazer os nossos mais mesquinhos desejos, mesmos que estes não sejam conscientemente reconhecidos por nós.
Reflita! Escolha a reflexão que mais tem haver com o seu Deus.
  • Deus é quem determina tudo e eu não determino nada
Deus é a força maior, por isso devo procura-lo dentro de mim para que eu possa ter determinação para fazer por mim o que eu determino a ele fazer. Deus não determina nada e ao mesmo tempo determina tudo. Eu também determino. Você determina. A natureza determina. O universo determina. Tudo e todos determinam. Com tanta gente determinando, o que será determinado? É no equilíbrio destas forças que nasce a grande determinação. Talvez, Deus possa ser este equilíbrio. Portanto, se eu não determinar, a experiência perde a força de minha determinação e determinada fica por outras forças determinantes. Daí, é fundamental ser um ser determinado.
  • Não assumo a responsabilidade pela minha vida, pois ela pertence a Deus
Assim que a minha vida me foi concedida, ela pertence, exclusivamente, apenas a mim. Mesmo que existam pessoas que queiram tira-la, interrompe-la, prejudica-la; ainda assim, a minha vida só pertence a mim. Só por mim ela pode ser vivida e experimentada a cada segundo. Sei que faço parte de uma engrenagem maior. Só o meu poder e a minha vontade não são suficientes para determinar o meu caminho. Sou responsável pelas minha escolhas, por mais insensatas que possam parecer. E, as minhas escolhas são responsáveis pelo rumo que minha vida toma. Ao invés de ser o dono de minha vida, Deus é o guardião dela e do mapa que tracei para ela. Se eu concedi a algum ser o direito de parceria no traçado deste mapa, isto não me tira o direito de propriedade da vida que só a mim pertence.

  • Temo a Deus ao invés de crer na sua força e sabedoria
Ninguém teme o bem, por isso é impossível temer a Deus. Tememos a nossa sombra e os nossos desejos mais mesquinhos. Tememos o mal que vem do outro, jamais a providência divina. Quem constrói um Deus mau possui dentro de si a maldade como matéria prima para erguer a sua obra.

  • Meu Deus é repleto de desejos. Devo atender a todos eles
Deus não deseja nada. Nós é quem desejamos e impelimos a ele os nossos desejos. Quando atendemos ao desejo de Deus estamos, na verdade, atendendo aos nossos próprios desejos. Quanto menos desejos se tem, maior a nossa maturidade. Um Deus desejante seria, portanto, imaturo.

  • Sou um servo de Deus, por isso, faço o que ele manda.
Mandar é uma expressão de poder mesquinho dos humanos. Deus transcende tudo isto. É o poder maior, desconhecido por nós humanos; poder que não precisa de mandados. Deus não precisa ser servido por ninguém. Ele já é servido por natureza. Nós é quem precisamos ser servidos por ele. Fazer o que Deus manda pode, na verdade, pressupor fazer o que sua consciência, ego, espírito ou alguém que lhe domina manda.


  • Meu Deus é muito exigente e perfeccionista
Só é necessário exigir quando perdemos o poder de gerir naturalmente. Exigência é, de certa forma, um instrumento radical para lidar com a nossa impotência e incapacidade de atuar como um líder nato. Só exige quem muito deseja. Se Deus não deseja, não há como ser exigente.
A perfeição é um modelo construído pelo próprio homem baseando-se em padrões comprometidos com seus próprios interesses. O perfeito e o imperfeito é um padrão mental e não, necessariamente, um padrão divino. Deus é o feito que pode ser tornar "per" ou "im" de acordo com a nossa vontade.

