QUERO SUPORTAR A SUA AUSÊNCIA
FICAR FELIZ COM A SUA FELICIDADE
DESAPROPRIANDO A POSSE QUE TENHO DE TI.
A ILUSÃO DE SER
SEU DONO
TORNOU-ME, MISERAVELMENTE, SEU ESCRAVO.
ACORRENTADO AO MEDO DE PERDÊ-LO
PERDI A MIM;
ENCONTRO-ME, NA LIBERDADE
DE PODER CONCEDER A TI
O QUE DEVO A MIM.
INTEIRO,
NÃO ROUBAREI DE TI
O QUE A FONTE DE MINHAS CARÊNCIAS
ME FEZ PENSAR FALTAR EM MIM.
QUERO TER TUDO QUE TENHO,
TER EM MIM O SENTIDO DE SER;
SER ABUNDANTE
PARA NÃO PRECISAR JAMAIS
SER UM DÉSPOTA DE SEU SER.
O NÓ DO CIÚME
E DA INVEJA
O que Azélia
mais queria é não sentir ciúmes, no entanto, foi criada para reproduzir o
comportamento possessivo de pais ciumentos, manipuladores e controladores. Com
isso, aprendeu a ser também uma mãe possessiva e ciumenta. Procurou-me numa
tentativa de ajudar a filha, que também estava sendo educada para ser como ela,
possessiva e controladora. Não é à toa que a filha também se chamava Azélia, carinhosamente apelidada de Azelinha.
Azelinha aprendeu a somatizar, recurso comum a toda pessoa que necessita
expressar via corpo o que a alma não pode exprimir. Experimentava vários tipos
de sintomas, dentre eles, dores, desmaios, queda de pressão, problemas
digestivos dos mais variados, alergias, dentre outros. O corpo de Azelinha era
bem criativo para produzir sintomas, mas faltava a esta adolescente
criatividade para ser feliz. A mãe não tinha muito tempo para criar sintomas,
pois tinha que se dedicar ao trabalho para satisfazer as necessidades da
família e se sentir uma mulher de valor. Com a exceção de uma fissura anal que
precisou ser tratada via cirurgia, a personalidade controladora de Azélia
conseguia bloquear algumas doenças.
Inicialmente,
preocupada com os sintomas da filha, Azélia se fez forte e totalmente
comprometida a fazer de tudo para ajudá-la a se livrar dos mesmos. No entanto,
quando começou a compreender o significado dos mesmos, a mesma Azélia, forte e
comprometida, transformou-se numa mulher frágil, carente e sem forças.
Lentamente, o cenário foi mudando; os sintomas da filha já não tinham tanta
importância, o risco maior era o namorado da mesma que incomodava muito esta
mãe.
Azélia era
uma mulher que separou-se muito cedo do marido, tendo que incumbir-se da
difícil tarefa de educar três filhos. Azelinha, a filha mais nova, foi desde
bebê criada pelos avós para que a mãe
pudesse trabalhar e satisfazer as necessidades do lar. Apesar de receber
carinho e mimo em excesso dos mesmos, sofria de uma significativa carência
afetiva. Sua carência não se baseava numa falta de afeto, mas numa necessidade
compulsiva de atenção. Achava-se menos amada e injustiçada pela vida por ter sido
abandonada pelo pai. Aprendeu desde cedo a comparar-se com outras crianças que
tinham pais, mesmo que estes não fossem bons e tão presentes quanto seus avós e
sua mãe. Sabia que não possuía algo que as outras crianças tinham e cresceu
acreditando na sua suposta inferioridade. Só não pensava naquilo que tinha e as
outras crianças não. Azélia tinha muita raiva do marido por este tê-la
abandonado e Azelinha aprendeu a ter a mesma raiva. Recusava-se a receber o
afeto do pai quando este tentava se aproximar. Agindo assim, se sentia cada vez
mais carente e com fortes motivos para reforçar a sua posição de vítima perante
o mesmo e mantê-lo na posição de vilão. Azélia, Azelinha e os outros filhos foram,
no passado, trocados por uma outra mulher que conquistou o coração do pai
tornando-o chefe de uma outra família.
