domingo, 25 de novembro de 2012

O NÓ DO DESCOMPROMISSO




COMPROMISSO É COISA PESADA
HOJE EM DIA, ULTRAPASSADA
NO ENTANTO...
MARCO E NÃO VOU
FICO MARCADO
FALO E NÃO CUMPRO
FICO FALADO
MELHOR SERIA
SER COMPROMISSADO?
EMBORA COMPROMISSO
 ME FAÇA SENTIR ASSIM
COMPLETAMENTE ENGESSADO
DEVO ADMITIR SEM RODEIOS
QUE LIBERDADE SEM COMPROMISSO
NÃO É LEVEZA OU SAUDÁVEL ESPERTEZA
É ALIENAÇÃO
E DECEPÇÃO, COM CERTEZA




O NÓ DO DESCOMPROMISSSO


Jovelino era um rapaz jovem com grande dificuldade de amadurecer.  Apesar dos seus 23 anos, se comportava como um adolescente. Seu pensamento estava sempre voltado para os prazeres que poderia não só usufruir da vida, mas  também usurpar da mesma. Não ajudava e não colaborava com nada em casa. Aliás, era extremamente desorganizado e  o que sabia fazer com maestria era criar bagunça para o outro arrumar. Inflava-se de pedantismo para dizer que não era empregada doméstica para fazer certos tipos de serviço ou, no mínimo, que as atividades domésticas lhe davam arrepios.  Esta justificativa infantil era o suficiente para a mãe assumir todas as responsabilidades neste setor, visto que a família não contava com os serviços de uma empregada. Mesmo assim, a mãe aceitava esta atitude infantil do filho, alimentando-o com esta dependência. Agindo assim, talvez quisesse, inconscientemente, ter para si uma eterna criança. Jovelino não se ligava  nas responsabilidades que esta nova etapa da vida exigia e possuia pais que alimentam o seu lado criança. Não se comprometia com nada que dissesse respeito a uma vida adulta. Criava profissões ilusórias em sua cabeça que pudessem garantir  o status e a continuidade dos prazeres que não aceitava  abrir mão, tais como, dinheiro acessível para suprir todos os seus desejos, por mais banais que pudessem ser. Jovelino, apesar de adulto,  dava como toda criança birrenta os seus pitis quando os pais tentavam impor  algum limite que pudesse frustra-lo. Acreditava que os pais deviam suprir todos seus caprichos. Tinha sempre uma frase pronta para justificar sua demanda de caprichos: “Eu não pedi para vir ao mundo!” Jovelino não assumia a própria vida. Achava que o fato de ter sido gerado pelos pais, o eximia da responsabilidade de comprometer-se com a sua própria vida. Todo ano tentava vestibular para  medicina ou direito. Seu intuito era ser prontamente, como num passe de mágica, um médico famoso ou um juiz poderoso. De acordo com suas fantasias, se  formaria numa escola Federal que lhe daria um maior status intelectual. No entanto, nunca se empenhou ou estudou o suficiente para passar numa escola assim. Depois de tantos fracassos sempre justificados, colocando a culpa em alguma situação ou pessoa, resolveu tentar o vestibular numa escola particular. Em nosso país há muitas escolas para Jovelinos.  Fico pensando: Quem serão os clientes destes jovens sem compromisso com a realidade? Quem serão as vítimas de suas fantasias e de seus delírios?Que Deus nos proteja  deles, ou que nos dê,  no mínimo, a intuição e discernimento para separamos  o joio do trigo.