  • Só é verdadeiro o Deus de minha religião
As religiões foram criadas pelos homens, bem como a imagem dos Deuses que elas pregam. Não há como um Deus ser mais verdadeiro. Só o Deus criado pelos homens compete com os outros Deuses adversários deixando de ser Deus para se tornar um ídolo.
  • Só consigo perceber Deus fora de mim
Deus é onipresente. Ele está em todo lugar e em todo momento. Encontrar Deus apenas fora de nós mesmos denota uma grande dificuldade de olhar para dentro de si mesmo.
  • Deus castiga
Castigo é karma e não uma tática divina de correção. Pela lei da ação e reação toda ação tem uma reação igual e contrária. Atraímos o mal e o bem que projetamos no mundo. Deus é compaixão e, se desejarmos, pode ser o castigo que julgamos merecer.
  • Deus nem sempre me escuta
Nem sempre desejamos escutar tudo que precisamos escutar. Ouvimos apenas o o que os nossos desejos determinam . Somos surdos para tudo aquilo que não se encaixa no quebra cabeça de nosso ego. Quando maior o nosso barulho interior, maior a nossa chance de surdez. Projetamos a nossa surdez em Deus para nos fazermos de vítima ou justificar o nosso comodismo. Assim, Deus nunca escutará aquilo que não estamos comprometidos ou dispostos a fazer.

  • Meu Deus é um homem bravo que me vigia 24 horas por dia
Controle e raiva é um dos piores defeitos dos seres humanos. Se Deus fosse bem parecido com os humanos e tivesse que fazer alguma coisa para se sentir útil , com certeza ele teria coisas mais interessantes para fazer do que nos vigiar. A vigília também nos pertence, mas infelizmente nem todo mundo deseja se vigiar. Tememos aquilo que podemos encontrar. Por isso é mais fácil conceder esta árdua tarefa a Deus. Mas, se desejarmos transformar a nossa auto vigília no olhar de Deus, com certeza, ele nos concederá este direito, já que não há nada mais divino do que a nossa própria consciência. A nossa consciência é este olho que nos olha profundamente; tão profundo que parece Deus.
  • Deus me abandona quando se magoa comigo
Nos abandonamos quando nos decepcionamos com nós mesmos ou quando desistimos de seguir um caminho que escolhemos seguir. É como deixar de nos dar as próprias mãos. Deus está dentro da gente. Quando nos perdemos de nós mesmos não conseguimos encontra-lo em nós sentindo assim o seu abandono, que é na verdade o nosso próprio.
  • Deus é ciumento, não suporta concorrências. Por isso é melhor crer apenas nele
Ciúme e possessividade é um sentimento infantil ou de pessoas imaturas fixadas em algum conflito mal resolvido. De pessoas ciumentas e imaturas só se pode esperar problemas. Se seu Deus é imaturo e ciumento, melhor não esperar muita coisa dele. Melhor crer no seu próprio poder. Por outro lado, um Deus assim é perfeito para os masoquistas que cultuam o sofrimento e a escravidão de sua liberdade.