Assim, a chefe de família passou a ser a mãe, o que a deixava satisfeita, mesmo
sem saber conscientemente disto, pois, ser chefe de alguma coisa era mais um
reforço para a sua auto-estima. Aliás, com seu trabalho compulsivo, Azélia
conseguiu também tornar-se chefe do
setor onde trabalhava. Como poderia trabalhar menos e correr o risco de perder
a posição de chefia? Com isso, tinha cada vez menos tempo para os filhos; ainda
assim, se desdobrava para estar sempre presente na vida dos mesmos. No entanto,
Azelinha se sentia cada vez mais carente e necessitada de afeto. Ela só
prestava atenção nos horários que a mãe não estava em casa, nunca nos horários
que a mãe tinha disponibilidade para ela. Aliás, só percebia as críticas que
recebia, jamais os elogios. Estava sempre focada em suas faltas. Consequentemente,
sentia-se cada vez menos amada por todos. Era insaciável por afeto. Conseguiu arranjar um namorado controlador
que necessitava de uma personalidade dependente para exercer a sua manipulação.
Formou-se aí o par perfeito; a dependência mútua necessária para a infelicidade
desejada. Infelicidade era o que mais precisava para se manter vítima e
continuar chamando a atenção de todos. A relação era demarcada por muitas
brigas, mas satisfazia as necessidades inconscientes de ambos. Azélia,
preocupada com a relação dependente da filha, levava o assunto do namorado a
quase todas as sessões. Tinha muito medo que a filha reproduzisse a sua
história de vida com o marido. Esquecera, entretanto, que dera a filha o mesmo
nome e que desejava, inconscientemente, que esta fosse a sua obra mais parecida
consigo mesma. Queria que a filha adotasse uma posição que não dera conta de
tomar frente o marido no passado. Mas, Azelinha não fora educada para ser
ativa, independente e segura. Cada passo que dava era monitorado pelos avós e
pela mãe. A mãe se sentia, inclusive, na obrigação de dar satisfações de cada
passo da filha aos avós quando estes não pudessem estar por perto para
vigia-la. A mãe não possuía um estilo próprio de educar. Seguia as regras dos
pais. Era mais seguro, pois se alguma coisa desse errado com a filha, como deu
consigo própria, a responsabilidade não seria sua.
Azélia não
era uma mulher madura capaz de assumir a própria vida. Dentro de si morava
ainda uma criança assustada que os pais não deixaram crescer. Fazia o mesmo com
a filha. Presa e vigiada, sem movimentação própria, Azelinha se sentia muito
infeliz. O que resta para uma pessoa aprisionada? Para Azelinha restava o namorado
e este lhe bastava, pois não conhecia outros prazeres na vida. Como Azélia não
conseguiu crescer e se tornar uma mulher de fato, nunca arranjava um namorado.
O pai de Azélia não aceitava rivais. Queria um arem só para ele. A mulher, a
filha e a neta faziam parte deste arem. Certamente, o avô ganhou a disputa com
o marido da filha e agora a filha Azélia queria ganhar a disputa com o namorado
de Azelinha. Morria de ciúmes dele, mas não admitia este sentimento. Dizia que
desejava apenas livrar a filha desta dependência perigosa, como de fato era.
Mas, todo sentimento acaba falando mais alto; nada fica encoberto para sempre
por melhores que sejam as nossas estratégias. Assim, numa de suas sessões
terapêuticas, Azélia soltou seu lamento infantil: “Como ela pode gostar mais do
namorado do que de mim?”A criança que habitava Azélia não entendia que a filha
Azelinha tinha crescido e desejava no fundo de sua alma se tornar uma mulher.
Não entendia que os sentimentos que uma
filha possui por um namorado não são nem maiores e nem menores do que os
sentimentos que se tem pela mãe, são apenas diferentes. Não entendia também,
que a necessidade de Azelinha por sua companhia diminuiria naturalmente com a
idade, já que não é saudável um filho ser dependente dos pais para sempre.