Os Jovelinos da vida são verdadeiros sanguessugas, mas todo parasita tem um hospedeiro que se permite ser sugado. Será que voce é hospedeiro de algum Jovelino? Se for, há duas alternativas plausíveis para  sua  condição: Ou voce adora ser a vítima ou deseja fazer do Jovelino a sua vítima, tornando-o dependente de sua boa vontade para que voce possa reinar, dominar sutilmente, e ainda assim, receber o título  de pessoa bem intencionada.
Colocar limites para os Jovelinos é a única maneira de faze-los crescer e a única  maneira de protegermos a nossa vida, bem como a sociedade do estresse e da ameaça  que eles representam. Querem tudo sem dar nada em troca. A desorganização de qualquer grupo social, seja ele, o lar, a escola, ou a comunidade de uma forma geral, é decorrente da atuação de algum Jovelino e de  seus respectivos hospedeiros.
 Nada funciona harmonicamente sem a reciprocidade mútua. Jovelinos desconhecem o significado das palavras reciprocidade, solidariedade, colaboração e compromisso. São extremamente egocêntricos, portanto, incapazes de enxergar e respeitar o território do outro. Para eles, ha um único território: o próprio. Neste território, mandam e desmandam, reinam sem restrições. Para Jovelinos só existem direitos. Dever é uma palavra que existe, no entanto, só para o outro. Todas as vezes que seus desejos  são contrariados, pousam de vítimas ou assumem uma postura muito agressiva para lutar por aquilo que, ilusoriamente, acreditam ser também um direito seu, inalienável. Jovelinos  não conquistam nada. Tudo que adquirem, é,  de certa forma, uma usurpação. Se investigarmos bem, por trás de uma falsa luta para conquistar um objetivo tem sempre alguém explorado por ele, e, na  verdade,  o maior responsável por sua conquista. Se não encontrar um explorado, encontrará alguém que lhe dê tudo na bandeja, alimentando a sua aspiração de ser alguém sem nada precisar dar em troca. Este ser que banca o egocentrismo dos Jovelinos também almeja alguma realização. Encontramos aí, o tradicional desejo de pais medíocres que se sentem realizados se puderem apresentar para a sociedade os títulos de seus filhos.  Para isto, são coniventes com todo tipo de falcatrua e mediocridade que possa oferecer ao seu rebento o diploma de bem sucedido. Muitos são, também, “pais Jovelinos”,  que não  oferecem limites por não darem conta de aceita-los. Vivem através dos filhos a sua própria falta de limites. No reino do egocentrismo destes Jovelinos não há espaço para o compromisso germinar. Compromisso requer empatia, virtude desconhecida para os Jovelinos que possuem muita dificuldade de se colocar no lugar do outro, pois reconhecem apenas o lugar de seus próprios desejos.
Grande parte das coisas que não são realizadas no mundo se deve à ação descompromissada dos Jovelinos. São como gafanhotos que nunca chegam na hora de semear, mas que sabem devorar como ninguém. No entanto, para toda praga tem um remédio: Limite é uma boa medicação  para quem deseja tratar de Jovelinos ou se proteger deles.  
Muitas vezes somos Jovelinos com a nossa própria vida. Não temos compromisso com nossos objetivos, com nossos sonhos, com nossa saúde, enfim com tudo de mais sagrado que nos rodeia  e que é, de certa forma, o diamante de nossa vida. Se perdemos este diamante, perdemos o nosso brilho. Quando não temos compromisso com nós mesmos, falta também limites em alguma área de nossa vida. Por excesso de ambição, não enxergamos, muitas vezes, a nossa verdadeira missão como ser humano ou a importância de nossa saúde. Embrenhamos, sem limites, num mundo que nos distancia da nossa verdadeira essência. Enxergamos, apenas, o desejo de um ego faminto sem ouvir as necessidades de nossa alma. Criamos o caus e o desequilíbrio dentro de nós mesmos, embora, na maioria das vezes, relutemos em admitir isto.
Quantas vezes somos Jovelinos com a natureza. Aliás, a atitude “jovelínica” do homem, vem destruindo o que não tivemos trabalho de semear. Queremos devorar, desmedidamente aquilo que nos sustenta. No entanto, a mãe natureza não age como pais de Jovelinos. Ela já está colocando limites, embora, relutemos em aceitar. E, cada vez mais, os limites serão mais rígidos, pois a natureza sabe, como ninguém, educar. Quando promete, não volta atrás. E, lamentavelmente, lá na frente, não haverá retorno. Melhor seria tomarmos consciência agora, mas a população de Jovelinos tem crescido mais do que enxame de gafanhotos na lavoura do bom senso.