  • Deus só nos oferece as dádivas se dermos algo em troca. Por isso é melhor saber o que ele espera da gente.
A imagem de um Deus mercantilista é o fruto que a sociedade capitalista nos oferece, bem como de instituições muito mais capitalistas do que divinas. Em nome de Deus, muitas transações financeiras acontecem. Quanto mais intoxicados estivermos pela necessidade de dinheiro, mais o nosso Deus vai precisar dele. Deus não espera dinheiro e nem mesmo qualquer outra coisa. Só espera, quem muito deseja. Só deseja, quem é suprido pela falta. Se Deus desejasse tanto, seria portanto um ser faltoso. Um ser faltoso não tem o que oferecer. E, se Deus não tiver o que oferecer, de que adiantaria esperar alguma coisa dele?
  • Deus não gosta de riqueza.
Se Deus não gostasse de riqueza, o universo e toda a riqueza que ele abarca não seria de sua autoria. Existe riqueza e pobreza na riqueza e existe riqueza e pobreza na pobreza. Tudo é uma questão de concepção e ponto de vista. Saber o que gostamos ou deixamos de gostar e o que a vida da gente e do planeta precisa para se tornar mais gostosa é, com certeza, mais sensato do que perder o nosso tempo querendo adivinhar o que Deus gosta ou deixa de gostar.
  • Deus não aprecia a vida sexual. Sendo assim, reprimo a minha sexualidade como um ato virtuoso e divino
Reprimir a energia sexual é uma forma de conter o poder que o ser humano possui. A repressão sexual é uma tática de manipulação e controle e não uma necessidade divina. Estabelecemos códigos de conduta de acordo com nossos valores e busca evolutiva. A repressão sexual pode ser para algumas pessoas um ato virtuoso e para outras um desafio ou mesmo uma tortura. Algumas pessoas podem encontrar Deus na sexualidade e outras bem longe dela. Se Deus é onipresente, ele não se faria ausente na sexualidade.  Diante de uma dificuldade,  limitação, repressão ou resistência para viver a sexualidade, ou mesmo diante de uma  opção de vida por não vivê-la , encontre Deus no contexto que lhe dê mais prazer, mas não crie um Deus que a nege para justificar a sua própria negação. O importante é que Deus seja vivido com prazer. Embora devesse, nem sempre a sexualidade é prazerosa para todos. Infelizmente, a repressão sexual nos rouba este prazer. É para ela que devemos olhar todas as vezes que optamos por conter a nossa energia sexual e não para o suposto desejo que criamos em Deus em ser contrário a todo ato que nos proporcione prazer.


  • Ser pobre, feio ou deficiente é um castigo de Deus
Deus não castiga, mas não nos impede de impormos a nós mesmos os nossos castigos. O conceito de pobreza, beleza e deficiência é muito relativo. Não há benção maior e nada mais divino do que ver uma pessoa portadora de alguma deficiência transcender seus limites. A suposta deficiência de tais pessoas servem para transmutar a maior deficiência que possuimos - a nossa forma limitada de pensar e enxergar a vida e as pessoas. Pobre, feia e deficiente é a nossa forma de perceber a vida. Quando transformamos a nossa visão, a pobreza, a feiura e a deficiência deixam de existir. Criamos, neste momento, o paraíso tão sonhado dentro da gente. O nosso olhar pode habitar Deus ou o diabo; o paraíso ou o inferno.Ser pobre, feio, deficiente não é um castigo de Deus, mas um defeito de visão que pertence apenas a nós mesmos.