Dificultar o relacionamento da filha com o namorado era uma forma de prejudicar
a relação dos mesmos e quem sabe, trazer a filha de volta provocando,
indiretamente, um rompimento. Assim, a mãe dificilmente permitia a filha se
encontrar com o namorado e ficar a sós com o mesmo. Existia sempre um terceiro
por perto para vigiar. Azelinha ficava muito brava com isto, e a relação dela
com a mãe se deteriorava cada vez mais.
Cumpria-se, dia após dia, o famoso ditado — “o feitiço virou contra o
feiticeiro”.
E os outros
filhos de Azélia, não existem nesta história? Existem, no entanto, não faziam
parte deste jogo. Estavam salvos, vivendo uma vida independente por fora e
repleta de alegrias. Não se importavam com os padrões dos avós e da mãe. Não
conseguiam ser controlados ficando fora do jogo. Eram muito invejados por
Azelinha que se julgava menos amada do que eles pela mãe, embora esta lhe
dirigisse o olhar a maior parte de seu tempo. Invejava a independência, a
alegria dos irmãos, pois isto era uma coisa distante, desconhecida, porém lá no
fundo, demasiadamente, desejada pela sua alma.
Hoje, Azélia
tomou consciência de toda trama acima mencionada. Está de namorado novo e
permitiu-se, aos 45 anos, não namorar mais escondido dos pais. Tem buscado sua
independência emocional e maneirou bastante no trabalho. Não é tão importante
mais ser a chefe de um setor; está mais preocupada em chefiar a própria vida.
Não manipula mais a filha; optou por orienta-la. Sabe que jamais conseguirá
evitar que a filha dê suas cabeçadas pela vida tratando-a como uma eterna
criança. Sabe que até os adultos dão as suas cabeçadas. Consegue, hoje, ser mãe de uma adolescente e curte este novo jeito
de ser mãe. Sabe que tem muito trabalho pela frente e tem se dedicado muito.
Quanto a Azelinha, só as mudanças da mãe foram suficientes para que começasse a
operar as suas próprias.
Ter ciúme e inveja é humano, mas alimentar a frequência
destes sentimentos é burrice ou, no mínimo, uma atitude sadomasoquista. O
invejoso e o ciumento além de sofrer acabam provocando sofrimento no outro e se
compraz com isto. O desejo de manipular os sentimentos e a vida do outro
caracteriza o jogo mais apreciado por eles. O compromisso com o crescimento
pessoal perde a força todas as vezes que se sente ameaçado de perder o objeto
de seu desejo. Aprisionado por um comportamento infantil caracterizado por um
egocentrismo acentuado, faz do outro seu brinquedo favorito. Nem sempre possui
a consciência de estar usando este outro ao seu bel prazer. A sua imaturidade
afetiva encontra razões para aniquilar a individualidade do outro. O principal
papel deste, na perspectiva egocêntrica do ciumento e invejoso, é satisfazer os
seus próprios desejos. Assim, a felicidade do outro só é legitimada por ele se
puder estar junto e usufruí-la. Caso contrário, o prazer é proibido ao outro.
Temos aí, o exemplo típico de um adulto que não cresceu. É comum vermos
crianças dando acesso de birras para fazer valer o seu desejo. É tão comum, por
incrível que pareça, vermos adultos fazendo o mesmo.
Não precisamos, necessariamente, de más companhias
para aprendermos o mal comportamento. O local mais comum para aprendermos o que
deveríamos desaprender é dentro da própria família. Há pais maduros que colocam
limites aos filhos com a consciente intenção de educá-los. Os limites dão a
estes a consciência do território delimitado que pertence ao outro e que
precisa ser respeitado. No entanto, há também, crianças educando crianças. Há
inúmeros exemplos de pais infantis. Pais que ensinam a seus filhos serem
ciumentos, invejosos e manipuladores, pois vibram nestes sentimentos. O filho
irá expressar a energia que absorveu. Pais que não conseguem exercer a sua
autoridade sem autoritarismo, ensinando os filhos a enxergarem apenas o próprio
umbigo. Pais que comparam um filho com o outro ou com colegas, fazendo nascer
aí sentimentos de menos valia que criarão terreno fértil para o ciúme e inveja.