A palavra compromisso deriva de “com promessa.” Tem muita gente avessa a esta prática. Observo que a grande maioria avessa ao compromisso, exige esta prática do outro, menos de si mesmo. Quando fazemos um acordo ou uma promessa, estamos acordando o que ganhar e o que perder; estamos acordando direitos e deveres. Há quem queira pagar sua falta de compromisso com palavras de desculpas ou com justificativas que giram apenas em torno de suas próprias necessidades. Há quem nem mesmo isto ofereça. Consciência é o que lhes falta. São portadores de uma pseudo consciência que lhes permite enxergar apenas os seus próprios propósitos.
 Existem pessoas que sentem a palavra compromisso como uma gaiola ou como um engessamento. Temendo um aprisionamento, fogem desta prática, mas acabam se perdendo, pois não há como não se comprometer. Comprometemo-nos até mesmo com a nossa falta de compromisso. É possível evitar certos compromissos, mas não todos. O nosso corpo e a nossa alma estão repletos de exigências. Somos seres sociais e a sociedade, o trabalho e família também nos exigem compromissos. Em tudo que fazemos ou deixamos de fazer está implícito algum nível de comprometimento.
 Não há como viver isoladamente. A nossa interdependência para com tudo e todos nos exige comprometimento. Pessoas maduras são pessoas compromissadas. Pessoas imaturas vivem a seguinte operação: “Compromisso, só para o outro”. Aprisionam-se no princípio do prazer: “Prazer, só meu”.
Não é possível ter o mesmo nível de compromisso com tudo e com todos. Em momentos diferentes da vida selecionamos o que teremos mais ou menos comprometimento. O importante é cumprirmos fielmente o nível de compromisso que acordamos ter com determinadas causas do momento.
O imaturo finge ter compromisso para levar vantagem sobre a pessoa ou situação com a qual se compromete. Um ser maduro não se compromete quando não pode oferecer o que lhe é solicitado. Sabe medir bem o grau das exigências solicitadas e a sua disponibilidade para cumpri-las. Pessoas avarentas, que desejam levar vantagem em tudo, não possuem medidas. A ausência de limites é a principal medida destas pessoas.
Nas filosofias indianas existe uma palavra muito importante chamada Dharma = dever, nossa missão e nosso compromisso nesta vida. Se não cumprirmos e respeitarmos o nosso Dharma geramos desequilíbrios significativos não só na nossa vida, mas na nossa sociedade e no universo. Toda Dharma implica num Karma. No Karma prevalece a lei da ação e reação. “Toda ação tem uma reação igual e contrária”. Se não respeito meu Dharma crio um karma desfavorável. Podemos perceber claramente esta operação em nossa vida e na nossa sociedade citando uma variedade de exemplos – políticos que não cumprem seu dever gerando desequilíbrios sociais significativos; pais que não cumprem seu dever para com os filhos gerando desequilíbrios emocionais marcantes na vida dos mesmos; nosso desvelo com nosso corpo gerando sérias doenças; empregados ou patrões que não se comprometem mutuamente um com o outro acabam gerando a falência de uma empresa e por aí vai...
Todas as vezes que desejamos ser alguma coisa, precisamos primeiro analisar se além do desejo queremos nos comprometer com as tarefas que esta missão de “ser” nos solicita. A vida não se sustenta apenas com desejos, mas com ações. É através de nossas ações que cumprimos o nosso dharma e criamos um karma que promova a nossa evolução. A grande maioria das complicações que vivemos são frutos do desrespeito ao nosso dharma, ou seja, ao nosso dever e compromisso. Cumpra bem o seu dharma, o seu compromisso e verá mudanças positivas operando em sua vida. Se tua vida está muito desorganizada e desequilibrada é porque você não está cumprindo o seu dharma ou está sendo conivente ou sustentando a falta de compromisso de alguém.
Para quem deseja ter um pouquinho mais de compromisso com o mundo, com o outro e consigo próprio  e aprender a se defender de quem não possui um nível satisfatório de comprometimento, a história de Fofura, uma baleia de alma faminta, talvez possa alertar para algumas coisas importantes.
                                   