Enfim, uma série de outros pressupostos poderiam ser repensados. Repense! Oferte-se este trabalho e dê um grande passo em direção ao Deus que voce deseja crer. Não estou aqui para lhe dizer como e em que Deus voce precisa crer. Te faço, apenas, um convite à reflexão. Duvidar e questionar tudo que eu falo é também um grande passo. Quantas verdades absolutas se tornaram mentiras ou verdades relativas ao longo dos anos? Não quero ser a verdade e nem mesmo uma grande mentira. Só quero ser um convite à reflexão. Se Deus virou um nó dificil de desatar; se, de alguma forma, sente algum desconforto para com o mesmo, acho que chegou a hora de repensar seus conceitos.
Muitos mestres e muitos santos fizeram pregações valiosas. Segui-los não pressupõe necessariamente estar mais perto de Deus, pois a presença divina não é exclusividade de ninguém, por mais evoluido que seja. Segui-los pode ser uma importante referência para a nossa caminhada. Ouvi-los pode ser um subsídio valioso na busca de muitas respostas. Tenho os meus mestres, santos, energias, espíritos encarnados e desencarnados que admiro e busco orientações. Tenho o meu anjo da guarda e os meus guias espirituais. Por mais que eu creia e necessite da ajuda deles, sei que eles são tão Deuses quanto eu. Sei, entretanto, que possuem uma visão que às vezes não consigo ter, por isso me permito ser favorecida com a visão de muitos deles. Sei que possuem poderes que desconheço em mim e muitas vezes, preciso contar com o poder deles. Conto não só com eles, mas também com a visão e com o poder de pessoas ditas "normais", visíveis, que vivem aqui bem pertinho de todos nós. Creio, portanto, na existência de um Deus presente em tudo e em todos. Todos os mestres, todos os espíritos e todos os santos não são deuses na acepção pura da palavra. Podem ser dotados de qualidades divinas preciosas. Podem ser dotados da palavra, da proteção, da energia e da referência que muita gente precisa . Segui-los ou não é uma opção de cada um baseado na busca do momento. Eles podem possuir desejos, mas não devemos projetar os desejos deles em Deus publicando-os ao mundo como se fossem uma ordem. Podemos fazer a cada um deles as nossas oferendas, no entanto, sem achar que este gesto é uma exigência divina. Podemos, inclusive, fazer as nossas oferendas a Deus como um gesto que nos faz sentir bem - é sempre muito bom doar algo a alguém que se ama. Que seja uma doação e não uma pesada obrigação.
Se você segue algum ser, encarnado ou desencarnado, real ou simbólico, o importante é sentir-se bem diante dele. Projete a imagem, o nome e a energia que possa facilitar e fortalecer seu elo de identificação com ele. A escolha deve ser sempre sua, e, a responsabilidade por esta escolha também. Tive a oportunidade de conhecer muitos falsos mestres e pessoas comuns portadoras de uma sabedoria incomum. Deus deve ser uma experiência espiritual conquistada, jamais, imposta. Tornar-se consciente é uma forma eficaz para perceber a imposição dos falsos mestres. Quando perceber que seu Deus flui de fora para dentro, de um jeito torto, ligue seu sinal de alerta:
CUIDADO! TEM GENTE QUE SE VESTE DE DEUS TRAVESTINDO O DIABO QUE EXISTE DENTRO DE SI.

Obs: Após a leitura deste capítulo, voce pode experimentar a meditação - "Energia Divina" -  como uma forma de sentir e intensificar a presença divina dentro e fora de ti. Esta meditação poderá ser ouvida durante algumas semanas  clicando em  áudio. Depois de algum tempo será retirada mas, poderá ser comprada em nossa loja.  






























