Pais que depreciam o sucesso e as conquistas do próximo, deseducando a criança
a admirar. Sem admiração, restará a inveja. Pais que alimentam a dependência do
filho por medo da solidão, pois um filho dependente estará sempre próximo. Pais
que não sabem dividir e brigam entre si competindo o afeto do filho. A criança
acaba por se sentir culpada por desejar a companhia de um ou outro, ou por
manifestar uma identificação maior por um dos genitores. Aprende que deve amar
apenas um deles e à partir daí começa a construir um conceito errado do que vem
ser o amor. Este amor que lhe foi
ensinado passa a vir sempre acompanhado de muita dor. Pais que não possuem
limites e que jamais conseguirão
repassar aos filhos a noção destes. Sem limites, a criança estará sempre
invadindo o território do outro, querendo tirar deste tudo aquilo que não
encontra no seu próprio território; atitude típica de pessoas invejosas. E,
assim, um padrão doentio de comportamento vai sendo repassado de geração a
geração, como por exemplo, na história de Azélia. Neta, filha e avós
compadeciam da mesma doença, pois compartilhavam o mesmo padrão comportamental.
Como o sábio mestre Jesus disse: “Os filhos pagarão pelos pecados dos pais”. Pecado
não é nada mais, nada menos do que aquilo que perverte a nossa alma, ou seja,
as doenças e todo mal que nos impedem de sermos criaturas plenas. No entanto,
os padrões doentios de relacionamento não se restringem à família, mas também
ao grupo de amigos, colegas de trabalho ou qualquer tipo de relacionamento
afetivo que tivermos ao longo de nossa vida. Brigas e conflitos é o saldo final
de todo relacionamento contaminado por sentimentos doentios.
A quem diga que quem ama sente ciúmes. Na verdade, quem
sente ciúme não está amando. No momento que o ciúme entra em cena, o amor sai.
Ambos não conseguem contracenar juntos. O amor exige respeito às necessidades
do outro e o ciúme exige a obediência do outro aos nossos desejos mais
infantis. O ciumento e invejoso são extremamente possessivos. A eles não basta
a própria vida, pois desta conhecem muito pouco. Conhecendo pouco de si, querem
roubar do outro o que ele tem de melhor, pois as suas próprias riquezas não
foram ainda descobertas. Seu olhar está sempre voltado para aquilo que o outro
tem e não para aquilo que ele próprio tem de melhor. O ciumento quer a atenção
só para si. Precisa da apreciação total do outro para que se sinta valorizado,
pois, não aprendeu a se valorizar. Pode ter sido na infância uma criança que
sofreu comparações ou rejeições significativas. Desenvolveu uma personalidade
dependente, seja ele, a vítima ou o vilão do relacionamento. O vilão, por mais
poderoso que possa parecer, depende de uma vítima que aceite seus desmandos e
vice versa.
Uma pessoa saudável, por mais que viva momentos em que
seja tomada pelo ciúme ou pela inveja, conscientizará de seu sofrimento e do
sofrimento que, por ventura, estiver causando ao outro. Possui uma inteligência
emocional que não lhe permite persistir na doença. Estará travando, bravamente,
uma luta no sentido de dominar e vencer a si mesma e não ao outro. Caso você
não tenha ainda desenvolvido uma inteligência que lhe permita ser uma pessoa
saudável, vale à pena investir no seu crescimento e amadurecimento pessoal.
Procure ajuda!
Quando você aprecia uma rosa, o que você vê nela?
Provavelmente, muita beleza e harmonia. Quando você se aprecia, o que vê em si
mesmo? Aliás, você se aprecia ou gasta seu tempo depreciando quem lhe incomoda?
Será que existem muitas margaridas em sua vida? Preste atenção na história da
Rosa, pois ela pode lhe dizer e ensinar muita coisa a respeito.