        
A Baleia de alma faminta


Na imensidão do mar vivia Fofura, uma baleia muito simpática e bonita. Todos amavam Fofura, menos ele mesmo. Por isso, vivia sempre triste achando que alguma coisa lhe faltava. Mesmo sendo agraciado pela riqueza imensurável do oceano, se portava como um ser miserável. Se achava vítima de uma vida sem graça. Sentindo-se assim, Fofura foi perdendo o encanto, ficando cada vez mais desanimado e solitário. A única coisa que Fofura  gostava de fazer é comer, comer, comer... Mesmo que não estivesse com fome, devorava, instantaneamente, qualquer alimento que cruzasse o seu caminho. Sabem por que ?Porque existia uma fome na alma de Fofura proveniente das coisas boas da vida que ele deixou de se alimentar.  Amargurado, se isolou e deixou de ser nutrido pelo carinho dos amigos e familiares. Sentia-se rejeitado e ressentido. Seu ressentimento lhe provocava imenso mal estar.  Passava a maior parte do tempo dormindo, dormindo, dormindo...Seu desânimo impedia que fosse nutrido pelo lazer e por todas as festas maravilhosas promovidas pelos seres marítimos. Fofura perdeu a vontade de participar de tudo que pudesse alimentar sua alma. Um ser com a alma alimentada não possui  o desejo de entupir o corpo com excessos capazes de adoecê-lo. Infelizmente a alma de Fofura estava desnutrida e ele foi usando seu corpo para compensar aquilo que faltava em sua vida. Ingeria tudo que pudesse fazer com que sentisse cheio, jamais satisfeito. Foi assim que foi se tornando uma baleia muito pesada. Perdeu a leveza e já não conseguia mais nadar como antes. Passava a maior parte do tempo parado, sustentando uma depressão horrível, agora, sua maior companheira. Depressão é uma doença séria que toma conta  da gente todas as vezes que a gente se esquece de tomar conta da nossa própria vida. Infelizmente, nem todo mundo sabe como tomar conta da própria vida; faz isto de uma forma muito equivocada.  Afogando cada vez mais em um mundo de trevas, Fofura perdeu a vontade de viver, pois aquela vida já não tinha mais graça. Só uma mudança bem grande poderia salvar Fofura, no entanto, ele tinha a preguiça como a sua maior aliada e só a palavra mudança já lhe dava arrepios.
Fofura só sabia reclamar e solicitar coisas que não preenchiam  a sua vida. Posava de vítima de uma vida chata e não assumia a responsabilidade pelas suas frustrações. Atribuía sempre a alguém esta responsabilidade.  
Muitos amigos se aproximavam de Fofura ofertando conselhos que poderiam ajuda-lo muito, mas ele não tinha a menor vontade de colocar em prática os conselhos que recebia. E, assim, os amigos acabaram se afastando dele, pois aquela baleia, no passado tão amigável, se tornou fria e distante. Mas, tem sempre aquele amigo que nunca desiste da gente. E, Fofura tinha um amigo deste.
Tuba era um tubarão muito determinado e resolveu ajudar o amigo. Percebeu que lá no fundo dos olhos de Fofura ainda existia uma centelha luz e um possível desejo de viver uma vida feliz. Resolveu investir nesta possibilidade. Forçando-o, pegou Fofura pelas nadadeiras e o  levou até Netuno, o grande Deus dos mares. Sabia que só a sabedoria de um Deus poderia dar um jeito em Fofura. Meio a contragosto, Fofura seguiu com Juba para a grande caverna de Netuno. Sentado num trono formado por corais da mais inusitada beleza, o grande Deus dos mares iniciou a conversa:
- Finalmente! Estou lhe esperando já faz um bom tempo, Fofura.
- Como assim? Perguntou Fofura sem compreender a razão que levava Netuno esperar por ele. Se achava uma baleia insignificante, jamais um presente dos Deuses para o universo. 
Antes que Netuno lhe desse a resposta. Tuba cochichou no seu ouvido:
- Netuno é o grande Deus e sabe de tudo que acontece com todos os seres marítimos e em cada centímetro do oceano. Com certeza, sabe muito bem o que você anda fazendo consigo mesmo.
- Como assim, pergunto eu! Continuou Netuno dando prosseguimento à indagação de Fofura – Voce acha que pode deixar de se comprometer e as coisas permanecerem em ordem?
-Comprometer? Não estou entendendo onde o senhor deseja chegar... Indagou Fofura.
- Quero chegar na palavra compromisso. Sem ele, as melhores energias do nosso universo não se sustentam. Não há como existir amor, saúde, trabalho, felicidade e evolução sem compromisso. Por acaso, você se esqueceu do significado mais profundo desta palavra?