INTRODUÇÃO

Vamos rever o significado de algumas palavras?
Embaraço: impedimento, obstáculo, estorvo, dificuldade, perturbação, atrapalhação...
Embolado: enrolado, emaranhado...
Será que a vida seria melhor sem estas palavrinhas, ou mais precisamente sem as situações que as criam? Será que seríamos mais felizes se a linha de nossa mão fosse uma reta sem impedimento e sem emaranhadas linhas se entrecruzando e se embolando uma na outra? Será que faríamos menos atrapalhadas se o nosso caminho não fosse tão complicado e repleto de obstáculos? Será que seríamos menos perturbados se não fossemos estorvados por tantos enrolos?
Não saberemos com certeza como seria a nossa vida se as palavrinhas acima não existissem, por outro lado, podemos conquistar a capacidade de vivenciá-las com mais sabedoria se nos posicionarmos de uma forma totalmente diferente frente às mesmas. Talvez, começando por fazer uma releitura do significado destas palavras:
Embaraço: situação que cria em nós o desejo de desembaraçar e seguir em frente
Embolado: condição na qual nos encontramos toda vez que nos enrolamos atrapalhando o nossa própria vida e a vida do outro.
O importante é nos posicionarmos sempre como sujeito frente estas palavras; deixando de ser objeto e vítima de ações e desejos inconscientes que nos amarram e nos imobilizam.
Viver saudavelmente não é flutuar num mar de rosas, mas aprender a se posicionar de uma forma diferente frente as marés. Estou neste mundo quando me proponho a trabalhar na construção de minha própria vida. Se você deseja uma vida pronta, escolheu o lugar errado para vivenciá-la. Os que assim pensam e agem, criam embaraços significativos para si e para todos os seres humanos. Por isso, o mundo tem se tornado tão complicado. Nem todas as pessoas criam o desejo de desembaraçar a própria vida e seguir em frente. A maioria cria condições para se enrolar cada vez mais, se atrapalhando e ao outro. Poucos são aqueles que conseguem, de fato, ter uma visão mais ampla do verdadeiro significado da vida.
Vivemos em guerra com a gente mesmo e com os nossos semelhantes o tempo todo. Nos ferimos, nos matamos nos destruímos gradativamente. Assistimos a nossa falência como um drama inédito no palco da vida. Mas a grande verdade é que este drama já é bem antigo; não estamos tendo a inteligência e criatividade suficiente para criar uma nova peça. Às vezes transformamos o mesmo drama em comédia para não sofrermos tanto e rirmos um pouco da nossa imbecilidade. No entanto, até a comédia já está perdendo a graça. O nosso riso agora parece ser muito mais a expressão do nosso nervosismo do que de nossa satisfação.
Não mudaremos o mundo enquanto não mudarmos a nossa consciência. Acredito na evolução do ser humano, mas tenho assistido a um crescimento significativo dos instrumentos de opressão e destruição. Não somos, todos, seres humanos como usualmente costumamos nos designar. Podemos atingir uma natureza muito mais ou muito menos evoluída do que a natureza humana dependendo da nossa disposição e comprometimento para desatar os nossos nós. Somos, na verdade, seres vivos em processo de evolução. Consigo perceber, claramente, quatro fases evolutivas abarcando seres bem distintos: os vitimizados, os insaciáveis, os humanos e os divinos. Uma linha tortuosa, cheia de nós e embaraços intercalaria uma fase de evolução à outra. Esta linha tortuosa não se inicia e não termina em lugar algum. É contínua e está amarrada ao infinito. É nela que flutuamos e não pelo mar de rosas como gostaríamos. Temos não só esta vida, mas toda a nossa existência para transitar por ela. Provavelmente, nela estão inseridos infinitos desafios. Cada nó pode ser um desafio diferente que se não for desatado nos impede de seguir adiante. Adentramos nesta linha por algum lugar que esteja em sintonia com a energia que vibra em nossa alma. Podemos andar para frente ou para trás, evoluir ou regredir dependendo não só dos nossos desejos, mas sobretudo, do nosso comprometimento. Assim, não basta apenas desejarmos sermos bons, é necessário nos comprometermos com a bondade.
Começarei descrevendo a nossa natureza vitimizada; aquela onde estamos a mercê dos acontecimentos. Nela, não temos nenhum controle e responsabilidade sobre os mesmos. Tudo nos será dado ou tirado sem que desenvolvamos a consciência de ter ou poder fazer alguma coisa a respeito. Somos objetos na mão de uma força maior atuante. Reclamamos o produto de nossa colheita sem nos darmos conta de nossa semeadura. Ficamos em cima do muro esperando que uma força maior possa nos empurrar para um lado ou outro. Queremos o melhor, mas não oferecemos o melhor de nós mesmos. Somos uns pobres coitados nas mãos de um mundo cruel.