A DOENÇA DA ROSA
Dizem que,
num lindo jardim sempre habitado pela harmonia, a rosa adoeceu repentinamente.
Nenhuma flor entendia o jeito novo e estranho da mesma. Sempre viçosa, aberta e
vibrante passou a ficar, dia a dia, cada
vez mais murcha, fechada e sem vida. “Que doença era aquela que acometera a
rosa repentinamente”? Até então, nenhuma flor jamais ouvira falar de uma doença
tão grave. Como curar a rosa se ninguém entendia o motivo de sua doença?
Preocupados, resolveram marcar uma consulta com o Dr Sol, o iluminado curador
de todas as flores. Ele possuía uma sabedoria infinita capaz de curar todos os
males. Tocando, graciosamente, a rosa com seus raios luminosos, o sol
perguntou:
—O que
aconteceu, linda rosa?
—Nada não –
respondeu, rispidamente, a rosa.
O sol achou
muito esquisito aquele jeito novo da rosa. A sua doçura foi transformada, sem
motivo aparente, em uma rispidez acentuada. Tentando envolve-la carinhosamente,
questionou a sua indelicada resposta.
—Se não tens
nada, porque estás tão brava?
—Eu tenho o
meus motivos...
—Que tal falarmos deles? Talvez, eu possa ajuda-la.
—Tudo bem!
Respondeu grosseiramente. O meu problema são as Margaridas.
—Engraçado,
nunca nenhuma flor aqui representou um problema para a outra. Vocês sempre
viveram tão felizes.
Antes que o
sol pudesse continuar foi interrompido, ironicamente, pela rosa.
—Disse bem!
Vi-ve-ram. Mas, não vivemos mais.
—Não é bem
assim. Todos continuam vivendo bem, só você não consegue mais viver feliz. Se
mudar este sentimento ruim dentro de você, com certeza recuperará a sua
felicidade.
—Só se as
Margaridas morressem, eu conseguiria me sentir bem.
Apesar de
estarrecido, o Sol entendeu rapidamente o sentimento da Rosa, mas, decerto, ela
não compreendia o que estava se passando consigo mesma. O grande astro sabia
que tinha um grande trabalho pela frente. Só à partir do momento que a Rosa se
tornasse capaz de compreender o real motivo deste ódio que a dominava, seria
capaz de se salvar e se curar definitivamente. Sem censurá-la continuou
indagando-a:
—Por que
motivo as Margaridas deveriam morrer?
—Porque elas
atrapalham a minha vida. Respondeu, egocentricamente, a Rosa.
—Engraçado,
nunca reparei o quanto as Margaridas atrapalham a sua vida. Sempre as vejo no
canto delas, juntas, felizes da vida, sem se preocuparem com nada.
—Você é quem
pensa! Elas andam bem preocupadas em seduzir o meu amor. Outro dia o peguei
irradiante, admirando-as.
—Que mal
existe em admirar e ser admirado? Você sempre foi tão admirada e nunca se
ressentiu disto.
—Uma coisa é
ser admirada, outra coisa é ser menos amada por seu amor por ele ter descoberto
outra flor mais bela.
—Ele te disse
que passou a te amar menos por ter descoberto a beleza das Margaridas?
—Não, mas é
um risco. Você não acha?
—Você
deixaria de amá-lo caso passasse a admirar as Margaridas?
—Eu, admirar
Margaridas? Era só o que faltava! Muitas flores podem até achá-las bonitinhas,
mas aquelas pétalas finas... Que mal gosto! Fique sabendo que eu jamais vou
admirar as Margaridas.
—Isso é muito
sério. Disse o Sol com firmeza. Isso pode ser o seu fim. Continuou, olhando no
fundo dos olhos da Rosa.
—O meu fim?
Como assim ? Perguntou a Rosa preocupada.
—Se você não
conseguir admirar as Margaridas, passará a se sentir cada vez mais feia e sem
vida.
—Se o remédio
é admiração, admirar a mim mesma não basta? Saiba que me acho muito mais linda.
Minhas pétalas são mais largas, minha haste mais firme. Não tem comparação!