Antes que Fofura pudesse responder, Tuba, respondeu por ele:
- Com certeza, esqueceu. Se não tivesse esquecido não estaria assim.
- Parece que você não se esqueceu; não é mesmo, Tuba? Se tivesse se esquecido do compromisso que devemos ter com tudo aquilo que nos cativa e  cativamos, você teria deixado esta amizade morrer. 
Sem palavras, Tuba moveu a cabeça afirmativamente respondendo com um afetuoso sorriso e com um olhar que denotava um profundo carinho pelo amigo. Netuno levantou-se de seu trono e como se fosse uma espada, apontou seu olhar para Fofura ,  olhar ainda mais profundo do que o de Tuba, mas que denotava uma certa firmeza e acusação. Com uma voz empostada, indagou a baleia:
- E você, o que me diz?
Fofura, sem saber o que dizer, limitou-se a baixar seu olhar num gesto de total submissão ao grande Deus. Netuno, com uma voz ainda mais firme perguntou franzindo a testa:
- Voce quer  ser um peso  ou uma promessa de felicidade para o nosso mundo?
- É claro que eu desejo ser uma promessa de felicidade. No entanto, eu não sei como fazer isto.  Respondeu Fofura rompendo com seu silêncio angustiante.
- Voce não tem que desejar nada!  Desejos você já tem demais. Tem que querer fazer efetivamente alguma coisa. Entre o desejo e a vontade existe um grande abismo. E, parece que é nele que você caiu.
- Como assim? Não entendi. O senhor pode me explicar melhor? Solicitou Fofura ao Grande Deus dos mares.
- Desejar é fácil. Quero ver você  se comprometer  a fazer aquilo que o seu desejo lhe solicita fazer.
-E, o que o meu desejo me solicita fazer? Estou tão perdido que nem sei mais o que desejo.
- Muito menos o que quer, não é mesmo? Ironizou Netuno.
Meio sem jeito, Fofura balançou a cabeça afirmativamente. Quando abriu a boca para pedir desculpas, foi interrompido por Netuno:
- Já sei o que vai falar. Vai pedir desculpas. Desculpas é tudo que os descompromissados sabem fazer. Fazer não, falar. Gente sem compromisso é bom de lábia, porém, incapaz de agir com decência.
- Está me dizendo que ajo com indecência? Questionou Fofura assustado e ao mesmo tempo recriminando Netuno com um olhar insatisfeito.
- Ah! Está insatisfeito comigo? Está insatisfeito com as verdades que lhe digo? Ou está insatisfeito consigo mesmo? Inqueriu Netuno.
- Na qualidade de Deus, o senhor deveria me ajudar e não ficar aí me acusando. Recriminou novamente Fofura.
Netuno deu uma estridente risada rachando alguns corais mais frágeis próximos a eles.
- Ah, é! Eu é que deveria estar fazendo alguma coisa por você... E, o que cabe a você fazer por si mesmo? Não estou cobrando de você fazer pelo nosso mundo. Isto seria demais para você agora!  No momento, estou cobrando de você fazer apenas por si mesmo, pelo seu mundinho.  Mas, nem pelo seu mundo pequeno você se compromete, sua baleia egocêntrica. Repreendeu Netuno.
- Egocêntrica? O que é isto? Perguntou Fofura franzindo a testa.
- Egocêntrico é aquele ser que gira apenas em torno dele mesmo. Não consegue ter compromisso com nada e nem mesmo com ninguém. Não tem compromisso nem mesmo consigo próprio. Quer que o mundo tenha este compromisso por ele. Cobra do mundo o que deveria cobrar de si mesmo. Não faz e quer receber. Quer ter direitos; deveres jamais. Rompe acordos e não deseja pagar por isto.  Explicou pausadamente o grande Deus.
- Mas, que acordo eu não venho cumprindo? Perguntou Fofura querendo passar um ar de ingenuidade.
- Muitos! Centenas deles. Pare de fingir ingenuidade!  Voce sabe muito bem o que está deixando de fazer. Esta carinha de ingênuo só engana a si mesmo, à mim, jamais!
- Mas, eu... Antes que pudesse continuar, o grande Deus retomou o assunto.
- Mas, eu o que? Pare de  buscar desculpas esfarrapadas para seus gestos irresponsáveis. Aliás, o que os seres sem compromisso mais possuem são desculpas esfarrapadas. Sempre arranjam desculpas para justificar o que não tem justificativa e negar seu vergonhoso egocentrismo. Suas justificativas atuam como uma burca para esconder uma face vergonhosa que nem mesmo eles dão conta de olhar e conviver.
- Poxa! Voce está pegando pesado demais comigo, grande Deus. Reclamou Fofura com os olhos lacrimejando.