Há, por outro lado, a nossa natureza insaciável que nos incita a posicionar sempre de forma egoísta. Usamos de toda agressividade, se necessário, para alcançar os nossos medíocres e mesquinhos objetivos. Tornamo-nos incapazes de adotar uma postura altruísta diante da vida. Agimos irrefletidamente e impulsivamente sem usar a razão e o coração para tomar uma decisão. Nosso raciocínio instintivo e calculista fareja sempre o nosso exclusivo desejo de alcançar o poder, mesmo que para isto coloquemos em risco a nossa própria vida e da coletividade. Não valorizamos a vida; valorizamos apenas os prazeres fugazes que possamos usurpar desta. Agimos como animais irracionais primitivos lutando pela posse de um território e pelo domínio do grupo.
Na maioria das comunidades animais existem os que comandam e os comandados. A lei é sempre a do mais forte e não um instrumento de legitimidade para todos. A nossa sociedade não é muito diferente. Os comandados não exercem a sua cidadania e jamais reivindicam a igualdade de direitos e deveres. Contentam-se com restos e migalhas, demonstrando uma semelhança significativa com alguns animais que se comprazem apenas com alimento e sexo. Alguns, nem acesso às condições básicas de sobrevivência possuem. Sem a mínima consciência necessária para tornar-se mais humano, passam uma vida inteira vagueando por um mundo estéril, sem refletir sobre o profundo sentido da sua existência. Por outo lado, os comandantes ditam regras que beneficiam apenas os mais fortes que se encontram no poder perpetuando um mundo marcado pela desigualdade absoluta e pelo massacre dos mais fracos. Num mundo assim não há evolução; há estagnação e doença.
Lutamos por uma natureza mais humana. Conquistá-la, finalmente, nos conceberia a tão sonhada posição como seres humanos. Há muitas pessoas humanas lutando por todos nós. Esta luta não é pelo poder, mas pela conquista dos mais nobres objetivos vinculados ao bem estar da humanidade. Apesar de seu elevado nível de evolução, os humanos ainda necessitam de leis para nortear a sua conduta frente a vida. Não as burlam, pois já adquiriram a consciência de que qualquer atitude contrária frente ao consenso coletivo poderá trazer prejuízos significativos para todos. As mudanças são elaboradas e aceitas desde que possam trazer benefícios. Tentam equilibrar a razão e o coração na tomada de decisões. Ainda são alvos de muitos embaraços e emoções fortes, mas procuram adotar a auto vigilância como um meio eficaz para não perderem o controle das situações. Apossados por nossa natureza humana, almejamos o amor acima de tudo, apesar de possuirmos alguns apegos e paixões que dificultam a nossa caminhada pela linha da vida, fazendo-nos sofrer. Buscamos uma consciência cada vez maior que nos permita obter respostas sobre a razão do nosso viver. Vivemos ainda numa sociedade bem primitiva. Os humanos inseridos nela serão sempre os grandes agentes de transformação.
E a natureza divina? Permitir-nos-ia transcender a nossa dimensão humana. Como poderíamos chegar nela se nos falta ainda tanta humanidade? Muitos já conseguiram conquistá-la e trabalham serenamente, sem “barulho”, pela nossa evolução. Não sofrem e não se perturbam com os nossos estorvos, pois já suplantaram as emoções. Serenos, pacientes e tranqüilos, portadores de sentimentos nobres e de uma espiritualidade desenvolvida, orienta-nos sem imposições. Não anseiam receber aplausos, pois já superaram os desejos do ego, tornando assim, cada vez mais difícil localizá-los. De posse desta natureza, conquistaríamos o tão sonhado paraíso.
Precisamos enxergar, falar e agir. A maioria prefere fechar os olhos, calar e amarrar-se a falsas ideologias que nos aprisionam ao invés de libertar. É mais forte a idéia de “ter” uma vida tranqüila, comprada pelo dinheiro, do que a idéia de “ser” um ser humano tranqüilo portador de uma sabedoria divina que o capacita conquistar a vida e não o poder de apropriar-se daquilo que não lhe pertence. Recebemos a benção e a valiosa herança de usufruto de tudo que nos cerca e de tudo que podemos criar com a nossa inteligência. No entanto, achamos pouco usufruir; desejamos tomar o lugar do verdadeiro dono. Roubamos o que não nos pertence, o que deveríamos preservar e compartilhar. Preservar não significa necessariamente guardar, mas utilizar de forma equilibrada, cuidadosa e saudável tudo aquilo que existe exclusivamente para o nosso bem estar. Entretanto, esta dádiva não nos satisfaz.
Queremos mais...
Mais...
Mais...
Mais...
Restando-nos...
Menos
Cada vez mais
Menos.