—Comparação.
Preste bem atenção nesta palavra. A sua doença se chama com-pa-ra-ção. Você
está doente de comparação.
—Eu, doente?
Eu estou muito bem.
—Mas você
acabou, agora pouco, de falar que só ficaria bem se as Margaridas morressem?
—Decerto,
seria menos um peso para mim. Admitiu a Rosa.
—Atente-se ao
que vou lhe falar. A noite está chegando e eu tenho que repousar. O Horizonte
me espera, não dá para ficar mais tempo com você, embora eu saiba que você
precisará de algum tempo para digerir e vivenciar tudo que irei lhe explicar.
Qualquer dúvida, peça ajuda para a lua, hoje ela estará linda. Aliás, poderei
usá-la como exemplo para que você compreenda melhor esta importante lição de
vida.
—Que lição?
Perguntou a Rosa mesclando dúvida com ansiedade.
—Eu ilumino o
dia e a lua ilumina a noite. Temos o nosso valor e a nossa beleza. Temos o
nosso lugar e a importância certa mediante o lugar que ocupamos. Sei que todas
as flores deste jardim admiram as noites de luar.
—São lindas
mesmo!
—Nem por isso
eu desejo que a lua morra para que eu me sinta melhor do que sou. Tenho a minha
própria importância. Sei o quanto sou importante para cada um de vocês.
Indispensável, eu diria.
Indispensável, eu diria.
—E daí?
Ironizou a Rosa.— O que tudo isto tem haver com a minha doença?
—Ter certeza
da nossa importância e valorizar a importância de todos que nos cercam é o
passo mais importante na conquista da nossa felicidade e na eliminação do ciúme
e da inveja que nascem assim que começamos a gestar as desagradáveis
comparações dentro da gente.
—Ciúme,
inveja... Que sentimentos são estes? Nunca ouvi falar deles.
—Mas está
começando a sentir. Ciúme é esta necessidade maluca de ser o centro das
atenções na vida do outro, querendo assim que este só tenha olhos para você. Se
não tivéssemos que admirar a beleza do mundo e dos outros, nasceríamos cegos.
Alguns até fingem não enxergar para não despertar este sentimento naqueles que
se sentem inferiores, evitando assim, desagradáveis conflitos. Os que possuem
visão e não enxergam são os piores cegos.
—Você quer
dizer com isso que o meu amor é um ser agraciado por Deus com a dádiva de
enxergar a beleza do mundo e não alguém que está traindo o amor que sinto por
ele?
—Isto mesmo,
Rosa! A nossa felicidade sempre dependerá do nosso ponto de vista. Procure
enxergar as coisas do jeito que elas são de fato, e não da forma como a sua
parte doente gostaria que fosse.
—E como a
parte doente que está em mim gostaria que as coisas fossem? Perguntou,
humildemente, a Rosa mudando sua feição frente a abertura aos novos
aprendizados.
—A parte que
adoeceu em você está exalando ciúme e inveja. Esta parte gostaria que o mundo
girasse em torno de você e que, dentre todas as rosas e flores do mundo, você
fosse a mais bela e a única a ser apreciada por todos.
A Rosa foi
ficando mais vermelha do que era, exalando muita vergonha. Aquele sentimento
novo que tomou conta de seu ser, sem que se apercebesse, era um sentimento ruim;
gostaria de se livrar dele rapidamente. Mas de posse dele, parecia estar
aprisionada e sem saída para o mundo encantado que vivia antes. Impotente, começou
a chorar.
—Me diga, por
favor! O que devo fazer para livrar-me desta doença?
—Admitir que
é vítima dela já é o primeiro passo. No entanto, não poderá continuar como
vítima. Deverá se responsabilizar por sua vida sabendo que possui dentro de si
todos os recursos para se livrar dela. Basta usa-los. Lembre-se que você era
uma rosa saudável e procure seguir o seu próprio exemplo de vida anterior,
livre de comparações e deste sentimento de menos valia que se apoderou de você.