- Pesado está você! Daqui uns tempos, você não se meche mais. Não tem compromisso com seu corpo e nem com sua própria vida. Diga lá, com os seus amigos, familiares e outros seres que cruzam o seu caminho.
- Por favor, me diga então o que devo fazer. Implorou Fofura.
- Não vou lhe dizer nada! Como já disse anteriormente, o maior defeito dos descompromissados é perguntar o que fazer ao invés de fazer o que deve ser feito. Voce sabe muito bem o que fazer. O acordo já foi firmado. Voce, simplesmente, não anda cumprindo o seu dever. Quer direitos, direitos, direitos... E, não faz nada direito. Se quer saber de alguma coisa agora, pergunte para sua consciência. E, por hoje, a nossa sessão acabou! Finalizou Netuno.
Tuba, boquiaberto ouvia tudo atentamente. Sem dar uma palavra, pegou novamente o amigo pelas nadadeiras retirando-o dos aposentos do grande Deus. Levou Fofura para a praça de corais mais próxima, recostaram-se sobre uma linda rocha para refletir sobre o resultado do encontro. Fofura, ainda insatisfeito e exalando irritação, resolveu usar o amigo Tuba para tecer as suas viciantes justificativas de “meia tigela”. 
- Netuno é muito radical! Não entende nada que se passa comigo e com ninguém. Voce não tinha que me trazer aqui! Voce é culpado por eu estar agora mais insatisfeito ainda. Se fosse meu amigo, teria me defendido frente as sérias acusações que aquele Deus de araque me ofertou.
Tuba não acreditou no que acabara de ouvir.  Ficou ainda mais perplexo com o amigo. Comprometendo-se com a saúde e felicidade do mesmo, acabou recebendo de volta sua ira ao invés de sua gratidão. Tuba compreendeu que seres egocêntricos e sem compromisso jamais conseguirão olhar para o outro. Olham apenas para si mesmo e mesmo assim não conseguem se enxergar. Enxergam apenas a ilusão daquilo que julgam ser. Compreendeu que o único compromisso que Fofura possuía era com a mal que lhe habitava; por isso, conseguia fazer tão bem o mal a si mesmo. Bateu nas costas do amigo e falou pesarosamente:
- Sinto muito! Muito mesmo! O meu compromisso com você acaba aqui. Não existe compromisso unilateral. Talvez, esta seja a mensagem mais importante que o grande Deus Netuno lhe passou. Não temos como exigir de Deus, dos amigos, familiares, enfim do mundo aquilo que não fazemos por nós mesmos. Não vou desejar a você que fique com Deus, pois você só dá conta de ficar consigo mesmo e com este mal que lhe habita. Deixe-me afastar antes que este seu mal me atinja também. Meu grande amigo Fofura, de Fofura não tem mais nada. Só vejo dureza; e Dureza será seu nome daqui para frente.
Tuba partiu sem olhar para trás e Fofura ficou ali, parado e duro, à espera de algo que ninguém jamais faria por ele. O tempo passou e ninguém mais e lembrou da existência de Fofura. Ficou esquecido; simplesmente, esquecido. Esquecido, primeiro, por ele mesmo e depois pelo resto. A única lembrança que restou foi de uma baleia chamada Dureza. De tão dura que era virou uma pedra. Esta pedra,  no centro de uma praça, se transformou num altar  onde milhares de peixes vinham ofertar suas oferendas pelas promessas  realizadas. Dizem que o Deus Netuno é capaz de perdoar tudo, menos uma promessa não cumprida. E, como a palavra compromisso provem de “com promessa”, todo ser sem compromisso,  parecido com Fofura, acaba um dia virando pedra – pedra que machuca ou pedra no sapato da gente. E, para não se machucar com esta perigosa e desconfortante pedra, melhor atira-la para bem longe da gente.


Espaço de reflexão


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3
4
5
6
7
8
9
10

Sua saúde












Seus sonhos












Sua família












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Seus filhos












Seu trabalho












Sua comunidade












Sua consciência












 O Planeta












Seu lazer












Seus estudos












Amigos












Seus projetos












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Suas finanças












Pessoas comprometidas com voce












Sua missão

























OBS: Notas abaixo de 6 indicam falta de compromisso


DESAFIO


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