NOTA AO LEITOR


Dá para acreditar que muitas vezes nos apegamos à coisas ruins que nos destroem? Não deveríamos nos apegar nem mesmo às coisas boas, sendo assim, como somos capazes de criarmos apegos com a negatividade? Será que não sabemos ainda o que é bom e o que é ruim? Ou será que o conceito de bom e ruim é relativo?
Esta obra descreve nossos apegos doentios a sentimentos, pensamentos e vivências negativas que nos adoecem impondo graves limites ao nosso desenvolvimento. Estes apegos serão apresentados como nós difíceis de desatar. Apesar dos embaraços causados pelos mesmos, exponho a arte do desembaraço. Cada capítulo atuará como uma galeria de arte, ou seja, o espaço simbólico da arte de viver. No entanto, as obras expostas não pertencem a grandes personalidades reconhecidas mundialmente, mas a grandes pessoas que vivem no anonimato.
Relato o embaraço de várias pessoas, narrando histórias reais que foram trabalhadas em minha prática como psicoterapeuta e acompanhadas em meu cotidiano. Serão utilizados pseudônimos para preservar a identidade destas pessoas que apesar de terem dado, em algum momento, nós em suas vidas, estarão agora servindo de referência para desatar os nós de muita gente. Sinto que estas histórias reais não são mais e nem menos interessantes do que as fábulas que sempre gostei de inventar. Acho que elas agradam mais o adulto que somos. Porém, adulto nem sempre tem paciência e precisamos de muita para desembolar a nossa vida. Assim, ofereço fábulas que possam ser apreciadas por aquela criança, às vezes esquecida, que mora dentro da gente. Acho que ela terá mais energia para desatar os inúmeros nós que encontraremos nas páginas deste livro. A história real narrará sempre o problema e, a fábula a solução. Para tornar estes nós mais poéticos, apresento também poesias que atam e desatam a razão tocando, principalmente, o coração.
Ao final de cada capítulo, você terá a oportunidade de fazer uma reflexão sobre o direcionamento que vem dando à sua vida, através de um breve questionamento que poderá demonstrar alguns de seus nós. Em qualquer processo de mudança, a reflexão é sempre o primeiro passo que deverá ser seguido pela ação. Somada à disciplina, determinação, perseverança e paciência, trará a verdadeira transformação que dará ao seu ser uma forma nova, mais madura e evoluída.
Te faço agora o irrecusável convite para desembaraçar a linha de sua vida e desatar aqueles nós que atrapalham a sua costura. Se você é do tipo que não dá ponto sem nó, tente no mínimo avaliar quantos nós deu em sua linha. Uma linha repleta de nós ou embolada por eles não dá ponto algum. Tecendo sua própria vida, no final desta costura, você poderá finalmente vestir a sua roupa. A linha de sua vida está em suas mãos.

AGRADECIMENTOS

Agradeço à Dona Separação que, mesmo me fazendo visitas inoportunas, sempre trouxe um recado importante. Mostrou-me, sobretudo, que tudo aquilo que eu julgava ilusoriamente ser meu, pertencia, na verdade, à Dona Vida. Maior agradecimento devo à esta última que sendo dona de tudo, doou-me cada experiência contida neste livro e a preciosa consciência de continuidade.

DEDICATÓRIA

Dedico este livro à continuidade...
Sou a continuidade de tudo que fui e serei a continuidade de tudo que sou hoje. É na continuidade de minhas experiências que aprendi a viver e desatar os meus nós. É na continuidade que vivi novos começos e finais de trajetória. É na continuidade que iniciei, em algum momento este livro. Na continuidade parei de escreve-lo tantas vezes. É na continuidade que continuo a escreve-lo para doa-lo ao mundo e, particularmente, a você.
Na continuidade persisto e insisto continuar. É na continuidade que fico cada ano mais velha - contínua idade, mas que vivo experiências contínuas que me renovam.