—Sinto
vergonha de ter invejado as Margaridas e, com isto, desejado tanto mal a elas.
Lamentou a Rosa.
—Quem inveja
jamais deseja o bem para o ser invejado, pois deseja para si os atributos
daquele ser que não possui. É como se o ser invejoso quisesse reter em si mesmo
toda a beleza e todo o poder do mundo. Ilusoriamente, desejam ser um Deus.
A Rosa
abaixou o olhar reprovando-se internamente. Queria se esconder de tanta
vergonha, mas na impossibilidade de esconder de si mesma e de todos, limitou-se
a ficar com seu olhar cabisbaixo por um longo tempo. Quando levantou seu olhar,
o sol já não estava lá, a noite a envolvia com uma linda lua cheia a brilhar
iluminando todo o jardim. Olhava para todas as flores e percebia a felicidade
em cada uma delas. Sentia-se mal com a felicidade delas e agora, não só as
Margaridas, mas todas as flores a incomodavam. Entretanto, o novo incômodo era
diferente; já não desejava mal a elas, mas não conseguia ainda admirar aquela
beleza que reinava no jardim que fazia parte. Sentia que nenhuma flor dali se
importava com ela, estavam todas felizes e ela ali, triste e doente.
Desanimada, pensou alto olhando para a lua que iluminava tudo e a todos:
—Agora, não
tenho nem mesmo a companhia do sol...
—Mas tem a
minha companhia. Interviu a lua irradiante.— A minha companhia não serve?
—Serviria,
mas você desconhece o meu problema e não tem como me ajudar.
—Mas posso
conhecê-lo se você permitir. Estou disponível a ajudá-la, caso queira, é claro.
Disponibilizou-se a Lua.
—Até quero,
mas me dá uma preguiça ter que falar tudo de novo.
—Você não
precisa falar tudo, comece por onde você terminou.
—E você
entenderia se eu começasse do final?
—Que bom! Se
você já está no final é porque seu problema já está resolvido.
—Quem me
dera! Apenas entendi o que sinto, mas não consegui ainda mudar o sentimento
dentro de mim. É como se eu tivesse mudado na cabeça e não o tivesse ainda
arrancado do coração.
—Talvez seja
o contrário. Certamente, você já o tirou do coração, mas mantêm o problema vivo na sua mente.
—Sei lá, só
sei que o sentimento de ciúme e inveja ainda estão dentro de mim.
—Quer dizer
que você sente ciúme e inveja?
—Acho que não
sinto mais nada. Olho para tudo e para todos e não vejo mais a beleza; sinto
apenas um incômodo, que nem sei bem como explicar.
—Este
incômodo é certamente o vazio que tomou conta de você.
—Acho que é
isto mesmo! Me sinto vazia. Como você pôde descobrir se nem conhece todo meu
problema?
—Os
sentimentos são governados por algumas leis. O ciumento e o invejoso está
sempre vazio e deseja, inicialmente, preencher este vazio com aquilo que o
outro tem. Sentem muita raiva enquanto lutam para tomar do outro o que não lhes
pertence e o que jamais conseguirão roubar. Quando se dão conta da impotência
para mudar o que não pode ser mudado, são acometidos por uma grande tristeza e
desânimo. Tomados pela depressão, se afundam, dia após dia, cada vez mais, neste vazio sem fundo.
—Preciso de
ajuda! Você tem como me tirar deste buraco fundo que caí? Suplicou a rosa
desesperada e com muito medo de permanece,r infinitamente, neste inferno que a
aprisionava.
—Infelizmente
não posso fazer por você o que só você pode fazer por si mesma. Comece por
olhar para si. Admire-se! Veja primeiro quanta beleza existe dentro de você
para que depois possa, finalmente, admirar a beleza que existe no outro. No
entanto, muito cuidado! Admire-se sem comparações.
Lembrando-se
das últimas palavras do Sol a Rosa confabulou:
—O Sol me
disse que talvez eu quisesse ser um Deus, habitar apenas em mim toda a beleza
do mundo. Acho que ele tem razão. A minha própria beleza tem que me satisfazer.
Estou sendo insaciável.
—Decerto! Nem
Deus quis a beleza do mundo só para ele. Por isso se dividiu em todos os seres
do mundo e deu para cada um deles parte de sua beleza. E há quem queira ser mais
que Deus, ao invés de ser Uno; ser individualista e garantir a beleza só para
si.
—Acho que o
que sinto é coisa do diabo! Inferiu a Rosa com seus miolos já quentes de tanto
pensar numa saída para seus problemas.
—A escolha é
sua. Se desejar ser mais divina, deverá descobrir a divindade dentro de si
mesma. Feita esta descoberta, você exalará o sentimento divino de querer também
se dividir, se multiplicar. Estará aberta a dar e receber, pois verá riqueza em
tudo que lhe rodeia.
—Temo não ter
muito tempo para isto mais. Depois desta conversa, já consigo sentir a mudança
operando dentro de mim, só não sei se terei tempo para vivenciá-la.
—O tempo é
muito relativo. Não poderei viver mais esta noite, mas por certo, muitas outras
virão. Talvez eu não possa mais encontrar com você tal qual se encontra hoje,
pois o mundo gira, minha cara. Mas, encontrarei uma outra flor; diferente, mas
com a tua alma.
A Rosa
entendeu o recado da lua deixando duas gotas de orvalho caíram de suas pétalas.
A lua me contou que nunca mais encontrou aquela Rosa invejosa e cimenta naquela
roseira, mas a encontrou linda, feliz e viçosa em vários pontos daquele mesmo
jardim e em centenas de outros. Fiquei, por algum tempo, sem entender como ela
pôde se dividir e multiplicar ao mesmo tempo, mas, outro dia, lembrando-me de
uma frase divina que diz mais ou menos assim – “Sede fecundos, multiplicai-vos”
– deduzi, finalmente, o final desta história. Espero que você seja capaz de
deduzir também.
ESPAÇO DE
REFLEXÃO
Se você anda apresentando um dos sintomas abaixo,
cuidado, pois o ciúme e a inveja podem estar começando a tomar conta de você.
( ) Fico me
comparando com os outros
( ) As pessoas
me comparam e me sinto mal com isto
( ) Fico
incomodado com aquilo que o outro tem e eu não
( ) Sempre
procuro um defeito no outro
( ) O fracasso
do outro me provoca um certo alívio e prazer
( ) O sucesso
do outro me incomoda
( ) O amor me
faz sofrer
( ) Quero ser o
centro das atenções
( ) Sempre acho
que ganho menos que o outro
( ) Acho que
gostam mais do outro do que de mim
( ) Não gosto
que o meu parceiro(a) admire outra pessoa
( )Acho que sou
um injustiçado
( ) Fico bravo
quando não fazem o que quero
( ) Me acho
pior que todo mundo ou que alguém especificamente
( ) Quando não
sou bajulado, me sinto ofendido
( ) Sou viciado
em elogio
( ) Quero estar
à frente de todos
( ) Estou
sempre avaliando todo mundo
(
) Me sinto avaliado o tempo todo
( ) Acho que o
outro não dá valor para aquilo que faço
( ) Sou
dependente de afeto, sofro diante da mínima falta do mesmo.
(
) Só suporto a felicidade do outro se eu estiver por perto para
usufruí-la também
(
) Controlo ou desejo controlar cada passo do outro
( )
Quero para mim o que é do outro
( ) Não consigo
admirar ninguém, nem a mim mesmo
( ) Fico
incomodado com tudo aquilo que não é perfeito em mim
( ) Sou
possessivo
( ) As minhas
carências tornam severas as minhas exigências para com o outro
( ) O meu olhar
sempre se dirige para a mesma direção; especialmente para as minhas faltas
( ) Dou muita
importância às aparências
( ) Quero
mostrar mais do que sou e que tenho de fato
DESAFIO
Procure 5 qualidades em alguém que voce inveja ou
possui muito ciúme. Procure identificar se lhe falta estas virtudes ou se voce
se sente ameaçado e diminuído diante delas.
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